A Caixa Cultural Brasília apresenta a  exposição Tomie Ohtake: Cor e Corpo, que traz para capital federal 40 gravuras, cinco pinturas e três esculturas da artista que é uma das grandes referências da arte abstrata brasileira. A mostra traça a história de Tomie, que produziu continuamente por mais de 60 anos e viveu 101 anos. A exposição estará em cartaz de 10 de janeiro a 04 de março na Caixa Cultural (Setor Bancário Sul, QD. 04).

A artista japonesa naturalizada brasileira chegou ao país aos 23 anos e iniciou sua carreira quase aos 40. Tomie Ohtake (1913-2015) recebeu 28 prêmios, participou de 20 bienais internacionais e mais 120 exposições individuais ao redor do mundo.

            De acordo com os curadores Carolina De Angelis e Paulo Miyada, os interesses pictóricos de Tomie Ohtake foram constantemente renovados ao longo de sua trajetória profissional. “A artista construiu um vocabulário plástico amplo e complexo. Forma, matéria e cor nunca foram pensadas por ela de modo dissociado, mas alternaram suas ênfases para se potencializar mutuamente”, afirmam. Eles acrescentam que o conjunto da obra é uma unidade coesa. Tomie Ohtake preferia sempre deixar suas obras sem título.

Embora suas obras sejam associadas ao informalismo por alguns, suas formas destacam-se por remeterem a elementos da natureza e a volumes que se assemelham a movimentos vivos. Desde as primeiras décadas, na sua produção abstrata, Tomie Ohtake impõe tremores, desvios e abaulamentos às formas geométricas, traçando contornos e silhuetas, evitando a rigidez. Outra característica é o uso das cores. “Desde meados da década de 1980, a artista imerge na intensidade de uma paleta cromática profunda, cheia de pretos, brancos e vermelhos saturados, intercalados com azuis, verdes e amarelos densos”, explicam os curadores.

Dentre as 40 gravuras – serigrafias, litografias e gravura em metal – é possível perceber mudanças sucessivas com o passar das décadas de produção de Tomie Ohtake. Há desde as mais antigas, em que o gesto da artista transparece nos contornos irregulares que traduzem os atos de rasgar papeis deixando rebarbas (como ela fazia em seus esboços); passando por aquelas que testam a combinação de cores ousadas, como se Tomie utilizasse tudo o que está à mão para reproduzir em série texturas antes possíveis apenas nas pinturas; chegando até aquelas em que há uma delicadeza programada do ato, linhas finas que se cruzam, que se sobrepõem e que se encontram sob (ou sobre) uma superfície aquosa.

Nas três imensas esculturas, delicadeza, manualidade e fluidez. Isso porque a forma como elas se equilibram no solo causam a sensação de estarem suspensas. Além disso, elas se movimentam quando alguém as toca. As estruturas metálicas são frutos de torções, dobras e voltas realizadas previamente pela mão da artista em pequena escala, depois transplantadas da maneira mais fiel possível em dimensão escultural.

As cinco pinturas enfatizam as analogias corpóreas e orgânicas. Feitas com procedimentos, cores e gestualidades diferentes, elas compartilham um apelo sensual ao olhar. Como conjunto, podem remeter a diferentes estágios de fecundação, multiplicação, nascimento e crescimento.

 

Arte que fala

Em Brasília e em vários cantos do país é fácil identificar as marcas, texturas e traços deixados por Tomie Ohtake. A exemplo, uma escultura em aço localizada na frente do hotel Royal Tulip Brasília Alvorada. Há, também, um painel que cobre a parede externa do edifício Number One. Em São Paulo, a Avenida Paulista é recheada de seus trabalhos. A artista conta com 27 obras públicas em esculturas a larga escala pelo Brasil, 28 prêmios pelo mundo, participação em 20 bienais internacionais e 120 exposições individuais.

Seu trabalho não se resume apenas a esculturas. Ela trabalhou com gravuras em metal, serigrafia, litogravura e pintura. Volume, movimento, delicadeza, uso de paletas de cores ousadas. O vermelho é um dos tons que se sobressai. Todos estes elementos dão sentido de multiplicidade para o abstracionismo de Ohtake.  Na exposição que chega a Brasília, será possível acompanhar toda esta versatilidade da artista ao longo dos anos.

Tomie Ohtake

Ela nasceu em Kyoto, no Japão, dia 21 de novembro de 1913, onde fez seus estudos. Em 1936 chegou ao Brasil para visitar um de seus cinco irmãos. Impedida de voltar, devido ao início da Guerra do Pacífico, acabou ficando no país. Casou-se, criou seus dois filhos, e com quase 40 anos começou a pintar incentivada pelo artista japonês Keiya Sugano.

A carreira atingiu plena efervescência a partir dos seus 50 anos, quando realizou mostras individuais e conquistou prêmios na maioria dos salões brasileiros.

Além da pintura, da gravura  e da escultura, marcam sua produção as mais de 30 obras públicas desenhadas na paisagem de várias cidades brasileiras.

Sobre o seu trabalho foram publicados dois livros, 20 catálogos e oito filmes/vídeos, entre os quais o realizado pelo cineasta Walter Salles Jr. Em São Paulo, dá nome a um vibrante centro cultural, o Instituto Tomie Ohtake.

Com seu reconhecimento, Tomie tornou-se uma espécie de embaixatriz das artes e da cultura no Brasil. Foi sempre convocada a receber grandes personalidades internacionais, como a Rainha Elizabeth, o Imperador, a Imperatriz e o Príncipe do Japão, o dançarino Kazuo Ohno, a coreógrafa Pina Bausch, a artista Yoko Ono, o escritor José Saramago, o encenador Robert Wilson, entre muitos outros.

Dos 100 aos 101 anos concebeu cerca de 30 pinturas. Até a sua morte em fevereiro de 2015, aos 101 anos, seguiu trabalhando.

Serviço

Artes Visuais: Tomie Ohtake: Cor e Corpo

Local: Caixa Cultural Brasília – Galeria Principal – (Setor Bancário Sul, QD 04)

Abertura: 09 de janeiro (terça-feira), às 19h

Visitação: 10 de janeiro a 04 de março de 2018