“É importantíssimo neste momento estarmos voltados com a nossa força e determinação para colocar o setor audiovisual brasileiro a todo vapor. Se o segmento sempre foi catalisador das expressões culturais brasileiras, as telas portáteis e outras janelas de difusão potentes se tornam mais relevantes do que nunca”, declarou a ministra da Cultura, Margareth Menezes, no Seminário BNDES do Audiovisual Brasileiro, realizado nesta quarta-feira (30), no Rio de Janeiro.
O evento realizado com o apoio do Ministério da Cultura (MinC) e da Agência Nacional do Cinema (Ancine) reuniu autoridades e profissionais do setor para discutir e propor iniciativas para o setor e prestou, ainda, homenagens à atriz Fernanda Montenegro e ao produtor de cinema Luiz Carlos Barreto, o Barretão.
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, lembrou que a instituição tem um histórico na produção audiovisual, com o financiamento de 454 filmes e 300 salas de cinema. O investimento em cultura, no entanto, foi reduzindo com o passar dos anos, de R$ 351 milhões em 2016 para apenas R$ 12 milhões em 2017. Agora, a instituição pretende retomar o apoio ao segmento. “Queremos colocar R$ 500 milhões no crédito para o audiovisual a fim de começar a refinanciar o cinema”, adiantou.
O executivo salientou que o tempo da resistência da cultura e do negacionismo acabou. “Precisamos de uma agenda ofensiva de defesa da cultura, do cinema e do audiovisual brasileiro. Ele frisou ainda que, agora, todos podem apresentar seus projetos. “O banco vai respeitar a liberdade de expressão”, garantiu. “O Lula voltou, e o BNDES vai voltar para a cultura também”.
Cota de tela
No evento, a chefe da Cultura anunciou que o Projeto de Lei nº 3.696/2023, que prorroga o prazo de obrigatoriedade de exibição de filmes nacionais na TV paga, foi aprovado na Comissão de Educação e Cultura (CE), no Senado. “Estamos organizando as questões que dizem respeito ao setor audiovisual e cultural do país como a cota de tela, as regulações das plataformas digitais e as big techs e a luta por direitos autorais mais justos. Também estamos promovendo a melhor distribuição do fomento”, comentou a ministra.
Sobre as plataformas de streaming, Mercadante afirma que “a União Europeia já fez a regulação e o Congresso Nacional precisa olhar para o que foi realizado lá”. Segundo ele “não podemos ficar de fora por conta da importância que o Brasil tem em relação às plataformas”.
Homenagens
Reconhecida na cerimônia por sua carreira, Fernanda Montenegro contou que tornou-se atriz por conta do encantamento que teve ao assistir filmes com a família durante a infância, nos anos 1930, em subúrbio no Rio. “Hoje, por amor à arte cinematográfica, eu tenho a minha vida de ofício ligada aos mais de 30 filmes nacionais que fiz”.
A grande dama da dramaturgia brasileira recordou ainda um episódio das filmagens de “A Falecida”, de Leon Hirszman (1937-1987), quando seu colega Paulo Gracindo (1911-1995) alegou que não iria mais fazer cinema por ser “muito cansativo”. Fernanda repetiu a justificativa dita ao ator sobre a importância da sétima arte: “É o meu futuro que está para quem quiser me ver quando eu já não estiver mais aqui. É um documento artístico da minha vida graças ao cinema”.
Também homenageado, Luiz Carlos Barreto dedicou a honraria à companheira, a produtora de cinema Lucy, e citou o cineasta Glauber Rocha (1939-1981) ao comentar a relevância do evento. “Este seminário corresponde a um desejo dele. Essa posição do BNDES é uma decisão que já devia ser sido adotada antes. O cinema brasileiro necessita de gestão, de planificação, de racionalidade. Porque nós fazemos cinema num impulso da criação, e o cinema é uma indústria, e das indústrias culturais é a mais industrializada e mais mundializada, isso muito antes da globalização”, disse o produtor de sucessos como Dona Flor e seus Dois Maridos e O Quatrilho.
O ator, apresentador e cineasta Lázaro Ramos enfatizou que até hoje a classe cinematográfica está em luta, por conta da campanha promovida nos últimos anos “para tirar a importância do que a gente faz”, e defendeu a cota de tela, direito autoral e regulação do streaming. “Isso é um respeito com os profissionais que aqui trabalham”. De acordo com o diretor do longa Medida Provisória, a sua vida foi transformada pelo cinema nacional várias vezes, e citou filmes como Central do Brasil, Eles Não Usam Black-Tie, O Auto da Compadecida e Minha Mãe É uma Peça como inspiradores. “É o que estamos fazendo e com o que a gente pode sonhar. E ainda não chegamos na metade de onde podemos ir”.
Instituições do audiovisual
O painel Articulando as Instituições do Audiovisual no Brasil abordou a importância do trabalho em conjunto entre órgãos governamentais, associações, produtoras e distribuidoras para discutir a necessidade de cooperação e de iniciativas para impulsionar o setor. A secretária do Audiovisual do Ministério da Cultura (MinC), Joelma Gonzaga, por meio de mensagem em vídeo, destacou o papel do banco no apoio ao segmento. “O BNDES tem uma trajetória significativa no fomento ao audiovisual, por meio do patrocínio direto, da construção de linhas de crédito, dentre outras ações fundamentais para a estruturação do setor. Para além dos debates necessários, nosso interesse é construir políticas e programas estruturantes, somando expertises, para a construção de uma economia do audiovisual cada vez mais forte e múltipla”, afirmou. O coordenador-geral de Difusão, André Araújo participou presencialmente da mesa representando a SAV.
O diretor-presidente da Agência Nacional do Cinema (Ancine), entidade vinculada ao MinC, Alex Braga, falou sobre as ações de regulação e infraestrutura para o desenvolvimento do segmento. “É preciso investir na expansão do parque exibidor, em políticas públicas para regulação, principalmente a cota de tela, para se garantir espaço e condições justas de competição para o conteúdo audiovisual brasileiro”, ressaltou.
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Fonte: Ministério da Cultura