O Nordeste se consolida como polo da energia renovável no Brasil e atrai investimentos em projetos de transição ecológica e digital. A região detém 93% da capacidade de energia eólica e 20% da capacidade de energia solar instalada no Brasil. Além disso, o potencial eólico offshore (em alto mar) da região é estimado em 700 GW, o que corresponde a 3,6 vezes a capacidade total de geração já instalada no país.
Os dados foram apresentados pelo superintendente de Projetos de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Bork, durante o Encontro Regional Nordeste da Jornada Nacional de Inovação da Indústria, em Salvador (BA). Ocorrido no fim de novembro, o evento organizado pela CNI e pelo Sebrae reuniu representantes dos nove estados da região para alinhar estratégias e demonstrar o impacto da pauta energética na economia local.
Na ocasião, Bork destacou o cenário que mostra o potencial que a região tem de investir em projetos inovadores. Para o superintendente, a participação das empresas é vista como uma oportunidade de exporem os principais desafios e alinharem estratégias para que as dificuldades sejam superadas futuramente.
“Essa é a grande parte inteligente desse evento, a gente identificar e fortalecer o desafio conforme os interesses da indústria para o crescimento, para o desenvolvimento, para aumentar a competitividade. O empresário que está participando tem voz ativa para dizer quais são os seus problemas, quais as suas oportunidades e poder, com as outras pessoas que estão participando, dizer: olha, nós estamos no caminho certo”, explicou Bork.
A pauta da energia renovável não se restringe apenas à eólica e solar. O encontro regional da Jornada mostrou que o Nordeste também se destaca no cenário nacional em outras áreas estratégicas:
- A região se destaca pelo desenvolvimento de biocombustíveis, não só com etanol da cana-de-açúcar, mas também com agave, palma e outros insumos nativos;
- Investimentos de R$1,81 bilhão em pesquisa e desenvolvimento em minerais estratégicos na região entre 2019 e 2023, que correspondem a 40% do total do Brasil;
- Os estados do Nordeste têm 30% dos projetos de hidrogênio verde atualmente em curso no Brasil, com potencial derivado da capacidade eólica e solar;
- Segunda região em número de startups, com crescimento de 43% ao ano entre 2015 e 2025.
Durante a programação, representantes da Borborema Recursos Estratégicos (BRE), MDI Industrial e Shell detalharam projetos desenvolvidos em parceria com o SENAI Cimatec. O objetivo foi mostrar como a indústria tem aproveitado os potenciais da região.
Shell – agave e bioenergia
O programa BRAVE (Brazilian Agave Development), da Shell Brasil com a Unicamp, o SENAI Cimatec e outros institutos, têm o intuito de desenvolver a agave como nova fonte de biomassa para produção de bioenergia no semiárido brasileiro.
O BRAVE conta com três frentes principais: BRAVE-Bio, para melhoramento genético e desenvolvimento de mudas de baixo custo; BRAVE-Mec, de mecanização de plantio e colheita; e BRAVE-Ind, que trata das rotas industriais de processamento, por exemplo, para etanol de primeira e segunda geração, biogás e coprodutos.
Borborema – terras raras
O gerente de ESG, Saúde e Segurança do Trabalho na Borborema Recursos Estratégicos (BRE), Rafael Boechat, comentou sobre o desenvolvimento de uma rota tecnológica de beneficiamento de minérios de terras raras, em parceria com o SENAI Cimatec.
A ideia é que, por meio do projeto, haja uma implantação e validação, em escalas laboratorial e piloto, de processos de concentração de óxidos de terras raras provenientes da Província Mineral Rocha da Rocha.
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Nesse caso, serão realizados testes de beneficiamento mineral, aprimoramento da infraestrutura e construção de uma planta piloto para validar processos em condições próximas à escala industrial.
MDI Industrial – tecnologia para o setor de saúde
De acordo com a CNI, a MDI Industrial e o SENAI Cimatec têm quase 10 anos e mais de 20 projetos de parceria em pesquisa, desenvolvimento e inovação para o setor de saúde e bem-estar.
O CEO da MDI, Kleuder Leão, afirmou que a empresa tem desenvolvido equipamentos nacionais com tecnologia de ponta. Em meio aos produtos entregues para o mercado nacional e internacional, destacam-se analisadores metabólicos e seus sistemas acessórios, máscara de respiração e máquina de circulação extracorpórea.
Correção das desigualdades regionais
Presente ao evento, o presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), Carlos Henrique Passos, explicou que, entre as missões institucionais do Sistema Indústria, está corrigir as desigualdades regionais. Na avaliação dele, o setor é parte essencial no processo de desenvolvimento das áreas com menor capacidade econômica.
“Para o Nordeste aumentar sua participação no PIB do país, precisamos de indústria. É a indústria que vai agregar valor às nossas riquezas naturais. Antes não era, mas, hoje, o sol, os ventos e nosso bioma são uma riqueza”, afirmou.
Jornada Nacional de Inovação da Indústria
A Jornada Nacional de Inovação da Indústria é um evento itinerante que está percorrendo todo o Brasil para discutir soluções, desafios e oportunidades de inovação para a indústria brasileira por região.
O movimento já percorreu as regiões Nordeste, Sul e Centro-Oeste e segue agora para as regiões Sudeste e Norte. O objetivo é mapear as demandas e tecnologias que as indústrias e deep techs (startups de base científica) utilizam para inovar.
Fonte: Brasil 61
