No segundo dia da Cúpula de Líderes do G20, em Joanesburgo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou um alerta contundente sobre o impacto da inteligência artificial, da exploração de minerais críticos e da proteção ao trabalho humano. Para Lula, a forma como esses três vetores serão integrados definirá o futuro econômico e social do planeta.

Ao participar do painel “Um Futuro Justo e Equitativo para Todos”, neste domingo (23/11), o presidente afirmou que a inovação tecnológica não pode aprofundar desigualdades internacionais. Ele defendeu que países detentores de recursos naturais estratégicos deixem de ser tratados como simples exportadores de matéria-prima.

“Os países com grande concentração de reservas de minerais não podem ser vistos como meros fornecedores, enquanto seguem à margem da inovação tecnológica”, disse.

Lula destacou que o principal desafio não é apenas quem possui esses recursos, mas quem detém o conhecimento e o valor agregado derivados deles. Ele citou a criação do Conselho Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos, reforçando que soberania significa transformar riqueza mineral em desenvolvimento social, tecnológico e industrial.

“Colonialismo digital”: presidente cobra governança da IA liderada pela ONU

Ao tratar da inteligência artificial, Lula chamou atenção para um cenário de desigualdade profunda. Segundo ele, 2,6 bilhões de pessoas ainda estão fora do ambiente digital, enquanto o acesso à internet chega a 93% nos países ricos e não ultrapassa 30% nas nações mais pobres.

“Quando poucos controlam algoritmos, dados e infraestruturas, a inovação passa a gerar exclusão. É fundamental evitar uma nova forma de colonialismo: o digital”, afirmou.

O presidente pediu que os países do G20 assumam o debate sobre a governança global da IA, com protagonismo das Nações Unidas. Ele também elogiou a Iniciativa IA para a África, lançada pelo governo sul-africano.

Trabalho decente: 40% da força de trabalho global está exposta à IA

Lula enfatizou que não haverá futuro equitativo sem proteção aos trabalhadores. De acordo com o presidente, 40% dos trabalhadores do mundo atuam em funções expostas à automação ou complementação pela inteligência artificial.

“Cada painel solar, cada chip, cada linha de código devem carregar a marca da inclusão social. A tecnologia deve fortalecer, e não fragilizar direitos humanos e trabalhistas.”

Desigualdade como emergência global e transição energética

No sábado (22/11), Lula já havia defendido que a desigualdade seja tratada como “emergência global”. Propôs mecanismos financeiros inovadores, como troca de dívida por ações climáticas e taxação dos super-ricos.

O presidente também reforçou que o G20 é o fórum ideal para definir o Mapa do Caminho da transição energética, com abandono progressivo dos combustíveis fósseis. Além disso, participou de reuniões com o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, e com os líderes da África do Sul e da Índia.

G20: papel estratégico e prioridades da presidência sul-africana

Criado em 1999, o G20 reúne países responsáveis por 80% do PIB mundial, 75% do comércio internacional e 60% da população do planeta. A África do Sul lidera os trabalhos deste ano sob o lema “Solidariedade, Igualdade e Sustentabilidade”, com quatro eixos prioritários:

  • Fortalecimento da resiliência a desastres

  • Sustentabilidade da dívida em países pobres

  • Financiamento para transição energética justa

  • Minerais críticos como motores de desenvolvimento

O grupo também desempenha papel central no comércio mundial. Em 2005, o total exportado pelo G20 foi de US$ 8,2 trilhões; em 2021, chegou a US$ 17 trilhões, um avanço de 107%.

O Brasil exporta para integrantes do bloco produtos como aeronaves, petróleo, minérios metálicos, ferro, aço e itens do agronegócio.