Traição no PSD: estratégia nacional atropela bancada local e ignora histórico judicial de Arruda

Filiação de José Roberto Arruda ao PSD ocorre apesar de condenações, multas e inelegibilidade ainda vigentes, gerando críticas internas e tensão política no DF para 2026.

Por Cris Oliveira

A filiação do ex-governador José Roberto Arruda ao PSD, oficializada nesta segunda-feira (15), escancarou uma crise interna no partido e expôs uma traição política que agora tenta ser negada nos discursos públicos. O movimento não foi local nem improvisado. Partiu da cúpula nacional e foi previamente acertado entre o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, e Paulo Octavio.

Durante o ato de filiação, Kassab foi direto ao afirmar que, como presidente nacional do partido, teve uma conversa política, franca e estratégica com Paulo Octavio, e que ficou claro que a filiação de Arruda era uma decisão do PSD. A declaração desmonta a tentativa posterior de Paulo Octavio de se apresentar como alheio ou desconfortável com o movimento, numa clara tentativa de se descolar do desgaste.

O peso da decisão não está apenas no acordo político, mas no histórico jurídico de Arruda, que segue sendo um obstáculo incontornável. O ex-governador acumula condenações em processos oriundos da Operação Caixa de Pandora, que resultaram em inelegibilidade e multas impostas pela Justiça, ainda em vigor. Mesmo assim, tenta se viabilizar para 2026 apostando em uma eventual mudança na Lei da Ficha Limpa uma estratégia que transfere para o futuro uma solução que hoje simplesmente não existe.

A filiação, portanto, ocorre apesar das condenações, das multas e da inelegibilidade, colocando o PSD diante de um custo político elevado e de uma escolha consciente: bancar um nome juridicamente fragilizado em troca de capital eleitoral, ainda que isso signifique tensionar a imagem do partido e provocar desgaste interno.

Nos bastidores do Distrito Federal, o gesto ganha contornos ainda mais graves. Enquanto tenta minimizar a filiação de Arruda no discurso, Paulo Octavio mantém espaço privilegiado na máquina pública, com a nomeação do próprio filho para uma secretaria no governo Ibaneis Rocha — gestão que já opera com Celina Leão como candidata ao Governo do Distrito Federal em 2026. O contraste entre o discurso público e a prática política é evidente.

A crise interna se aprofundou porque Arruda se filiou contra a posição de deputados distritais do PSD, que já sinalizam saída da legenda, deixando claro que a decisão foi imposta de cima para baixo. Para parte da bancada, a chegada de Arruda representa não apenas um erro estratégico, mas uma ruptura com compromissos internos assumidos anteriormente.

Durante o evento, Arruda afirmou que Brasília precisa ser “resgatada”. A fala, no entanto, esbarra em um ponto básico da democracia: antes de qualquer resgate político, é a Justiça que precisa ser enfrentada. Sem o afastamento das condenações, o pagamento das multas e a reversão da inelegibilidade, o discurso eleitoral permanece desconectado da realidade jurídica.

Na prática, a filiação de Arruda antecipa o clima de tensão de 2026 e expõe um PSD dividido, marcado por acordos de bastidor, contradições públicas e uma aposta arriscada que pode custar caro ao partido no Distrito Federal.

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