Elas passaram por 24 países — Estados Unidos, Canadá, México, Japão, Coreia do Sul, China, Cingapura, Malásia, Austrália, Nova Zelândia, Brasil, Chile, Cuba, Alemanha, Noruega, Portugal, França, Rússia, Líbano, Jordânia, Israel, Índia, Quênia e Ruanda — e colheram informações para o livro “Do jeito delas”. Foram mais de 300 empreendedoras entrevistadas em 15 meses.

Nas viagens, elas encontraram programas e políticas bastante focadas no empreendedorismo feminino em países como Chile, Noruega, Líbano, Portugal, França e Ruanda.

Além disso, o jargão “uma puxa a outra” foi observado em diversas nações. Há diversas iniciativas lideradas por mulheres investindo em outras mulheres, estimulando, assim, a abertura de negócios.

A suposta escolha vida pessoal versus desenvolvimento profissional sempre é colocada em xeque em diversos países, mesmo nos mais liberais.

— O machismo e a misoginia se mostram na dificuldade de levantar investimento, por exemplo. Os desafios são os mesmos: o que muda é o entorno e os recursos que estão à disposição. Em Amã, na Jordânia, há mulheres tão empoderadas quanto em um país ocidental — lembra Fernanda.

Documentário

O próximo passo é transformar todo o material em um documentário, que está em fase de edição. A ideia, diz Taciana, é que o resultado tenha alcance global para que mais pessoas possam ver como anda o empreendedorismo no mundo.

— Apoiar o empreendedorismo feminino é um dos melhores investimentos para um futuro próspero e mais equilibrado. Nenhum país pode se dar ao luxo de marginalizar metade da população — lembra Taciana.

Conheça abaixo algumas histórias:

 

México

Leticia, do México Foto: Divulgação
Leticia, do México Foto: Divulgação

 

Apesar de empreenderem na mesma proporção ou mais que os homens, a mulheres ainda se limitam aos setores menos produtivos e menos inovadores da economia. Leticia Jáuregui é fundadora da Comunidade de Empreendedoras Sociais, organização que desenvolve programas focados em mulheres que trabalham em áreas que não permitem um rápido crescimento, que trabalham com baixa margem de lucro ou que sejam artesãs e costureiras. Para modificar esta realidade, ela desenvolveu um programa que permite às mulheres buscar conhecimento e apoio pra estruturar o negócio e gerar renda e oportunidade de trabalho nas suas comunidades “As mulheres são o motor invisível da economia. Elas estão por aí há muito tempo, mas não são reconhecidas” .

Coreia do Sul

Misook Kang, da Coreia do Sul Foto: Divulgação
Misook Kang, da Coreia do Sul Foto: Divulgação

 

Fazer carreiras em grandes corporações é o sonho de consumo de dez entre dez coreanos. Uma vez casadas, as mulheres sofrem grande pressão para abdicar de ambições profissionais. Foi o caso de Misook Kang, cofundora da Abenecel, primeira startup no país a desenvolver um software que garante a otimização de imagens sem comprometer a resolução. A família não apoiou quando ela decidiu criar a empresa. A mãe torceu para que a iniciativa não desse certo, para que ela finamente pudesse casar. Misook pediu para fazer um intercâmbio e a resposta que ouviu da mãe é que não iria desperdiçar dinheiro com ela, já que casaria e abandonaria o trabalho, como se espera de uma mulher. “Eu não posso esperar a sociedade mudar. Eu vou ser a mudança que eu quero e a que precisamos”.

Cingapura

Rachel Lim, Cingapura Foto: Divulgação
Rachel Lim, Cingapura Foto: Divulgação

Está entre os 10 melhores lugares para as mulheres empreendedoras, segundo a pesquisa “The Global Startup Ecosystem Ranking”. Há dinheiro para empreendedorismo, mas o desafio é fazer com que o produto ou serviço consiga ir além das fronteiras de Cingapura e mostrar que a ideia pode alcançar o mercado chinês. Rachel Lim, da Love, Bonito, quer ser a maior plataforma de e-commerce para mulheres na Ásia. Ela começou com um blog de venda de roupas usadas na internet, que deu tão certo que ela decidiu deixar a faculdade para focar no negócio: a questão foi convencer os pais, já que a formação, por lá, é selo de qualidade.

Jordânia

Penélope Shibab, da Jordânia Foto: Divulgação
Penélope Shibab, da Jordânia Foto: Divulgação

Um país conservador e tradicional, em que as famílias preferem que as mulheres não trabalhem ou escolham empresas de grande porte. Nascida na Palestina, Penélope Shihab mudou-se para a Jordânia para estudar. Muçulmana, usa o véu e diz que nada atrapalha. Trabalhou em empresas e, em 2005, realizou o sonho de abrir a sua própria, que desenvolve produtos com base nos anticorpos dos camelos para combater acne e gastroenterite. Bem-sucedida , ela quer servir de modelo para as meninas da região. Ela admite que, no Oriente Médio, não é fácil as pessoas acreditarem em uma ideia e investirem dinheiro, ainda mais sendo mulher.

Chile

Komal Dadlani, do Chile Foto: Divulgação
Komal Dadlani, do Chile Foto: Divulgação

O país é o melhor classificado da América Latina em empreendedorismo feminino. E foi em um programa de empreendedorismo que a oportunidade surgiu para Komal Dadlani. Por estímulo dos amigos e sem pretensões, ela decidiu participar de um “Startup Weekend: Mude o mundo em 54 horas”. Com a proposta de democratizar o acesso à ciência, a ideia dela foi a escolhida e recebeu investimento de 40 mil dólares. Só que bateu a síndrome da impostora e ela decidiu devolver o dinheiro, mas a instituição não aceitou. Passados quatro anos, o Lab4U impactou 10 mil estudantes no Chile e tem pilotos no México e Republica Dominicana.

Cuba

Julia de La Rosa Foto: Divulgação
Julia de La Rosa Foto: Divulgação

 

Dados de 2014 mostram que 29% dos pequenos negócios foram fundados e liderados por mulheres. Uma delas é Julia de la Rosa, que criou o Rosa D’Ortega, bed & breakfast. Ela trabalhava no governo, no Ministério da Cultura, quando o apoio financeiro da antiga União Soviética cessou, e o país entrou em período crítico. Ela decidiu deixar o emprego e focar no turismo. Começou com três quartos, em 1997, e hoje são dez. Se achar que é pouco, lembre que há dificuldade de acesso à internet para prospectar hóspedes e o pagamento on-line é sonho distante. Ela diz que aprendeu a receber com os próprios hospedes, porque nunca ficou em um hotel.