O acesso das crianças a conteúdos audiovisuais de qualidade foi uma das principais questões abordadas na programação desta sexta-feira (13) no Seminário Telas na Infância, realizado no Cine Brasília, com o apoio do Ministério da Cultura (MinC). Artistas, produtores culturais, sociedade civil, gestores públicos, especialistas em cultura infância falaram sobre a necessidade de incentivo e fomento ao audiovisual brasileiro, mas também sobre os espaços de exibição dessas produções para o público infantil, principalmente as escolas.
Representando o Ministério da Cultura (MinC), a secretária de Cidadania e Diversidade Cultural, Márcia Rollemberg, ressaltou a importância desse debate para o processo de construção das políticas públicas. Destacou ainda o papel da cultura no fortalecimento da democracia e na valorização da identidade da população.
“Trago os cumprimentos da ministra Margareth Menezes e a força de reconstruir as políticas culturais, que foram tão vilipendiadas, e nós sabemos o porquê. Porque a cultura dá significado, traz narrativas, valores. Então, é preciso posicionar a cultura como um campo estratégico no Brasil. Toda essa compreensão da nossa primeira infância passa também por essa noção de valores, de como entendemos a sociedade e como queremos o nosso mundo. Eu quero um mundo onde as crianças sejam respeitadas”, completou Márcia Rollemberg.
Cultura e Educação
Entre as ações desenvolvidas pelo MinC, ganhou destaque o trabalho em conjunto com o Ministério da Educação (MEC) para regulamentar a Lei 13.006/14, que estabelece a obrigatoriedade de exibição de, no mínimo, duas horas mensais de filmes brasileiros dentro da grade curricular da educação básica.
Raquel Franzin, coordenadora de Educação Integral e Tempo Integral do MEC, explicou a urgência desse tema. “Se a gente não assegurar esse direito das crianças não só de acessarem, mas aprenderem sobre cinema, com o cinema e a produzir cinema na escola, elas crescem. A infância é longa para quem vive, mas ela passa num segundo. Então, a gente precisa correr contra o tempo, aproveitar essa oportunidade histórica do Brasil hoje, de reconstruir bases democráticas para seguir com essa política pública. MEC e MinC estão juntos nessa”, afirmou.
A Secretaria de Educação Básica do MEC e a Secretaria do Audiovisual (SAV) do Ministério da Cultura reestabeleceram um grupo de trabalho focado em discutir propostas para regulamentar essa lei, em diálogo com a sociedade civil. Em junho deste ano, a Mostra de Cinema de Ouro Preto aprofundou as discussões para elaboração do plano nacional de cinema para a escola. Na ocasião, foram abertos espaços de escuta que contaram com as presenças de professores de distintos níveis de ensino, pesquisadores, técnicos pedagógicos e secretários de educação de várias regiões do país.
Pontos de Cultura
Além das escolas, os pontos de cultura também foram ressaltados como meios importantes para ampliar o acesso aos direitos culturais das crianças. Segundo Márcia Rollemberg, dos seis mil pontos certificados no Cadastro Nacional da Política Cultura Viva, 30% dizem trabalhar com crianças e têm como ação estruturante essa parcela da população.
“Essas diversas infâncias do Brasil começaram a aparecer para nós quando criaram os pontos e os pontinhos de cultura. Foi naquele momento que começamos a entender e ver como o Brasil é rico e como existem diversas infâncias e como todas elas são importantes”, lembrou a mediadora do debate Luiza Lins, diretora da Mostra de Cinema de Florianópolis e Membro do Conselho Superior de Cinema.
Para mapear, articular e formar essa rede de pontinhos de cultura dedicados a crianças, o MinC formalizou parceria com o Pontão Temático Cultura Infância, que além da entidade proponente tem outros cinco pontos de cultura em seu Comitê Gestor.
“A gente está há mais de 20 anos nessa luta pela cultura e pela cultura da infância. Agora, o pontão vem reafirmar que a gente continua junto, em todos os lugares, em todas as discussões, levando essa bandeira. É imprescindível garantir que a criança esteja presente em todos esses lugares, em todas as pautas”, argumentou Lucilene Silva, representante do Comitê Gestor do Pontão Cultura e Infância.
Programação
O seminário será encerrado neste sábado (14) com a escuta de crianças entre 5 e 10 anos sobre o que elas desejam assistir nas telas. Ao longo de três dias de programação, foram discutidos temas como a superexposição às telas e os impactos para a saúde nos seus primeiros anos de vida; formas de conciliar tecnologia com a reação das crianças ao mundo audiovisual; a criação da identidade cultural e as propostas de formação audiovisual e educação digital para as crianças brasileiras.
“O audiovisual na infância é o tema do momento porque é a linguagem atual, é a linguagem que as crianças usam nas telas, é a linguagem que se comunicam. Por isso, é fundamental elas assistirem a filmes de qualidade com narrativas que são pensadas para elas”, avaliou Luiza Lins.
O Seminário integra a segunda edição da mostra internacional Meu Primeiro Cinema, com a exibição gratuita de 17 curtas-metragens em diferentes gêneros para as crianças de até 11 anos, especialmente alunos de escolas e creches públicas. A Mostra começou no dia 10 de setembro e terminará neste domingo (15).
O debate de sexta-feira contou com a presença da cineasta Gabriela Romeu, que fez o roteiro de dois filmes exibidos no festival: Disque Quilombola e Meninos e Reis. Ela aproveitou o espaço para reafirmar a importância de políticas públicas que ampliem o acesso das crianças a filmes nacionais, permitindo que tenham o contato com outras infâncias e realidades, para que possam se reconhecer nesse país multicultural.
“As crianças devem ter acesso a narrativas audiovisuais que possam fazer o que a arte faz para a gente, que é permitir que a gente saiba mais de nós mesmos. Então, que elas possam também serem contempladas como as narradoras de mundos que elas são”, acrescentou.
Também participaram da mesa a deputada de deral Erika Kokay e Maria Melo, do Instituto Alana.
Programação e mais informações:
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Fonte: Ministério da Cultura