“Aquelas mulheres chegavam à Justiça buscando uma força externa como se somente nós, juízes, promotores e advogados, pudéssemos não apenas cessar aquele ciclo de violência, mas também lhes dar voz para reagir àquela violência invisível”. Capacitado a julgar com isonomia e imparcialidade, os juízes de direito exercem papel crucial na cadeia do poder judiciário. Mas, se engana quem pensa que o ser humano por trás da toga e munido de “poderes” não sente o peso do seu ofício como ser humano.
Imagine então uma juíza à frente do Juizado de Violência Doméstica, tendo de enfrentar, por mais de uma década, casos de agressão, chantagem, humilhação e ameaça. Essa foi a rotina da Juíza do TJDFT Dra. Rejane Suxberger quando escreveu “Invisíveis Marias: histórias além das quatro paredes”, livro que agora é reeditado, atualizado e ampliado pelo grupo Editorial Caravana e que terá seu evento de lançamento em Fortaleza, no dia 17 de novembro, durante uma Roda de Conversa sobre conscientização e prevenção à violência de gênero.
“Invisíveis Marias” revela as dores silenciadas de mulheres que buscaram na Justiça um amparo contra a violência. A obra, escrita em forma de contos, entrelaça realidade e ficção para dar voz às Marias que, dentro de casa, viveram aquilo que deveria ser amor, mas se tornou dor. Entre relatos de audiências e ecos de histórias reais, o livro expõe as marcas que não desaparecem com a sentença. Mais do que literatura, é denúncia, memória e resistência, um convite à reflexão sobre a violência invisível que atravessa lares e gerações.
“Eu tenho um enorme carinho por esse livro. Ele representa a superação de muitas dores transformadas em força e aprendizado. Cada etapa concluída reafirma a importância de dar voz às mulheres e suas histórias. Acredito que ele poderá servir como um alerta poderoso, mostrando que a violência muitas vezes começa de forma sutil. Espero que inspire outras mulheres a reconhecer sinais de abuso e buscar ajuda. Que sirva também de incentivo para romper o silêncio e acreditar em um recomeço possível.” – Rejane Suxberger, juíza e escritora
Ao longo de 10 mil processos examinados durante 10 anos, Rejane nunca teve a oportunidade de me deparar com uma vítima inteira. Todas se apresentavam dilaceradas não era apenas o físico, mas a alma dessas mulheres estava mortificada pelo julgamento que faziam de si mesmo. A sociedade, segundo a autora, se encarregava de desqualificar o resto.
As vítimas que protagonizam de forma indireta “Invisíveis Marias”, traziam consigo, ideias ultrapassadas de feminilidade e masculinidade como “justificativa” para os atos de violência. De um lado a mulher apresentada como coisa, propriedade tendo sua fala totalmente desqualificada; do outro lado, o agressor, fossem homens ou mulheres, se mostravam “injustiçados” pela Lei Maria da Penha, pois não era “bandidos”.
“Invisíveis Marias: histórias além das quatro paredes” traz relatos de sofrimento, dor e angústia que se transportaram da cadeira das vítimas, testemunhas e réus, para a cadeira da juíza. “As angústias dos que se sentavam à minha frente, por diversas vezes, me escoltaram até minha casa e passaram a ser companheiras de noites de insônia”, relata Dra. Rejane. “É a violência mais silenciosa que existe, sem a presença de expectadores, ou melhor, quando presentes, estes eram os filhos das mulheres. Os enredos eram os mesmos, mudavam apenas os protagonistas”, finaliza.

Sobre a autora:
Rejane Jungbluth Suxberger é juíza de direito do TJDFT, presidente da Comissão de Assédio do TRE-DF e integrante do grupo Candangas. Máster em gênero e igualdade pela Universidad Pablo de Olavide (Sevilla/Espanha) e mestra em direito pelo UniCEUB, é vice-líder do Grupo de Pesquisa em Política Pública e Justiça Criminal do CEUB, na linha “Políticas públicas de gênero e estudos feministas”.
Serviço:
Livro: Invisíveis Marias: histórias além das quatro paredes
Autora: Rejane Jungbluth Suxberger
Lançamento: 17 de novembro, segunda-feira, a partir das 8h30, na Sede do Ministério Público do Ceará (R. Maria Alice Ferraz, 120 – Eng. Luciano Cavalcante – Fortaleza/CE)
Editora: Grupo Editorial Caravana
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