A gestão de Ricardo Cappelli à frente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) entrou no centro de uma crise política e institucional. Documentos revelados pelo Jornal da Record e dados do Portal da Transparência mostram um salto expressivo nos gastos de comunicação da agência, que antes investia cerca de R$ 115 mil por mês. Sob Cappelli, a despesa disparou para R$ 560 mil mensais — um aumento de 386%. O montante acompanha a reformulação digital da ABDI, mas também a publicação e o impulsionamento de conteúdos de forte teor político, o que acendeu alertas em Brasília sobre possível desvio de finalidade.

A reportagem apresentada pela emissora aponta que, entre agosto de 2023 e outubro de 2025, Cappelli impulsionou quase 800 publicações em plataformas digitais. O investimento total chegou a R$ 188 mil, com 29 milhões de impressões geradas. Os dados mostram ainda que o telefone cadastrado nos impulsionamentos era o do gerente de comunicação da ABDI, Bruno Trezena, posteriormente substituído por outro servidor.

A página oficial de Cappelli no Facebook tem 11 administradores, número característico de estruturas de campanha. A combinação entre volume de publicações, dinheiro público e horário de expediente levantou suspeitas sobre a natureza do trabalho executado.

Diante das informações levantadas, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) protocolou um requerimento de informações no Senado e pedidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Ela quer esclarecimentos sobre o possível uso da ABDI como estrutura paralela de comunicação voltada à pré-campanha de Cappelli ao Governo do Distrito Federal. O material também será encaminhado à Controladoria-Geral da União (CGU).

No Distrito Federal, o deputado distrital Daniel de Castro solicitou folha de ponto, registros de frequência, autorizações de atividade externa e deslocamentos oficiais de servidores ligados às publicações. Segundo o parlamentar, há indícios claros de que Cappelli estaria realizando publicações políticas durante o expediente, o que poderia configurar campanha antecipada. Em sua avaliação: “Esse cidadão está o tempo todo na rua, desgastando o governo atual numa perspectiva política de pré-candidatura, num flagrante delito de campanha extemporânea.”

O advogado Arthur Rollo, especialista em Direito Público, também analisou o caso. Para ele, usar estrutura pública para autopromoção pode configurar improbidade administrativa e até crime de peculato. Ele também destaca que o aumento repentino dos gastos de comunicação indica possível dolo. A avaliação técnica reforça o peso das denúncias.

Brasília já presenciou momentos em que fronteiras entre ações institucionais e estratégias eleitorais se confundem. Mas quando há documentos, valores elevados, relatórios de impulsionamento e publicações direcionadas, o debate ultrapassa o campo político e entra no âmbito administrativo e ético. Agora, cabe à CGU, ao Ministério Público e a órgãos de controle esclarecer para onde foi o dinheiro, quem autorizou os gastos e qual objetivo justificou tamanha estrutura.