O último final de semana de novembro pode ter sido o mais especial da carreira de atleta de rugby Baby Futuro. Aos 34, a carioca faturou o tÃtulo Sul-Americano no Uruguai e vestiu pela última vez a camisa da seleção brasileira depois de 16 anos. “Minha ideia já era me aposentar no fim desse ano, depois dos Jogos de Tóquio. Mas como veio a pandemia, OlimpÃada adiada, até pensei em ficar um pouco mais. Foi difÃcil tomar a decisão de parar agora”, disse a atleta.
Mas a questão médica foi o ponto crucial que impediu que ela pudesse participar do grupo nacional que estará no Japão no ano que vem. “Sofro há bastante tempo com lesões nos dois joelhos. A primeira vez que eu fiz uma cirurgia foi há 19 anos no joelho esquerdo, depois em 2014 operei de novo. Praticamente não tenho mais menisco. A quarentena serviu para que eu pensasse bastante”. A decisão final veio durante a participação na Missão Europa do Comitê OlÃmpico do Brasil em Portugal. “Fizemos um mês inteiro de treinos no ritmo intenso, parecido com a competição. E senti que ia ficar difÃcil. Alguns parâmetros fÃsicos estavam caindo e eu vi que era melhor parar enquanto ainda estava bem. Tive várias amigas que pararam por lesões. Por isso, fico feliz por ter essa chance de escolher o momento de parar”.
Com a taça sul-americana trazida do Uruguai, o Brasil chegou a 18 conquistas no torneio continental, em 19 competições disputadas. Baby pôde participar de 14 desses torneios. “Fechei com chave de ouro. Sou extremamente grata por ter vivido tudo o que eu vivi no esporte. Fiz o primeiro try do Brasil no torneio. Poder sair de campo com todas as meninas me homenageando foi lindo. Feliz demais pelo reconhecimento”.
Na seleção desde 2004, ela também é a única atleta nacional a participar de três mundiais de rugby sevens (Dubai/2009, Moscou/2013 e São Francisco/2018). “Pude viver todo esse processo. Com a minha saÃda se encerra esse ciclo. Conquistamos muitas coisas. Acho que isso me mostra que esse movimento não está sendo só para mim. Envolveu muitas mulheres que começaram quando o rugby era amador no Brasil. A motivação eram o nosso amor e a vontade de jogar. Hoje a realidade é diferente. Temos uma estrutura muita mais completa. Isso é muito bom para todos que estão envolvidos com o rugby no Brasil”.
Nos Jogos OlÃmpicos do Rio de Janeiro, a seleção obteve a nona colocação. Com participação destacada da Baby Futuro, que foi a artilheira da equipe nacional e escolhida pelo COB a melhor atleta do ano da modalidade. “Comecei como reserva e acabei sendo titular pela lesão da Julia Sardá logo no primeiro jogo. Estava super bem preparada. Poder jogar aquela OlimpÃada em casa, com a minha famÃlia na arquibancada, foi demais. Lamento muito pela Julia, mas me esforcei ao máximo para aproveitar a chance. E acho que fui bem”.
A campanha olÃmpica colocou o paÃs pela primeira vez na história na elite do circuito mundial da modalidade. “Ter participado de tudo isso, estar junto do grupo que conseguiu colocar o Brasil na elite do esporte mundial é indescritÃvel.” Depois, em abril do ano passado, o time conquistou o tÃtulo do Hong Kong Women´s Sevens, classificatório para o Circuito Mundial na temporada 2019/2020. Mas, nesse torneio, ela ficou apenas na torcida. “Estava lesionada na mão direita. Mas foi demais ver o Brasil com um grupo novo ganhando jogos tão importantes, o time andando com as próprias pernas”.
Em relação ao futuro, Baby tem várias opções. Ser treinadora, árbitra, seguir jogando apenas pelo clube, o Niterói Rugby, atuar como dirigente ou trabalhar como atriz, diretora ou roteirista (já que ela é formada em Belas Artes pela UFRJ). A própria responde: “Na verdade, já estou até dando treino para um clube em São Paulo. Mas acho que vou seguir mais firme trabalhando mesmo junto à Confederação Brasileira (CBRu). Vou sair do campo e partir para o escritório para ajudar na área de comunicação e marketing. Mas é claro que vou continuar também ajudando as meninas no Niterói, mas sem tantas obrigações”.
Fonte: Agência Brasil