Por Marcio Bueno

Segundo os cânones impostos atualmente, você tem somente duas possibilidades, ser gênio ou inútil!

De que lado você está?

Segundo as redes sociais, os livros de autoajuda, algumas escolas de negócio pouco sérias, palestrantes motivacionais depressivos e consultores de empreendedorismo teóricos, você pode tudo!

Aliás, segundo o “Vale do Silício” você não só pode tudo como deve ser o melhor em menos de um ano, já que vivemos em uma era exponencial.

Tomemos muito cuidado com isso!

Alguns pseudo consultores de empreendedorismo, que nunca empreenderam, somente leram meia dúzia de livros a respeito, se dedicam a transformar a exceção em regra, banalizando a genialidade.

Estas pessoas, usando frases de efeitos e técnicas de motivação, criaram a sensação de que você pode, deve e tem que ser o próximo Bill Gates, Steve Jobs, Jeff Bezos & cia, ou você é um inútil.

Mas de onde vem este entendimento e esta exigência?

São muitos os motivos, mas todos apontam para o mesmo setor: tecnologia.

Se olharmos os rankings das marcas/empresas mais valiosas do planeta dos últimos anos, independente da fonte que escolha, veremos que o número de empresas de tecnologia tem crescido. Este ano, oito das dez primeiras da lista são de tecnologia – Amazon, Apple, Google, Microsoft, Samsung, Facebook, Alibaba, Tencent e AT&T.

Vejam que Amazon e Alibaba deixaram de ser empresas de varejo para serem consideradas marketplace e, portanto, portais de serviços e produtos cujo core business é a tecnologia.

Se analisarmos a performance dos dez melhores CEOs em 2019, segundo um estudo da Harvard Business Review, cinco são do setor tecnológico – NVIDIA, SalesForce, Texas Instruments, Adobe e Microsoft.

NVIDIA e Texas não são conhecidas pelo grande público, mas têm crescido muito no mercado de componentes eletrônicos, que suporta aos crescimentos dos gigantes da lista anterior.

Segundo a lista da Forbes, seis dos dez maiores bilionários do mundo, são do setor da tecnologia – Jeff Bezos, Bill Gates, Carlos Slim, Larry Ellison, Mark Zuckerberg e Larry Page.

Enquanto as escolas de negócio ensinam que as empresas devem ser Customer Centric (orientada ao cliente), o mercado da transformação digital tem conduzido a todas as empresas e segmentos a serem Digital Technology Centric (centralizada na tecnologia digital).

Esta exposição massiva e o consumo superficial de manchetes com limitação de caracteres das redes sociais, a busca por receitas de bolo rápidas de enriquecimento, nos transmite a sensação de que temos que empreender, virar um unicórnio em no máximo 18 meses e se não o fazemos e não entramos nos rankings, teremos fracassados.

Por certo, se alguém acha difícil ou pouco provável atingir um valor de mercado de USD 1 bilhão em menos de 18 meses, temos mais de uma dezena de startups no mundo que já alcançaram. O caso que mais chamou a atenção foi o da jet.com que conseguiu esta façanha em quatro meses.

Fico feliz por eles, mas o problema que os pseudo consultores tomam este tipo de dado como a barra de medir e passam a dizer que, se alguém no Vale do Silício ou na Singularity disse que é padrão, todos devemos segui-lo (mesmo que não tenha sido dito por ninguém).

Outro dia li uma frase fantástica do Marc Tawil, que estava associada a outro contexto, porém serve perfeitamente aqui.

“Não compare o seu bastidor com o palco do outro”.

É óbvio que devemos estudar estes cases, conhecer os hábitos de pessoas que se sobressaem, aprender e até copiar o que faça sentido, mas por favor, não imitem nem tentem ser quem não são.

Você não é Steve Jobs, e não precisa ser.

Você não é Jeff Bezos, ainda bem, você é quem é.

Embora seja óbvio, é necessário dizer que não precisa ser gênio, nem CEO, nem rico e muito menos famoso para ser feliz.

Não precisa virar unicórnio pra ter sucesso.

E muito menos o crescimento deve ser em 6 meses.

Como falamos no artigo Dessingularizando a Singaluridade, temos que correr sem atropelar.

Esta pressão adicional, e artificial, que criamos pode agravar os quadros de depressão e transtornos de ansiedade crescentes que estamos vivendo?

Não podemos afirmar, mas sem dúvida é uma variável a mais a ser considerada.

Não foi uma nem duas vezes que vi pessoas no LinkedIn dando conselhos e oferecendo cursos, como uma “receita infalível” e o passo a passo para transformar a sua mente em uma mente milionária.

Estas pessoas, algumas delas eu conheço, leram o segredo das mentes milionárias do Napoleon Hill e vendem cursos a respeito. Porém uma delas me disse que queria fazer o workshop da Tecno-Humanização, mas estava sem dinheiro.

Ler um livro e montar um curso a respeito, OK.

Ter problemas financeiros, acontece, todos temos em algum momento de nossas vidas.

Mas padecer do problema que se promete resolver…

Prestem muita atenção sobre a fonte onde você busca conhecimentos e ensinamentos.

Tem pessoas que nunca empreenderam dando mentoria de empreendedorismo.

E são estas pessoas que inundam as redes sociais com mensagens que você pode tudo, que você pode ser um gênio, que você pode empreender e ter sucesso. Na verdade, não passa de mensagens de autoafirmação e principalmente, serve de terapia para elas mesmas, não pra você.

E para isso, ler e ouvir (profissionais sérios e competentes) é muito importante. Porém, o único fator que te permite mudar a sua condição é FAZER, REALIZAR, EXECUTAR.

Se não sabe por onde começar, busque ajuda de um mentor.

Se não sabe como fazer, busque uma metodologia.

Se não consegue fazer, busque um especialista (sério) em inteligência emocional para desbloquear seus medos.

E ignore os cânones impostos pelo mercado, entre um gênio e um inútil, existem milhões de possibilidades que são perfeitamente válidas.

Basta encontrar a SUA, não a de outros.

Fonte:R7