A turma do curso Técnico de Gastronomia da Escola Técnica Estadual (Etec) Santa Ifigênia, na Capital, realizou uma atividade diferente no fim do semestre: resgatar receitas de família. O professor da disciplina Gastronomia e Hospitalidade, Cláudio Arcanjo, propôs aos alunos o primeiro módulo que pensam em pratos, doces ou salgados, que os fizeram voltar no tempo em busca de uma sensação de afeto e acolhimento.
A disciplina traz a história da alimentação e, segundo o professor, receitas de família têm muita história. “Cada aluno é de uma região e tem uma relação particular com a comida”, conta Arcanjo.
Na atividade, os estudantes escreveram a mão a receita e sua origem – quem a dinâmica na família, como ela foi passada adiante, em que o benefício era servida. “A ideia é resgatar também os cadernos de receitas, que estão desaparecendo com a tecnologia e, com isso, perde-se um pouco da nossa história”, avisa o professor.
Do afetivo para o técnico
Depois dessa primeira etapa, os alunos elaboraram uma ficha técnica detalhada informando detalhes, modo de preparo, rendimento e outras observações. Em seguida, partiu-se para a execução em laboratório. “Teve bolo, bodó, pão – receitas simples e muito afetivas”, conta Arcanjo.
“É uma oportunidade de mostrar para o grupo a importância da cozinha numa época em que as pessoas querem que tudo seja muito prático – o delivery, a comida pronta e ultraprocessada”, avalia. “Temos que pensar de onde vem esse alimento, quem o produz. Há muitas variações no contexto da alimentação.”
O projeto não termina na apresentação dos pratos: o professor reúne essas receitas em um e-book.
Com açúcar e com afeto
Tema de estudo de historiadores, psicanalistas e antropólogos, a exemplo de Lévi-Strauss, a alimentação, com sua memória de sabores e aromas, pode nos levar a viagens sensoriais – ou reais. No filme biográfico Lion, Uma Jornada para Casa (Garth Davis, 2016), por exemplo, o doce Jalebi desperta no personagem Saroo uma memória de sua infância passada na Índia, antes de sua adoção por um casal australiano. É nesse instante que começa a jornada de que fala o título.
A importância dos doces foi tema do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de um grupo de três alunas do curso Técnico de Nutrição e Dietética na Etec Sales Gomes, de Tatuí. Os estudantes lançaram um questionário por meio de uma plataforma de pesquisa para investigar o poder que os têm doces de marcar a memória.
Cidade dos doces
Em Tatuí, cidade que leva o título de Terra dos Doces Caseiros , é natural que os três membros da equipe tenham alguma relação com essas iguarias: Maria Fernanda Silva produz bolos e doces sob encomenda e Rosielly Santos trabalha em uma loja de chocolates. Manoela Pavanelli Pereira Barbosa adora confeitaria e pretende estudar Gastronomia. “O resultado da pesquisa nos mostrou que o doce está muito presente na vida das pessoas, cada uma com uma particularidade em relação ao açúcar”, acredita Manuela.
Rosielly veio do Nordeste há quatro anos, trazendo na bagagem receitas de pratos típicos que fazem parte da cultura local, além das produções familiares. “Percebemos que é natural a memória afetiva relacionada ao doce, seja na infância com os pais, avós e tias ou em uma confeitaria, em um momento especial com pessoas queridas”, afirma um estudante.
Nas fotos abaixo, as receitas produzidas durante a atividade de fim de semestre da turma de Cláudio Arcanjo, na Etec Santa Ifigênia.
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