Patrícia Fernandes
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A oito dias da Copa das Confederações, a frase “Imagina na Copa”, que já virou ditado popular, nunca fez tanto sentido. Protestos e movimentos grevistas se multiplicam pela capital. Enquanto o Governo do DF e servidores travam uma luta sem sinais de trégua, quem sofre as principais consequências é a população. Para cobrar promessas não cumpridas pelo GDF, servidores do Departamento de Trânsito (Detran-DF), Companhia Energética de Brasília (CEB) e da Secretaria de Saúde cruzaram os braços por tempo indeterminado.
Diante do caos que se instalou na cidade, a sensação da população é de desamparo. Em meio à dúvida do tempo que as greves podem durar, a certeza de que não será possível contar com os serviços prestados pelos órgãos em greve é a mesma para todos. Quando o tema é a saúde, a situação é ainda mais delicada. Afinal, se a situação já era considerada alarmante, com a paralisação ganha contornos ainda mais preocupantes.
Na opinião do barman Claiton de Souza, 25 anos, a população está no centro do furacão que atinge a cidade. “Quem sofre é só a população. Não temos amparo de ninguém. Os servidores só querem ganhar dinheiro e o governo só quer gastar. Hoje, a prioridade é o lazer e não a saúde”, reclamou.
Para ele, os servidores devem buscar seus direitos, mas sem atingir a população. “Deveriam negociar, mas sem prejudicar os cidadãos”, desabafou.
A professora Inayana Pereira, 28 anos, ficou desolada com o anúncio da greve dos servidores da Saúde. Isso porque sua mãe, Nair Coelho, 68 anos, foi diagnosticada com dois nódulos mamários e não consegue ser atendida. “Estamos desesperadas. Se a saúde já está péssima, imagina com a greve?!”, lamentou.
De acordo com Nair, a previsão de atendimento é de seis meses a um ano. “Se esperar isso tudo, já vou ter morrido. O GDF precisa pensar na população e atender a reivindicação dos servidores. Devem parar de gastar dinheiro com estádio e priorizar o povo”, afirmou.
Processo de obtenção de carteira parado
A telefonista Maria Aparecida Ursino, 41 anos, foi obrigada a interromper seu processo para a aquisição da carteira de habilitação em decorrência da greve do Detran-DF. “Já tinha feito todas as etapas e iria fazer a prova prática. Mas agora não tem previsão”, afirmou. Segundo ela, os grevistas deveriam pensar em outra forma de fazer valer seus direitos e o GDF, por sua vez, deve abrir espaço para a negociação. “Eles só pensam em ganhar dinheiro. O governo deveria pensar no que realmente é importante”, declarou.
Diálogo
Para a deputada distrital Liliane Roriz, o atual governo não abre espaço para a negociação com os trabalhadores. “Acredito que como esse partido sempre foi oposição, é muito mais difícil saber sentar pra negociar. Eles não querem sentar nem para ouvir a categoria”, declarou. A deputada destaca que não está otimista quanto ao futuro da capital. “Nossa cidade vai parar. Que democracia é essa?”.
De acordo com ela, o foco dos governantes não está voltado para as necessidades reais da população. “Eles só pensam em grandes eventos e em gastar dinheiro com isso”, argumentou.
Hospitais e Detran comprometidos
Tratamento diferenciado e discriminação são as duas principais queixas dos servidores da área de Saúde. É o que explica a presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Distrito Federal (SindSaúde-DF), Marli Rodrigues.
“Nós queremos que o GDF dê o mesmo tratamento que deu aos médicos. Nossa greve se pauta nesta discriminação praticada pelo governo. A área de saúde é formada por uma equipe multiprofissional. As diferenças salariais existem, mas não é justo dar aumento apenas para uma categoria”, explicou.
Segundo Marli, a greve ocorrerá estrategicamente durante a Copa das Confederações. “Vamos respeitar a legislação e 30% dos servidores continuarão trabalhando na emergência. Os demais serviços ficarão totalmente paralisados”, disse.
Ao todo, 104 categorias aderiram à greve. “Entre as especialidades em greve estão os técnicos em enfermagem, nutricionistas, motoristas e psicólogos”, afirmou.
Apesar de defender a greve, a presidente reconhece que a população é a maior prejudicada dentro desse cenário. “A população está sofrendo as consequências do sucateamento de 20 anos. Se o GDF não fizer um projeto de reestruturação da saúde, as coisas não vão mudar”, ressaltou.
A Secretaria de Saúde, por sua vez, declarou que as negociações continuam e a proposta está sendo negociada entre a Secretaria de Planejamento e o sindicato da categoria.
Reestruturação
Já os servidores do Detran pedem reestruturação completa da carreira, que foi proposta pelo governo para acabar com a greve de 2011. “Fizemos um acordo em 2011 e depois outro em 2012. E o governo não cumpriu nenhum dos dois”, explicou o presidente do Sindicato dos Servidores do Detran-DF (Sindetran), Eider Marcos Almeida.
Segundo ele, a categoria espera que o GDF se responsabilize e cumpra o que prometeu. “Pedimos a reestruturação das duas carreiras. Isso vai desde a organização da quantidade de cargos até a reformulação salarial”, declarou.
Entre os serviços que estão interrompidos está a vistoria de veículos, a emissão de carteiras de habilitação e a fiscalização do trânsito.
O Jornal de Brasília tentou contato com a assessoria do Detran-DF durante todo o dia por telefone, mas as ligações não foram atendidas.
Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.br