Policiais querem reajuste salarial, benefícios e reestruturação da carreira.
Procurada pelo G1, secretaria diz que só vai se pronunciar na quarta (29).

Policiais militares do Distrito Federal, que estão em “operação tartaruga” desde outubro do ano passado, disseram que vão continuar trabalhando em ritmo reduzido até que o governo aceite dialogar com a categoria. Os trabalhadores reivindicam reajuste salarial, reestruturação da carreira e pagamento de benefícios a PMs em atividade e policiais reformados.

Representantes do movimento da Polícia Militar do DF durante entrevista (Foto: Lucas Nanini/G1)Representantes do movimento da Polícia Militar do DF durante entrevista (Foto: Lucas Nanini/G1)

O presidente da Associação dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros, tenente Ricardo Pato, diz que a corporação não foi procurada pelo governo e que os líderes do movimento não foram recebidos quando procuraram a secretaria.

“Iniciamos a operação em 2012, que durou três ou quatro meses, depois nos reunimos com o governo em maio de 2012 e o secretário se comprometeu a atender 4 das 13 promessas. E nem essas quatro promessas eles cumpriram. Agora fizemos a operação tartaruga de novo, desde outubro [de 2013] e só vamos parar quando o governo sentar e nos fizer uma proposta oficial”, afirma Pato.

Nesta segunda-feira (27), o secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, admitiu que houve queda na produtividade policial e disse que “não tem nada que justifique esse tipo de movimento” porque há “diálogo com o governo”.

Procurada pelo G1, a  Secretaria de Segurança Pública informou que nenhuma pessoa da pasta estava disponível para falar nesta terça (28) e pediu para que entrasse em contato na quarta (29).

Para o presidente da Associação dos Oficiais Reformados da Polícia Militar, Mauro Manoel Brambilla, disse que espera que o GDF se sensibilize sobre a importância da reivindicação. “Reivindicamos o diálogo sobre as promessas que o próprio governo fez. Pedimos que o governador se sensibilize e venha com uma proposta para que a gente possa encerrar de imediato [a operação], diz.

Outdoor sobre operação tartaruga instalado por militares do DF  (Foto: Eliomar Rodrigues/Divulgação)Outdoor sobre operação tartaruga instalado por militares do DF (Foto: Eliomar Rodrigues/Divulgação)

Segundo o movimento, os policiais continuam cumprindo o seu dever, mas deixaram de fazer tarefas a mais, o “plus”. “Antes, quando um crime acontecia, nós íamos ao local do crime com a viatura e procurávamos informações que ajudavam na investigação. Agora o serviço perdeu em agilidade, pois deixamos a investigação para a Polícia Civil, que é quem investiga”, afirma o tenente Pato.

Ele diz que os policiais também passaram a trafegar em menos velocidade na busca por suspeitos de crimes. “Antes nós corríamos para identificar e prender o meliante o mais rápido possível. Agora estamos seguindo na velocidade da via. Até porque, se o policial capotar a viatura, quem tem de tirar do próprio bolso para pagar é o PM.”

Antes, quando um crime acontecia, nós íamos ao local do crime com a viatura e procurávamos informações que ajudavam na investigação. Agora o serviço perdeu em agilidade, pois deixamos a investigação para a Polícia Civil, que é quem investiga”
Tenente Rocardo Pato, da PM

Segundo o policial, o movimento já mandou confeccionar 20 mil panfletos com informações sobre as reivindicações da categoria e o não cumprimento por parte do governo. O grupo afirma que deve distribuir cerca de 100 mil materiais.

No último fim de semana, os policiais instalaram sete outdoors no Gama, São Sebastião, Samambaia e Paranoá, cobrando do governo isonomia salarial e reestruturação da carreira. Nesta terça, peças do tipo foram instaladas em Brazlândia e Sobradinho.

Queda de produtividade e negociações
Com a operação tartaruga, o DF registrou queda na atividade policial em dezembro. O secretário Sandro Avelar afirmou que houve redução de 40% no número de armas apreendidas no período, em relação às médias anteriores. Foram recolhidos 80 equipamentos, contra os cerca de 130 objetos geralmente apreendidos antes.

“Você vê [a queda de produtividade] em vários índices: você vê a queda na apreensão de armas de fogo, você vê a queda de recuperação de veículos roubados, você vê na elevação do número de homicídios. Por mais que o perfil das vítimas continue o mesmo, de maioria já envolvido com o mundo do crime, especialmente tráfico de entorpecentes ou vítimas de crime passional, de toda forma quando você tem menor número de armas de fogo circulando você tem uma redução também desse tipo de crime”, afirmou.

Avelar disse estar negociando alguns pontos com a corporação, mas afirmou que a reestruturação “envolve uma série de questões que têm que ser trabalhadas com tempo” e que o aumento salarial não depende do governo local.

“Não tem condições de apenas pelo GDF resolvermos questões que envolvam aumento salarial da corporação, porque os recursos são oriundos da União, passam por projeto de lei que têm que ser encaminhados ao Congresso Nacional. É algo que é mais complexo, está fora do nosso alcance.”

De acordo com o secretário, há previsão para concurso para as polícias Militar e Civil ainda neste ano. Atualmente, o DF tem 15 mil PMs e 6 mil bombeiros.

‘Troco na Copa’
Em imagens gravadas no dia 5 de dezembro, durante um café da manhã dentro do 11º Batalhão de Polícia Militar, em Samambaia, um sargento diz ao secretário de Segurança que, caso a categoria não seja contemplada com reajuste salarial, os PMs “darão troco” na Copa do Mundo de 2014. Na época, a pasta não comentou o vídeo e o comando da corporação diz que estava avaliando as informações.

“A Copa do Mundo ‘tá’ vindo aí. E eu vou falar para o senhor, em nome de nossa categoria, é a nossa vontade. Se a Polícia Militar não for contemplada, como outros órgãos da Segurança Pública foram contemplados, o troco nós vamos dar na Copa do Mundo. O senhor secretário leve essa mensagem [ao governador Agnelo Queiroz]”, diz o sargento na gravação.

Segundo Avelar, a gravação ocorreu de maneira “clandestina”. “Era uma conversa informal, que foi sendo noticiada como um ato unitateral”, disse. “O sargento em uma conversa informal, expondo o ponto de vista dele. Eu também expus o meu, usando muito mais tempo que ele”.

O secretário disse ainda discordar da exposição do vídeo. “O que acho ilegítimo e acho covarde é filmar e divulgar somente um trecho, criando um fato falso”, falou. “A gente está trabalhando para poder justamente resolver essas situações de maneira civilizada, negociada, para que a gente não tenha problema na Copa do Mundo.”

Em novembro, um tenente-coronel do 21º Batalhão da PM, em São Sebastião, ordenou que ospoliciais não aguardassem mais a chegada da perícia em locais de crimes cometidos na região. De acordo com ele, a decisão segue instruções normativas da Polícia Civil e artigos do Código de Processo Penal. Ele alegou ainda “escassez de efetivo” e problemas no relacionamento entre os militares e os agentes da 30ª DP.

Fonte: G1 DFTV