Com o amor pelos animais fazendo parte do cotidiano de muitas famílias brasileiras, o cenário doméstico tem se transformado em verdadeiras casas multiespécie. De acordo com dados recentes, o Brasil conta com cerca de 150 milhões de pets, o que evidencia a crescente tendência de convivência harmoniosa entre humanos e animais de estimação.

De acordo com o mais recente Censo Pet IPB, realizado pelo Instituto Pet Brasil, a população de animais de estimação no país atingiu a marca de 149,6 milhões em 2021, representando um aumento de 3,7% em relação ao ano anterior. Os cães continuam liderando o ranking, com um total de 58,1 milhões de indivíduos.

Em segundo lugar, estão as aves canoras, com 41 milhões, seguidas pelos gatos, com 27,1 milhões. Os peixes ocupam a quarta posição, com 20,8 milhões, e os pequenos répteis e mamíferos completam a lista, com 2,5 milhões de representantes.

Aumento da população de pets e a necessidade de cuidados

Durante o último ano, a população de gatos no Brasil apresentou um aumento significativo de 6%, passando de 25,6 milhões para 27,1 milhões, segundo levantamento do IPB. Esse crescimento representa não apenas o maior incremento anual de felinos desde o início da série, em 2018, mas também a maior taxa de crescimento entre as espécies no período. Os peixes ocupam o segundo lugar, com um aumento de 4,5%, seguidos pelos cães (4%), aves (1,5%) e pequenos répteis e mamíferos (0,8%).

Em artigo publicado no portal do Instituto Pet Brasil, o presidente do Conselho Consultivo da Instituição, Nelo Marraccini, ressalta a importância dos cuidados essenciais para a saúde e a qualidade de vida de todos os animais de estimação, independentemente da espécie.

É fundamental que os proprietários estejam cientes de suas responsabilidades e tomem as medidas necessárias para garantir o bem-estar de seus companheiros de quatro patas. Atualmente existem opções, inclusive, de seguro pet, que cobrem despesas com vacinas, exames, emergências veterinárias e hotel, conforme os tipos de cobertura.

Mas, o que é, de fato, uma família multiespécie?

Segundo informações da ONG Te Protejo, o termo “família multiespécie” refere-se àquelas constituídas por humanos e seus animais de estimação. No entanto, para que essa denominação seja aplicada, é necessário que haja um vínculo afetivo e que o animal seja considerado parte integrante da família.

O presidente da Associação Médico-Veterinária Brasileira de Bem-Estar Animal, Ceres Berger Faraco, em entrevista ao portal da ONG, destaca a importância da interação entre humanos e animais, ao afirmar que é impossível pensar em família nos dias de hoje sem considerar essa relação.

Vale lembrar ainda que, nos últimos anos, tem se observado uma diminuição na taxa de lares com crianças, enquanto as casas com animais de estimação têm aumentado. De acordo com pesquisa do IBGE, a cada 100 famílias, 44 têm cachorros, enquanto 36 possuem crianças de até 12 anos.

Essa tendência é observada em nível global, principalmente em países desenvolvidos. Conforme avaliação de especialistas, a dinâmica ocorre devido ao desejo das mulheres de priorizar suas carreiras, obter uma remuneração melhor e buscar mais liberdade. Por outro lado, em países menos desenvolvidos, onde as mulheres ainda possuem menor profissionalização, a taxa de natalidade é mais alta.

Reconhecimento e proteção legal de animais de estimação

O crescente amor e dedicação aos animais de estimação têm gerado a necessidade de se estabelecer leis e direitos em favor desses animais e suas famílias. O projeto de lei nº 145/2021, apresentado em 3 de fevereiro de 2021, propõe alterações no Código de Processo Civil, reconhecendo os animais não-humanos como partes em processos judiciais.

Essa nova perspectiva busca garantir uma identidade individual aos animais de estimação, reconhecendo sua condição de seres sencientes e membros ativos da família. Por meio dessa legislação, busca-se proporcionar proteção legal tanto aos animais quanto às suas famílias.

Cada vez mais casos envolvendo pets têm sido levados aos tribunais. Questões relacionadas à guarda dos bichinhos são frequentes em divórcios, por exemplo. Os tribunais geralmente determinam o tipo de guarda, que pode ser compartilhada ou alternada, além de regulamentar as visitas e abordar outras questões pertinentes. É importante ressaltar que o bem-estar do animal é sempre priorizado, buscando preservar o vínculo entre os tutores e seus animais de estimação.