É possível fazer uma campanha eleitoral sem gastos exorbitantes, abrindo mão, inclusive, de recursos oriundos do Fundo Eleitoral e do Fundo Partidário? Sim, segundo a advogada e candidata à deputada estadual pelo Progressistas, Thaís Gomes de Souza, ou Thaís da Aspaan, como é mais conhecida em Anápolis, cidade onde já conquistou dois mandatos consecutivos como vereadora com um orçamento enxuto.
Agora, na nova disputa, ela decidiu abrir mão dos recursos tanto do Fundo Eleitoral, quanto do Fundo Partidário. “Minha campanha será feita com pé no chão, com doações de particulares, andando, conversando com as pessoas, igual sempre fiz antes”, relata. Thaís conta que na última eleição que disputou, em 2020, enquanto outros candidatos chegaram a gastar cerca de R$ 800 mil, ela conseguiu ser eleita vereadora com a terceira maior votação, gastando aproximadamente R$ 30 mil. Ocupando seu segundo mandato como vereadora em Anápolis, Thaís entende que sua decisão de não aceitar recursos públicos para financiar sua campanha é também uma importante mensagem política. “Eu vejo que estamos vivendo um momento em que a população sofre sem saúde, sem educação de qualidade, sem moradia, saneamento básico, sem alimentação e mesmo assim foram destinados R$ 4,9 bilhões para o Fundo Partidário que é um dinheiro que deveria estar nos cofres públicos para atender as necessidades reais da população”, frisa a candidata ao questionar o volume financeiro destinado para financiamento público de campanha. “Eu sei que esses recursos do fundo são uma verba carimbada, que não pode ser usada, mas acho errado usar dinheiro público para fazer campanha eleitoral”, completa. O cientista político Daniel Medina observa que tem se tornado mais frequente a decisão de candidatos nessa direção, e avalia como corajosa e acertada a decisão de alguns candidatos que estão abrindo mão de recursos públicos para financiar suas campanhas. “Do ponto de vista estratégico, se for bem comunicada e bem explicada ao eleitor, gera uma atração de votos muito positiva”, afirma. Por outro lado, não se pode parar por aí. “O candidato precisa ter propostas e também comunicá-las bem.” Contrário ao financiamento público de campanhas políticas, Medina argumenta que o valor destinado ao Fundo Eleitoral deveria ser alocado para áreas essenciais da sociedade, como educação, saúde e segurança, e não para financiar partidos políticos. “É um recurso que daria para fazer muita coisa”, contesta. O cientista político rebate a alegação daqueles que defendem o uso de recursos públicos em campanhas eleitorais como uma forma de democratizar a participação política. “Esse é um argumento apresentado por muitos partidos tradicionais, que não obstante, são os que recebem a maior parte do Fundo Eleitoral e do Fundo Partidário. Mas quem gosta ou se identifica com alguma agremiação política e acredita nos projetos que de um candidato apresenta, porque não financiar com seu próprio recurso, dentro do limite financeiro de cada um?, questiona. Para Medina, essa democratização da participação política passa por uma conscientização e um letramento político maior da nossa sociedade. Mensagem política Ao explicar às pessoas que não está recebendo nenhum recurso público para fazer sua campanha para uma vaga como deputada estadual, Thaís revela que recebeu muitas mensagens positivas por parte dos eleitores. “Muita gente me parabenizou por essa minha atitude e vi que estou no caminho certo. Estou fazendo agora a minha campanha do mesmo jeito que fiz antes, com pouco dinheiro, caminhando e conversando com as pessoas”, revela. Para Thaís, os votos devem vir por meio do reconhecimento de um bom trabalho, não porque se gastou muito numa campanha eleitoral. “Fiz uma campanha pequena, na minha reeleição também foi assim e agora do mesmo jeito. Felizmente nesses dois mandatos consegui fazer um bom trabalho, não só na causa animal, e tenho tido um bom reconhecimento por parte da população. Nós, por exemplo, conseguimos trazer mais de 5 milhões de reais em emendas para a cidade de Anápolis para serem usadas nas áreas de saúde, educação, para a mobilidade urbana. Então temos feito um trabalho político não só voltado para a causa animal, mas também para as pessoas”, afirma a candidata. Trajetória Dentro de sua trajetória política, Thaís elenca algumas importantes conquistas para a causa dos animais, como a criação do Castramóvel de Goiás, um consultório móvel totalmente equipado para realização de cirurgias de castração de cães e gatos, de forma gratuita. “Esse é um serviço que já é realidade em Anápolis e atinge principalmente as famílias mais carentes que não têm condições de pagar por uma castração particular de seu animal. Já foram realizadas mais de cinco mil castrações”, relata. Outra vitória política da candidata em prol da causa dos animais é a destinação de R$ 1,5 milhão para a construção do primeiro hospital público veterinário de Anápolis. “Essa é uma verba que já está depositada na conta da prefeitura de Anápolis”, destaca. Para a Assembleia Legislativa, além de propostas para a causa dos animais, Thaís diz ter propostas para a saúde, para a educação e melhorias de outras bandeiras sociais. “Mas meu foco principal será a causa animal. Nós temos, por exemplo, uma lei já aprovada no Estado de Goiás, que é a lei Lei Feliciano Filho (17.767/2012), que garante, entre muitas coisas, a realização de campanhas de castração em municípios, mas essa norma nunca foi tirada do papel. Portanto, um dos nossos principais objetivos como parlamentar estadual será fazer com que essa lei se cumpra em todo o estado de Goiás”, diz. Desde pequena Com 38 anos de idade, há 22 Thaís milita na causa animal, sendo fundadora da Associação Protetora e Amiga dos Animais de Anápolis (ASPAAN), entidade com mais de dez anos de atividades em defesa de animais abandonados e vítimas de maus tratos e que hoje abriga mais de 500 animais domésticos abandonados. “Eu despertei para esse interesse de cuidar dos animais já com sete anos de idade, quando eu já dizia para os meus pais que eu tinha muita compaixão por cães e gatos e que queria fazer alguma coisa por eles”, lembra. Segundo Thaís, a entrada na política foi uma forma de dar passos mais largos na causa animal, buscando políticas públicas mais eficientes. “Como protetora de animais sempre vivenciei uma realidade de descaso do poder público com os animais. Então quando entrei na política foi com esse compromisso de defender políticas públicas eficientes para esta causa”, salienta. Para a advogada, além da questão humanitária, animais abandonados nas ruas são uma questão de saúde pública. “Querendo ou não, o animal abandonado na rua é um vetor de transmissão de zoonoses graves como leishmaniose, toxoplasmose e a raiva (hidrofobia), ao passo que se você tem animais que são cuidadosa, tratados e vacinados você não tem esse problema”, explica.