Importantes festivais de cinemas do País tiveram de adiar suas datas e até abrir crowdfunding para se viabilizar neste ano. Os cortes de patrocínios à cultura têm sido drásticos. Nesse cenário que se torna crítico, a Mostra de Cinema de São Paulo inicia firme e forte na quarta-feira, 16, sua 43.ª edição. Ministério da Cidadania, governo do Estado, Prefeitura, Itaú e Sabesp garantem a realização do evento de cinema mais importante da cidade.
Será uma mostra surpreendente, potente, anuncia a própria diretora do evento, Renata de Almeida. Até dia 30 serão exibidos cerca de 300 filmes. Em torno de 60, um quinto, brasileiros. Renata destaca o DNA brasileiro, presente desde o cartaz de Nina Pandolfo, do qual foi retirada uma vinheta de grande sensibilidade – “Um oásis nestes tempos de tanta brutalidade e grosseria”, segundo Renata -, mas também nos filmes de abertura e encerramento.
A mostra abre-se com Wasp Network, de Olivier Assayas, produção de Rodrigo Teixeira a partir do best-seller de Fernando Morais, Os Últimos Soldados da Guerra Fria, em presença do diretor e dos atores Édgar Ramírez e Wagner Moura. Encerra-se com Os Dois Papas, produção internacional dirigida por Fernando Meirelles, com Jonathan Pryce e Anthony Hopkins como os papas Francisco e Bento XV que discutem os rumos da Igreja (e do mundo).
Assayas receberá o Prêmio Leon Cakoff e a Mostra anuncia uma retrospectiva com 14 títulos, desde mais antigos como Irma Vep até Clean, da fase em que foi casado com Maggie Cheung, até obras como Depois de Maio, sobre o célebre Maio de 68, Horas de Verão, Vidas Duplas e a série completa dedicada a Carlos, com Édgar Ramírez como o terrorista que se tornou conhecido como Chacal. Meirelles também produz outra pérola da programação, o documentário The Great Green Wall, dirigido por Jared P. Scott, que representa sua vertente ecológica.
Já que foi citado o Prêmio Leon Cakoff para Assayas, outro importante autor – além de amigo do evento -, o israelense Amos Gitai, também receberá o mesmo prêmio. Amos comemora na Mostra datas redondas de seus grandes filmes – os 30 anos de Berlim-Jerusalém e os 40 de Laços Sagrados – Kadosh. Lança o livro Em Tempos Como Estes, uma compilação da correspondência de sua mãe, Efratia Gitai, entre 1929 e 1994, numa parceria da Mostra com a editora Ubu e o Ventre Studio, que promoverá uma leitura das cartas (por Bárbara Paz).
Outro amigo, o palestino Elia Suleiman, apresenta seu novo longa, premiado em Cannes, em maio – O Paraíso Deve Ser Aqui -, e recebe o Prêmio Humanidade. Renata lembra que Amos e Suleiman são amigos e a prova viva de que o diálogo é possível no Oriente Médio.
Fonte: Revista ISTOÉ