Em Curitiba, a reflexão sobre o papel do empreendedorismo nas escolas é prioridade na rede de ensino municipal, que desenvolve vários programas inovadores que estimulam os jovens a perceber a importância do empreendedorismo para a economia. Entre as ações pontuais, até o fim do ano, Curitiba terá 33 Faróis do Saber e Inovação, oficinas de criatividade e criação de protótipos, com impressoras 3D.
Para a secretária municipal da Educação, Maria Silvia Bacila, empreendedorismo é “emancipação” dos cidadãos de Curitiba. O objetivo do projeto é “incentivar a pensar de forma criativa para resolver vários tipos de problema”.
Além de entregar novos faróis, em 2018, a prefeitura afirma que investiu R$ 15 milhões em tecnologia educacional, equipamentos de informática, kits de robótica, impressoras 3D, conectividade, sistemas informatizados, entre outros recursos destinados ao uso administrativo e educacional.
A secretária Maria Sílvia adianta que o movimento da inovação de Curitiba afeta também os Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIS). “Vamos instituir nos CMEIS os berçários de inovação, com espaço de atelier, pesquisa e inovação. Vamos começar com 18 CMEIS com essa atividade para que a gente possa pouco a pouco inspirar os professores. Tem muitos que não estão na lista, mas as pessoas estão se inspirando e fazendo as salas. As salas são de materiais de manipulação, inovação e pesquisa, de atelier para que as crianças se constituam como pesquisadoras, com a curiosidade e criatividade”, conta.
Principal injetor do movimento nas escolas, os cursos de capacitação relacionados à inovação já têm sido mais procurados pelos professores e demais servidores da Educação. “Se renova todo ano (a grade de cursos) e sempre com vagas destinadas a esses temas. As equipes têm conseguido atrair mais e o professor tem entendido que precisa dessa área para ser o professor do século 21”, avalia. Outro programa inovador de Curitiba é o Laboratório Pedagógico de Inovação (Lapi), inaugurado em novembro passado na sede da Secretaria Municipal da Educação, no Alto da Glória.
‘Aprendi que dá um bom negócio’
Moradora do Jardim Gabineto, em Curitiba, Maria Ariela, de 10 anos, veio do Piauí junto com a família e encontrou na Escola Municipal Anita Gaertner seu primeiro contato com o empreendedorismo. “A gente fez brinquedo com material reciclável. Garrafa pet, tampinha e, sabe aquele potinho de Danone? Então, achei brinquedos ecológicos”, conta. O grupo de Ariela passou por todas as etapas de produção, incluindo fabricação, estoque, marketing e vendas. Entre os produtos da empresa batizada de “ Fantástica Oficina de Brinquedos” estão “Pé de Lata, Bolha de Sabão e Cavalinho”, na descrição da própria empreendedora mirim. Todo o dinheiro arrecadado será destinado a financiar um evento de comemoração. “O dinheiro arrecadado a gente vai fazer baladinha, pizza e sorvete”, conta. Questionada sobre o principal aprendizado no processo, Ariela diz que aprendeu a “criar dinheiro” de materiais baratos ou praticamente gratuitos, como recicláveis. “Aprendi que dá um bom negócio”, destaca.
A secretária Maria Sílvia Bacila foi quem destacou a participação da jovem Maria Ariela. Segundo a secretária, o entusiasmo da menina foi percebido à distância. “Vi uma menina na feira de educação empreendedora e eles tinham trabalhado com brinquedos que vendiam. Aquela brincadeira de andar em cima da lata, sabe? Eles venderam tudo. Impressionante o sucesso. Eu perguntei: o que você aprendeu com isso? Ela olhou para mim e falou pra mim: ‘que isso é um bom negócio’. E é isso que eles tem que aprender, que o bom negócio pode estar na nossa frente”, aponta.
Bacila destaca que a educação empreendedora nas comunidades tem o poder de emancipação. “A gente vive em um mundo em que essa lógica do emprego será cada vez menor. Precisa empreender também no dia a dia, até para se manter empregado, mesmo no serviço público. Sem empreendedor na sua carreira, no seu trabalho, não avança. É uma condição de emancipação”, destaca.
De acordo com a secretária, até o fim do ano 100 escolas terão opção empreendedora de tempo integral. “Teremos mais 11 unidades do Farol do Saber revitalizadas. A partir do momento que entregarmos os 32 faróis tenho todas as regionais alcançadas. Nós já chegamos na cidade inteira por meio das salas empreendedoras nas escolas. E essas ações inspiram novas formas de ensinar”, diz.
Outra meta da prefeitura é expandir para todas as escolas os trabalhos de tecnologia. “Estamos buscando 100% das unidades com o trabalho da robótica, que tem forte ligação com empreendedorismo e inovação, que é o movimento da aprendizagem criativa, que vem do MIT. É o trabalho pedagógico que sustenta o trabalho nos faróis”, afirma.
Mesmo onde os faróis revitalizados ainda não foram entregues, já foram instalados centros de aprendizagem por meio da capacitação e estrutura própria, diz a secretária. “Esse movimento já transforma os antigos laboratórios em espaços de inovação. Tem computador, impressora, robótica com baixa e alta tecnologia e isso tudo diferencia esse espaço como de inovação. Já não são mais laboratórios tradicionais. Se constitui como espaço de pesquisa, criatividade e inovação”, explica.
Cadastro para vagas em creches agora é feito em um clique
As famílias curitibanas que precisam de vaga nos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) já podem fazer o cadastro das crianças via internet, pelo computador de casa ou smartphone. O novo portal Cadastro Online – Registro de Intenção de Vagas foi lançado no dia 11 de outubro
Até agora, as informações sobre as condições socioeconômicas da criança de zero a 3 anos e do seu responsável eram inseridas no Sistema de Gestão Escolar (GED) e depois validadas por representantes do Conselho do CMEI, por meio de visitas ao domicílio da família. A prioridade é para situações de vulnerabilidade e famílias com menor renda.“Nossa intenção foi facilitar e agilizar o processo de solicitação de vagas. Agora é só entrar no sistema e preencher os dados. O responsável pode escolher CMEIs próximos de casa ou do trabalho, conforme preferir. E será necessário o CPF da criança, o que impedirá duplicidades”, explica a secretária Maria Sílvia. Todas as iniciativas da Prefeitura integram o Vale do Pinhão, o movimento da cidade (prefeitura e ecossistema de inovação) para levar o desenvolvimento sustentável para toda a cidade.
Universidades tiveram suas portas abertas
Nas universidades públicas e privadas, o apoio à inovação e empreendedorismo é feito através de agências de inovação, que têm a missão de estimular alunos com perfil empreendedor a desenvolverem empresas com base tecnológica em áreas como saúde, biotecnologia, engenharia, administração e economia criativa.
Idealizador do Pibep (Programa Institucional de Bolsas de Empreendedorismo e Pesquisa) e hoje coordenador do Hotmilk (agência acadêmica de fomento ao empreendedorismo e inovação), o professor Fernando Bittencourt Luciano, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), afirma que desde 2016, cinco empresas, que surgiram do programa e passaram por todos os processos, ainda estão abertas. Em cada ciclo são selecionadas cinco de 20 ideias. “Passam uma foice e ficam cinco. Estamos no sétimo ciclo e temos aproximadamente 30 empresas que receberam esses R$ 5 mil. É muito normal que a primeira ideia seja alterada. A gente sempre fala que a ideia não é nada, o que vale é a execução. É um programa voltado a experiência”, explica.