Caravanas de diversas regiões do país ocupam, nesta terça-feira (25), a Esplanada dos Ministérios para a realização da 2ª Marcha das Mulheres Negras. Com o tema “Por Reparação e Bem Viver”, a mobilização nacional tem expectativa de reunir 1 milhão de pessoas em Brasília. O ato é organizado pelo Comitê Nacional da Marcha das Mulheres Negras e coloca em evidência pautas essenciais para a vida das mulheres negras brasileiras, entre elas moradia, emprego, segurança, combate à violência e políticas de reparação histórica.

A caminhada integra a programação da Semana por Reparação e Bem-Viver, que ocorre entre 20 e 26 de novembro e reúne debates, rodas de conversa, manifestações culturais e atividades que exaltam o protagonismo das mulheres negras. A segunda edição da marcha acontece no mês da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, e marca uma década da primeira grande mobilização, realizada em 2015, quando mais de 100 mil mulheres estiveram em Brasília contra o racismo, o feminicídio, a violência doméstica e a violência contra a juventude negra.

Este ano, a marcha reforça a defesa da mobilidade social das mulheres negras, considerando os danos estruturais deixados por séculos de escravidão e que ainda hoje representam barreiras ao desenvolvimento econômico dessa população. A programação oficial tem início às 9h, com concentração no Museu da República, próximo à Rodoviária do Plano Piloto, onde haverá roda de capoeira e cortejo de berimbaus. No mesmo horário, o Congresso Nacional promove sessão solene em homenagem à marcha. Por volta das 11h, está prevista a saída do cortejo pela Esplanada dos Ministérios em direção ao gramado do Congresso Nacional. O jingle oficial, lançado para embalar a mobilização, reforça a mensagem do movimento com o verso “Mete marcha negona rumo ao infinito. Bote a base, solte o grito! Bem-viver é a nossa potência, é a nossa busca, é reparação!”.

A partir das 16h, apresentações musicais devem reunir artistas engajadas com pautas sobre negritude, antirracismo e feminismo. Entre as atrações confirmadas estão Larissa Luz, Luanna Hansen, Ebony, Prethaís, Célia Sampaio e Núbia. A marcha também se propõe a fortalecer articulações globais, reunindo mulheres negras da diáspora e representantes de países do continente africano, em uma aliança internacional contra o racismo, o colonialismo e o patriarcado. Lideranças do Equador participam da mobilização para ampliar a visibilidade das lutas de mulheres afrolatinas e afrocaribenhas e consolidar estratégias de fortalecimento político e cultural. A ativista Ines Morales Lastra, de San Lorenzo, destaca que a presença das delegações estrangeiras busca honrar a memória ancestral e ecoar a voz das mulheres negras do continente.

Entre as presenças marcantes desta edição está Melina de Lima, neta da antropóloga e ativista Lélia Gonzalez, referência fundamental no feminismo negro no Brasil e criadora dos conceitos de “amefricanidade” e “pretuguês”. No início de novembro, Melina esteve em Brasília para receber, em nome da avó, o título de Doutora Honoris Causa concedido pela Universidade de Brasília. Atualmente, ela integra a direção do Instituto Memorial Lélia Gonzalez e atua na preservação e difusão do legado intelectual da antropóloga.

As meninas e mulheres negras representam o maior grupo populacional do país, somando 60,6 milhões de brasileiras entre pretas e pardas — número que corresponde a aproximadamente 28% da população nacional. A Marcha das Mulheres Negras de 2025 reforça a luta desse grupo por justiça social, oportunidades iguais e políticas que garantam dignidade, bem viver e reparação histórica.

A programação completa da 2ª Marcha das Mulheres Negras e da Semana por Reparação e Bem-Viver segue até quarta-feira (26).