E lá vamos dar início, de novo, à disputa de uma vaga para a próxima Copa do Mundo. Quem não quer ver a seleção brasileira no Catar em novembro de 2022? Posso até concordar que a seleção já não é um atrativo tão especial assim (na verdade o torcedor sempre curtiu mais o time de coração, até na época de ouro, com Pelé e Garrincha), mas ninguém torce contra. O problema, que causa até mesmo antipatia ao time de Tite, é que ele jogará nas próximas sexta e terça, desfalcando assim alguns times brasileiros que brigam no alto da tabela da Série A do Brasileirão. Aliás, sejamos justos, outras seleções também respondem por alguns desfalques.
À exceção de Argentina e Peru, outras oito seleções levarão 17 jogadores de nove clubes. E, é claro, que os líderes do Brasileirão sofrerão as maiores baixas em três rodadas. O Atlético-MG perderá o paraguaio Júnior Alonso, o venezuelano Savarino e o equatoriano Alan Franco. Já o Palmeiras não terá o uruguaio Viña e o paraguaio Gustavo Gómez, além de Gabriel Menino e Weverton, com nossa seleção. O Flamengo também teve dois convocados por Tite: Éverton Ribeiro e Rodrigo Caio. Além disso, o meia De Arrascaeta foi convocado pelo Uruguai e Isla pelo Chile. Porém, o lateral voltou a testar positivo para covid e, apesar de estar liberado para jogar, não pode viajar, porque no Chile e no Uruguai, onde os chilenos jogarão, é exigido um exame PCR negativo. Porém, o Flamengo só poderá usá-lo no Brasileirão se o jogador for desconvocado.
Três candidatos ao título desfalcados por três rodadas. E tudo porque, mais uma vez, o Brasileirão não para. Até quando conviveremos com essa situação? Porque não podemos prejudicar a seleção, não enviando os melhores jogadores; não podemos prejudicar os times que mais investem, tirando deles exatamente seus craques em momentos decisivos; não podemos prejudicar os jogadores, que sonham com uma convocação e uma Copa do Mundo; e não podemos esticar o ano, dando mais alguns dias para caberem tantas competições.
No entanto, na Europa eles param, é tudo certinho. E lá tem campeonato nacional, tem copas, amistosos, tem Liga Europa, Champions League. Tem tudo ajustado e funciona. Mas lá tem uma coisa que aqui é difícil de organizar, a tal liga nacional de clubes (que cuida das competições em cada um dos países) e uma organização continental, a Uefa, que muitas vezes até encara a Fifa de frente, de forma a defender os direitos dos clubes, pois afinal são eles que abastecem as seleções e os eventos que elas disputam.
A culpa então é da CBF? Pode até ser, mas onde estão os clubes que não se organizam e apresentam uma solução inovadora? Por que não existe, por aqui, um entendimento de que juntos eles faturam muito mais? O curioso é que o torcedor (que critica a entidade, as emissoras de TV que compram os direitos de transmissão e quem mais eventualmente prejudica o seu time) é o primeiro a não concordar que haja união entre adversários nacionais, muito menos estaduais. Imagina ajudar um rival a ficar melhor!
Que dilema. Ser um país continental tem esse problema também. Com centenas de clubes de futebol, há muitos fora das quatro séries do Brasileirão, com apenas os campeonatos estaduais para se manterem vivos. Opa, a culpa então é dos estaduais! Será? Mas os clubes gostam de disputar. Aliás, são quase obrigadores por seus torcedores, que querem ganhar tudo.
É uma roda que não para, como o Brasileirão. Então vamos em frente.
* Por Sergio du Bocage, apresentador do programa “No Mundo da Bola”, da TV Brasil
Fonte: Agência Brasil