O número de motoristas por aplicativo cresceu 35% no Brasil entre 2022 e 2024, saltando de 1.274.281 para 1.721.614 profissionais, enquanto os entregadores registraram expansão de 18%, passando de 385.742 para 455.621 trabalhadores.
Os dados constam da segunda edição da pesquisa “Mobilidade Urbana e Logística de Entregas”, realizada pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) a pedido da Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec).
A remuneração também apresentou evolução positiva no período analisado: a renda bruta média por hora dos motoristas atingiu R$ 47, representando crescimento real de 5% em comparação com 2022. Para os entregadores, o valor médio ficou em R$ 31,33 por hora, com o mesmo percentual de aumento real frente à inflação do período.
No Brasil, 2,2 milhões de pessoas atuam como motoristas ou entregadores por aplicativo. Acompanhando essa expansão, serviços de aluguel de carro de aplicativo em São Paulo ampliam sua atuação no país.
48% dos entregadores ganham até 3 salários mínimos
A pesquisa traçou um panorama detalhado do perfil desses profissionais. Entre os motoristas, a idade média é de 41 anos, com predominância masculina (94%). Já os entregadores apresentam faixa etária média de 34 anos, sendo 98% do sexo masculino. A escolaridade mostra que 66% dos motoristas e 63% dos entregadores têm ensino médio completo.
“Nas entrevistas, percebemos que muitas dessas pessoas estão em busca de melhores remunerações e, dependendo do trabalho que tiveram anteriormente, essa atividade se configura uma alternativa, em especial para os motoristas”, afirmou o coordenador do Núcleo de Desenvolvimento do Cebrap, Victor Callil, em entrevista publicada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A distribuição de renda familiar revela que 38% dos motoristas se encontram na faixa de 3 a 5 salários mínimos, enquanto 30% recebem até 3 salários mínimos. Entre os entregadores, 48% têm renda familiar de até 3 salários mínimos e 34% estão na faixa de 3 a 5 salários.
Quase metade dos profissionais tem outras fontes de renda
Os motoristas passam, em média, 85 horas por mês em viagens, não considerando o tempo de espera entre corridas, enquanto os entregadores registram 39 horas mensais de atividade.
Quanto à exclusividade, 58% dos motoristas e 54% dos entregadores dependem somente do trabalho por aplicativo como fonte de renda. Contudo, 42% dos motoristas e 46% dos entregadores atuam em outras áreas.
Na capital paulista, uma pesquisa realizada pelo Instituto Badra com 1.260 motoristas revelou particularidades regionais: 72% trabalham exclusivamente como motoristas de aplicativo, com renda líquida média de R$ 3,8 mil mensais.
A demanda por carro para Uber em Porto Alegre e outras cidades também reflete essa percepção de crescimento do serviço em diferentes regiões do país.
Quatro em cada dez motoristas estão sem cobertura previdenciária
Um dos pontos de atenção identificados pela pesquisa relaciona-se à cobertura previdenciária. Conforme os dados da Amobitec, 40% dos motoristas e 38% dos entregadores não contribuem para o INSS, nem possuem previdência privada.
Uma parte mantém cobertura como empregados em outras atividades (21% e 27%, respectivamente) ou através da figura jurídica de Microempreendedor Individual, o MEI (27% em ambas as categorias).
O diretor-executivo da Amobitec, André Porto, destaca, em um comunicado oficial da associação, a urgência de regulamentação para que “respeitando-se as características de autonomia e flexibilidade do modelo de negócio, os trabalhadores tenham acesso a benefícios previdenciários básicos, como auxílio-doença e aposentadoria”.
Trabalho por plataformas digitais deve seguir em expansão
A flexibilidade segue como o principal fator de atração da atividade. Mais de 60% dos profissionais, motoristas e entregadores, manifestaram interesse em continuar trabalhando por aplicativo.
A consolidação do setor reflete mudanças mais amplas no mercado de trabalho brasileiro, onde a busca por alternativas de renda e maior flexibilidade profissional tem influenciado as escolhas dos trabalhadores.
Os números do Cebrap confirmam que essa tendência deve se manter, com perspectivas de crescimento contínuo do contingente de profissionais que optam pelo trabalho por meio de plataformas digitais.