As dificuldades da China em conter o coronavírus de Wuhan podem aumentar o impacto da epidemia na segunda economia mundial, onde muitas fábricas ainda estão fechadas e milhões de consumidores estão trancados em casa.
A epidemia, que deixou quase 500 mortos e infectou 24 mil pessoas, levou as autoridades a impor restrições a viagens e fechar atrações turísticas, centros de lazer, empresas e escolas.
A província de Hubei, localização de Wubei, está isolada desde o final de janeiro e outras cidades também estão em quarentena. No total, mais de 70 milhões de pessoas na China estão atualmente confinadas.
Os economistas alertam para o possível freio econômico no primeiro trimestre do ano – e mesmo durante todo o ano – pelo efeito do coronavírus nas férias do Ano Novo Chinês, um dos momentos de maior consumo.
“O momento inoportuno em que o surto chegou, coincidindo com o Ano Novo Chinês, um período de maior transporte (…) bem como o confinamento das regiões afetadas, tudo isso afeta”, diz Louis Kuijs, da Oxford Economics.
A crise também ocorre quando o governo de Pequim tenta incentivar o crescimento, sobrecarregado pela queda na demanda externa e pela guerra comercial com os Estados Unidos.
Segundo os analistas da Moody’s, o vírus representa “uma séria ameaça crescente para as frágeis economias chinesa e global”. Muitas fábricas que fecharam durante o feriado de Ano Novo decidiram prolongar a suspensão das atividades.
Dado que Wuhan é uma das principais áreas chinesas de produção de automóveis, o efeito na economia pode ser importante.
Um porta-voz da Ford disse à AFP que a produção será retomada na próxima semana, mas que a epidemia já “suprimiu ou atrasou bastante as compras dos clientes”.
Dongfeng, uma das maiores empresas chinesas de automóveis, com sede em Wuhan, disse que a reabertura de suas fábricas “dependerá da prevenção e controle da epidemia”.
A agência de classificação financeira S&P espera que o adiamento da reabertura das fábricas afete a produção de automóveis em 2% e alertou que o impacto real pode ser maior se os trabalhadores decidirem deixar Hubei.
A Oxford Economics acredita que o vírus pode reduzir o crescimento chinês em pelo menos dois pontos percentuais no primeiro trimestre, embora melhore no segundo.
Em 2019, a China cresceu em seu ritmo mais lento em três décadas e as previsões para este ano de 5,4% poderão ser reduzidas novamente pelo coronavírus.
O principal problema continua sendo a queda no consumo interno causado pela epidemia, principalmente nos transportes, turismo e entretenimento.
No ano passado, o feriado de Ano Novo movimentou cerca de 150 bilhões de dólares em vendas, segundo a agência oficial Xinhua.
Por outro lado, as viagens durante esse período no ano passado movimentou 73 bilhões de dólares e a Cidade Proibida em Pequim recebeu meio milhão de visitantes.
Grandes redes como Nike e H&M fecharam suas lojas na China, enquanto Apple e Starbucks também suspenderam suas atividades em alguns locais.
O tráfego de passageiros no transporte aéreo, ferroviário, rodoviário e marítimo caiu mais de 70% em comparação com o ano passado.
Segundo analistas da Allianz e Euler Hermes, o impacto do coronavírus de Wuhan pode ser maior que o da epidemia de SARS em 2003, devido à importância da China na economia mundial.
Para apoiar a economia, o banco central chinês injetou mais de US$ 200 bilhões, embora os analistas da Moody’s digam que o efeito é “pouco claro”.
Por outro lado, a economista Iris Pang, da ING, ressalta que, após as medidas do banco central, o próximo passo será o estímulo fiscal do governo de Pequim.
Especialistas também apontam para um efeito dominó na economia global, porque a China, segundo a DBRS Morningstar, responde por 17% do Produto Interno Bruto (PIB) do mundo.
Fonte: O Povo