Vivemos em um mundo globalizado e altamente conectado.  A internet proporciona momentos de descontração, por meio de jogos, e disponibiliza conhecimento a um clique; mas é, também, um ambiente onde crianças e adolescentes podem sofrer violências, o que tem preocupado pais, mães e cuidadores. Ao mesmo tempo em que se debate sobre os riscos de excesso de telas, os avanços tecnológicos tornam a missão difícil para pais e responsáveis e surge um questionamento válido: como proporcionar uma relação saudável e segura com a internet?

A ética digital, conjunto de valores e comportamentos responsáveis no uso da tecnologia, especialmente no respeito à privacidade, segurança e dignidade dos usuários, é uma responsabilidade coletiva e necessária para que todos consigam viver de forma harmoniosa, mas quando se trata da população entre zero e 18 anos, que corresponde a cerca de 50 milhões de pessoas, segundo o Censo do IBGE de 2022, os cuidados devem ser redobrados. De acordo com a pesquisa Mapeamento dos Fatores de Vulnerabilidade de Adolescentes Brasileiros na Internet, lançada pelo ChildFund, organização que há quase 60 anos atua no Brasil pela promoção e defesa dos direitos infantojuvenis, mais da metade dos adolescentes brasileiros, que corresponde a mais de 9 milhões de pessoas, já sofreu violência sexual na internet.

“A pesquisa também revelou uma predominância de hábitos on-line entre os adolescentes: cerca de 78% dos hobbies mencionados são digitais. Hoje é impossível que uma criança ou adolescente cresça sem contato com as telas, pois é algo que já faz parte da rotina. É importante que, quando tenham acesso à internet, façam com supervisão parental e conhecimentos sobre como navegar com segurança. Os adultos são os responsáveis para que o acesso ao ambiente digital aconteça de forma mais segura”, ressalta Mauricio Cunha, presidente executivo do ChildFund Brasil.

Tempo conectado aumenta os riscos

Quanto mais horas os adolescentes passam conectados, maiores são os perigos. Entre eles, estão os casos de assédio e abuso sexual on-line, ameaças e cyberbullying. O Mapeamento destacou que o tempo médio em que um adolescente fica conectado é de quatro horas, fora do contexto escolar e com o uso, principalmente, do celular.

Uma das maneiras de combater e diminuir os crimes virtuais contra jovens, é conscientizando. No mundo, o ChildFund aborda a proteção on-line como prioridade, tanto que lançou a campanha “Os Monstros na Internet São Reais” em seis países da América Latina: México, Guatemala, Honduras, Equador, Bolívia e Brasil. A iniciativa apresenta vídeos impactantes, materiais educativos e recursos gratuitos para apoiar famílias, educadores e a sociedade na identificação e prevenção de ameaças on-line, como aliciamento, exploração sexual, cyberbullying e manipulação.

A construção da campanha foi feita a partir de relatos reais de adolescentes atendidos pela organização e mostra que situações como perfis falsos, ameaças, chantagens e tentativas de contato por meio de jogos virtuais têm se tornado cada vez mais comuns. Muitas vezes os casos saem do ambiente escolar e são publicizados na internet.

Letramento digital para transformar a realidade

O ChildFund defende que a inclusão de letramento digital em políticas públicas pode aumentar a proteção de crianças e adolescentes no ambiente virtual. “Educação digital não deve ser apenas instruir esses públicos acerca de ferramentas ou softwares, mas de ensiná-los a como denunciar casos de violência on-line e de se proteger na internet, como não compartilhar fotos ou informações confidenciais em chats ou aplicativos de mensagens”, afirma Águeda Barreto, especialista sênior em advocacy da organização.

A organização já realizou parcerias com municípios e com o Distrito Federal, a fim de educar crianças e adolescentes acerca do tema. As prefeituras de Belo Horizonte, Macapá e Vitória da Conquista já oferecem esse conteúdo a crianças e adolescentes.

O ChildFund oferece gratuitamente o curso “Safe Child” para crianças, adolescentes e toda a família aprenderem sobre prevenção de violência on-line. O curso está disponível aqui.

Dicas para tornar a internet um ambiente saudável e seguro

Para que a convivência na internet seja saudável e benéfica, algumas pequenas ações podem ser tomadas. “Antes mesmo dos jovens terem acesso livre às telas, muitos pais e responsáveis já os colocam como protagonistas em seus próprios perfis de redes sociais. Mesmo que seja com o objetivo de compartilhar momentos legais e em família, os cuidados devem existir, a fim de proteger a integridade das crianças e adolescentes e de não os tornar vítimas e alvos fáceis de criminosos”, destaca Mauricio.

Confira abaixo algumas orientações sobre como proteger crianças, adolescentes e jovens, mas também dicas de boas práticas no ambiente digital:

Para pais e responsáveis:

  • Não crie perfis próprios para as crianças;
  • Caso os jovens tenham suas contas, monitore e mantenha o perfil no modo privado;
  • Não publique fotos de crianças sem roupa ou em momentos de choro;
  • Certifique-se de que não há dados escolares expostos, como uniforme ou localização;
  • Estabeleça horários de uso;
  • Utilize ferramentas de controle parental.

Para todos:

  • Não compartilhe detalhes pessoais, como números de telefone, endereço ou senha;
  • Seja criterioso ao publicar, curtir ou compartilhar comentários e imagens;
  • Equilibre o tempo on-line com atividades presenciais;
  • Denuncie práticas de cyberbullying, assédio ou exploração em plataformas digitais;
  • Não interaja com perfis falsos.

 

Sobre o ChildFund 

O ChildFund é uma organização que atua no desenvolvimento integral, promoção e defesa dos direitos da criança, do adolescente e do jovem, criando futuros com mais oportunidades, para que tenham seus direitos considerados e alcancem seu potencial.

Diretamente, por meio de programas desenvolvidos no Brasil, seu trabalho impactou, em 2024, na vida de mais de 189 mil pessoas, entre elas mais de 83 mil crianças, adolescentes e jovens em situação de privação, exclusão e vulnerabilidade. No mesmo ano, suas iniciativas alcançaram 1,3 milhão de pessoas no país. Para realizá-las, a organização conta com a contribuição de pessoas físicas, por meio do programa de apadrinhamento de crianças e de doações para a causa, como o Guardião da Infância, além de parcerias com empresas, institutos e fundações que apoiam os projetos desenvolvidos.

A organização faz parte de uma rede internacional associada ao ChildFund International, presente em mais de 70 países e que gera impacto positivo na vida de mais de 24,3 milhões de crianças e suas famílias no mundo.

A organização foi premiada internacionalmente em 2025 e está entre as 20 melhores no ranking brasileiro emitido pela The Dot Good, uma certificadora de projetos sociais com sede na Suíça que avalia os impactos locais e globais de ONGs em todo o mundo. No Brasil, o ChildFund já foi eleito, também, a melhor ONG de assistência social do país em 2022 e a melhor ONG para crianças e adolescentes do Brasil por três anos (2018, 2019 e 2021) pelo Prêmio Melhores ONGs, que também a elegeu entre as 100 melhores ONGs do país por sete anos.