A Procuradoria Especial da Mulher do Senado Federal, em parceria com a juíza do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Rejane Jungbluth Suxberger, promove o lançamento da segunda edição do livro Invisíveis Marias: histórias além das quatro paredes. O evento será realizado na Biblioteca do Senado Federal.
Escrita em forma de contos, a obra entrelaça realidade e ficção para dar voz a mulheres que viveram, dentro de casa, situações marcadas pela violência. A narrativa se constrói a partir de relatos colhidos ao longo de anos de atuação no Judiciário, revelando marcas que não se apagam com a sentença judicial. Mais do que literatura, o livro se apresenta como denúncia, memória e resistência.
“Tenho um enorme carinho por esse livro. Ele representa a superação de muitas dores transformadas em força e aprendizado. Cada etapa concluída reafirma a importância de dar voz às mulheres e às suas histórias. A violência muitas vezes começa de forma sutil, e o livro pode servir como um alerta poderoso”, afirma Rejane Suxberger.
Ao longo de uma década de atuação, a magistrada analisou cerca de 10 mil processos envolvendo violência doméstica. Segundo a autora, nunca encontrou uma vítima ilesa: não apenas o corpo, mas também a autoestima e a identidade dessas mulheres estavam profundamente afetadas. A desqualificação social, muitas vezes, agravava ainda mais o sofrimento.
As histórias que inspiram Invisíveis Marias revelam padrões culturais enraizados, baseados em ideias ultrapassadas de feminilidade e masculinidade. Em muitos casos, as mulheres eram tratadas como propriedade, com sua palavra desacreditada, enquanto os agressores se colocavam como injustiçados pela legislação de proteção às vítimas.
A autora relata que as angústias vividas nas audiências frequentemente extrapolavam o ambiente do tribunal. “As histórias me acompanhavam até em casa e se tornavam companheiras de noites de insônia. É uma violência silenciosa, sem plateia. Quando havia espectadores, eram os filhos das mulheres. Os enredos se repetiam, mudavam apenas os protagonistas”, descreve.

✍️ Sobre a autora
Rejane Jungbluth Suxberger é juíza de direito do TJDFT, presidente da Comissão de Assédio do TRE-DF e integrante do grupo Candangas. Possui mestrado em Direito pelo UniCEUB e título de máster em Gênero e Igualdade pela Universidad Pablo de Olavide, em Sevilha, na Espanha. Atua em pesquisas voltadas a políticas públicas de gênero e estudos feministas.
