Estudo realizado no Brasil com pessoas hospitalizadas mostra que 96% dos pacientes fumantes acreditam que o tabagismo causa dependência, mas só 60% veem esse vício como uma doença. O mesmo estudo revela o desconhecimento de que o tabagismo, atual ou pregresso, é um fator de risco para desenvolvimento e evolução de doenças. E, ainda, mais de 300 pessoas morrem por dia no Brasil em consequência do cigarro.

Mas a morte está longe de ser o único problema trazido pelo cigarro. A qualidade de vida também fica seriamente comprometida. Profissionais da equipe multidisciplinar da Intensicare, empresa que faz a gestão das UTIs infantil e adulto do Hospital Regional de Santa Maria, alertam: pacientes tabagistas internados apresentam maior dificuldade de recuperação durante a hospitalização.

De acordo com a médica intensivista Jamile Thomé, coordenadora da ala adulta da UTI, existe uma sensível diferença na recuperação dos pacientes fumantes em comparação com os não-fumantes. Ela explica que, em caso de hospitalização, quem fuma está exposto a mais riscos, principalmente por causa de doenças cardiovasculars e/ou pulmonares. “Mesmo em proocedimentos eletivos, como cirurgias, o risco de complicação respiratória sempre é maior para o paciente tabagista”, adverte.

O tratamento do fumante também acaba sendo mais oneroso, para o Estado — quando o hospital é público — ou para a família que conduz seus parentes aos cuidados de uma unidade particular, uma vez que os médicos devem ministrar medicamentos que reduzem os efeitos da falta do tabaco.

O quadro clínico do fumante internado não é a única desvantagem dele em relação ao não-fumante. O coordenador de Psicologia da UTI Adulto do Hospital de Santa Maria, Fernando Machado, diz que tabagistas, uma vez hospitalizados, têm muito mais dificuldades para lidar com a situação. Ele os descreve como mais inquietos no leito, podendo até mesmo retirar acidentalmente equipamentos vitais para sua recuperação.

Machado explica que o fumante normalmente já apresenta características mais ansiogênicas, o que é potencializado quando estão internados em um hospital, onde não podem fumar. E isso pode causar outros danos, inclusive clinicamente. “O fumante hospitalizado sofre muito mais. Ele é mais nervoso, não adere a tratamentos quando estão num hospital, e na UTI isso é pior ainda. Ele pode ter confusão mental e abstinência, o que causa alucinações”, destaca. “Por ser mais agitado, o fumante tende até mesmo a retirar os dispositivos que o mantêm estável. Às vezes chegam ao ponto de tentar fugir da unidade”, completa.

O uso de produtos derivados do tabaco é causa de cerca de 50 tipos de doença, principalmente cardiovasculares (infarto, angina), além de câncer e doenças respiratórias obstrutivas crônicas (enfisema e bronquite). Estas são as principais causas de mortes por doença no Brasil, de modo que câncer de pulmão lidera o ranking de óbitos derivados do surgimento de tumores no corpo (87% das mortes por câncer de pulmão ocorrem entre fumantes).

Os prejuízos advindos do fumo são maiores nas mulheres devido às particularidades próprias do gênero feminino, como gestação e uso da pílula anticoncepcional. A mulher fumante tem um risco maior de infertilidade, câncer de colo de útero, menopausa precoce (em média dois anos antes).

 

Dica de ouro

O psicólogo Fernando Machado tem uma dica preciosa para que não se inicie ou se abandone o uso do cigarro. “Ame-se, cuide-se. O cigarro é prejudicial em tudo. Pense nas suas responsabilidades e nas pessoas ao seu redor, no quanto estar com quem se ama é mais importante do que um suposto ‘prazer imediato’ que o cigarro traz, e, se você fuma, conscientize-se e vá atrás de um tratamento. Há opções eficazes, inclusive na rede pública de saúde. Mas tudo tem de partir da própria pessoa”, recomenda.