Em sua 17ª edição, a Mostra de Cinema de Ouro Preto (CineOP) volta a movimentar o principal destino turÃstico do interior mineiro. Após dois anos explorando o formato online em decorrência da pandemia de covid-19, o evento irá novamente receber cinéfilos de todo o paÃs na cidade histórica. A programação, que se inicia hoje (22) e vai até a próxima segunda-feira (27), coloca em destaque filmes produzidos por diretores indÃgenas.
“Fizemos um mergulho nos acervos e tivemos acesso a um volume muito grande de trabalhos. Foi um esforço de pesquisa e buscamos oferecer uma programação que tenha uma diversidade tanto de temas como povos representados”, conta o curador Cleber Eduardo. Além da produção indÃgena, o evento possibilitará o contato com uma cinematografia diversa que passa, por exemplo, por ficções ambientadas nos anos 1980 e 1990 e por documentários sobre os cineastas Glauber Rocha e Ruy Guerra e sobre o músico Belchior.
Além das atividades presenciais, haverá uma programação virtual disponibilizada por meio do site da CineOP. A decisão foi tomada a partir da avaliação positiva das experiências de 2020 e 2021. “Acho que é algo que vai existir sempre agora nos festivais”, avalia Cleber Eduardo.
A organização do evento espera um público de 15 mil pessoas em Ouro Preto. Considerando a programação presencial e virtual, serão exibidos ao todo 151 filmes, sendo 20 longas-metragem, 14 médias e 117 curtas. São trabalhos provenientes de 21 estados brasileiros, além de outros 7 paÃses. Estão previstos ainda debates, oficinas, exposições, lançamentos de publicações, performances e shows. Toda programação é gratuita.
Embora as primeiras atividades do evento estejam começando hoje, a abertura oficial ocorre apenas amanhã (23), à s 19h30, quando os cineastas indÃgenas Ariel Ortega e Patricia Ferreira Yxapy serão homenageados na Praça Tiradentes e receberão o Troféu Vila Rica.
“A definição pelo trabalho de ambos, nascidos na cidade argentina de Missiones, na aldeia Tekoa Verá Guaçu, se dá especialmente pela forma como as questões culturais e polÃticas em seus filmes surge de natureza distintas, sendo pontuadas pela própria aproximação da cidade em relação à s terras de seu povo”, registra o site do evento.
Na sessão de abertura, o público assistirá Bicicletas de Nhanderú, um documentário de 48 minutos dirigido por Ariel Ortega e Patricia Ferreira Yxapy e finalizado em 2011. No filme, os diretores realizam uma imersão na espiritualidade presente no cotidiano dos Mbyá-Guarani da aldeia Koenju, em São Miguel das Missões (RS).
Cinema indÃgena
Dos 151 tÃtulos incluÃdos na programação, 35 são dirigidos por indÃgenas de 17 povos distintos. Segundo Cleber Eduardo, trata-se de uma mostra que busca oferecer um olhar retrospectivo da cinematografia indÃgena.
“Embora seja uma produção ainda muito recente, que começa no final dos anos 1990, já possui um percurso de mais de 20 anos. E dentro desse perÃodo há algumas mudanças. Por exemplo, no começo os filmes eram coproduzidos com indÃgenas e não indÃgenas. Progressivamente, os indÃgenas começam a assumir sozinhos a direção. Hoje, achamos que já existe um volume de filmes que permita observar alguns recortes de temas recorrentes, de formatos recorrentes, da diferenças entre povos”, diz o curador.
Cléber observa que a potência do cinema se articula com o drama da situação indÃgena na atualidade e considera que há dois macrosegmentos temáticos. Um deles está relacionado com a tradição espiritual e ritualÃstica e com a identidade de povo, revelando um esforço pela preservação de sua cultura. O outro envolve o contato conflituoso com a cultura urbana e com a cultura não indÃgena, do qual derivam intimidações polÃticas, invasões de terra e ações violentas.
“São problemas concretos que muitas vezes ameaçam a vida desses povos”, diz. Ele ressalta que as abordagens são bastante variadas, mas que é possÃvel ver, nos dois macrosegmentos, um movimento de resistência, seja polÃtico ou cultural.
Histórico
A CineOP é organizada pela Universo Produção, que também responde pela tradicional Mostra de Cinema de Tiradentes. Sua realização também conta com o apoio da Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo e da Secretaria de Cultura e Turismo de Minas Gerais.
Referência no calendário cinematográfico nacional, o evento surgiu em 2006 e tem como diferencial a estruturação em três eixos: patrimônio, educação e história. Para cada um deles, há uma vasta programação que mobiliza cineastas, pesquisadores, restauradores, professores, crÃticos, estudantes e cinéfilos em geral.
Dentro do eixo patrimônio, é realizado o Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros. Trata-se de um dos principais fóruns onde se discutem polÃticas públicas voltadas para preservação dos filmes nacionais. A pauta envolve temas como prioridades para a restauração, processos de digitalização, acesso da população aos filmes e organização de bancos de dados.
No eixo educação, o cinema indÃgena também estará no centro das discussões. Convidados internacionais irão debater sobre as possibilidades de práticas pedagógicas dos filmes.
Fonte: Agência Brasil