FELIPE MAIA (FOLHAPRESS) – “Bons artistas copiam, grandes artistas roubam.” Atribuída a nomes que vão de Leonardo da Vinci a Pablo Picasso, a frase apócrifa tem seu valor. Em seu novo álbum, “Kisses”, Anitta rouba tudo o que pode para chegar a seu objetivo –ser uma das grandes artistas da música latino-americana.
Seja em forma de homenagem, seja em forma de apropriação, a cantora se vale de nomes de peso e gêneros de sucesso para surfar na onda latina que ganha o mundo. “Kisses” é um álbum visual. Clipes ilustram cada uma das dez faixas do disco, num diálogo entre som e imagem. Esse novo tipo de álbum conceitual já poderia ser observado no Brasil em produções lançadas no ano passado, como “Oyá Tempo”, da cantora Luiza Lian, ou “Amar É para os Fortes”, do rapper Marcelo D2.
Em sua proposta, Anitta faz clara referência à cantora Beyoncé. Foi ela quem lançou a ideia, com o disco “Lemonade” há três anos. Em uma semana, o álbum da artista americana teve mais de 116 milhões de acessos em serviços de streaming e no YouTube. Em um dia, Anitta alcançou cerca de 20% desse número.
Todos os clipes do álbum passaram a marca de 1 milhão de visualizações no YouTube em pouco mais de 24 horas – a faixa menos vista era a parceria com Caetano Veloso. No Spotify, as dez canções do álbum aparecem entre as 30 músicas mais ouvidas no Brasil. O feito, inédito entre outros artistas brasileiros, é fruto dos mais de 5 milhões de acessos que as músicas do disco acumulam no serviço de streaming desde a última sexta. O número desbancou o álbum “Thank U, Next”, da americana Ariana Grande, como melhor estreia na plataforma.
Muito desse hype, no entanto, se deve às inúmeras parcerias do disco. Entre produtores, compositores e diretores, há cerca de 50 nomes de peso no álbum. Eles vão da jovem popstar americana Becky G ao DJ sueco Alesso, passando por artistas latino-americanos e compositores de rap.
Anitta não canta só em espanhol, em inglês ou em português. Ela também quer chegar a outros mercados por meio da linguagem musical em voga no mundo pop. E, para isso, ela se vale de gente relevante. Prince Royce, cantor de bachata com quem Anitta estrela a faixa “Rosa”, tem um clipe com mais de 1 bilhão de acessos. Swae Lee, parceiro da cantora na faixa “Poquito”, é um dos rappers mais requisitados nos Estados Unidos nos últimos anos ao lado do irmão na dupla Rae Sremmurd.
Os clipes acentuam o tom de mosaico que Anitta impõe ao disco. Rihanna, Katy Perry, Christina Aguilera e Cardi B são alguns dos nomes que vem à mente nas imagens dos vídeos de “Banana” e “Juego”. As letras seguem a cartilha da cantora nos últimos anos. Anitta fala de uma mulher decidida, que paga suas contas e faz o que bem entende. Embora tenha sido alvo de polêmicas envolvendo as motivações e os objetivos dessa postura, Anitta segue ventilando ideias de afirmação feminina em todas as faixas do álbum.
Ouvidas e vistas separadamente, as canções de “Kisses” parecem pouco originais mesmo com tantas referências e parcerias. Em conjunto, porém, elas trazem alguma diversidade. O disco guarda sua unidade nas letras, mas também no contraste marcado entre tempos e batidas de timbres graves e médios.
Esses elementos, originários do hip-hop, são hoje onipresentes no pop global em formas como reggaeton, dancehall e baile funk. O uso sutil ou descarado desses gêneros dá versatilidade ao disco. É o caso da faixa “Onda Diferente”. Na produção dos cariocas Papatinho e DJ Will da 22, Anitta canta ao lado de Ludmilla sobre a crua levada do funk 150 BPM para em seguida dar espaço à prosódia espaçada do rapper Snoop Dogg.