Comunidades e organizações locais estão na linha de frente do enfrentamento à crise climática no Brasil. Povos indígenas, quilombolas, agricultores familiares, mulheres, coletivos urbanos e populações tradicionais desenvolvem, a partir de seus territórios, estratégias para resistir a secas prolongadas, enchentes, queimadas e outros eventos extremos que se intensificaram nos últimos anos.

Essas experiências estão reunidas na plataforma Comuá pelo Clima, criada pela Rede Comuá, que congrega organizações, fundos e fundações comunitárias voltadas à justiça socioambiental. O material reúne dezenas de histórias que refletem a diversidade de iniciativas apoiadas pelas organizações da rede — ações que impactam diretamente a vida de quase meio milhão de pessoas em todo o país.

“As organizações da Rede Comuá apoiam esses grupos e movimentos há décadas, entendendo a mudança climática como transversal a outras agendas importantes de acesso a direitos. As soluções locais são mais assertivas no enfrentamento dos efeitos extremos do clima, já que partem de quem vive nos territórios e são informadas por quem vive a realidade local”, explica Jonathas Azevedo, da direção executiva da Rede Comuá.

As iniciativas estão presentes em 25 estados brasileiros, abrangendo todos os biomas, incluindo áreas de maior vulnerabilidade, como a Amazônia Legal, o MATOPIBA e as regiões costeiras. Segundo a Rede Comuá, as soluções apoiadas se destacam por partir da realidade das comunidades e incorporarem saberes ancestrais e empíricos, garantindo respostas mais eficazes diante das mudanças do clima.

Entre as histórias reunidas pela plataforma estão:

  • a brigada de incêndio formada por mulheres Apinajé, no Tocantins, que protege territórios do Cerrado e da Amazônia;

  • o trabalho das mulheres do Assentamento Filhos de Sepé, no Rio Grande do Sul, que criaram viveiros comunitários para reflorestar áreas afetadas pelas enchentes históricas de 2024;

  • as comunidades da Baixada Maranhense, que mantêm bancos de sementes crioulas e fundos solidários para garantir soberania alimentar;

  • e os agricultores da Rede Povos da Mata, na Bahia, que estruturaram sistemas agroecológicos com certificação participativa, promovendo renda e preservação ambiental.

“Em todas as regiões do país e em todos os biomas, há grupos e comunidades desenvolvendo soluções locais para transformar suas realidades. Reconhecer seus saberes é fundamental para o Brasil avançar em mitigação, adaptação e resiliência de modo inclusivo e sustentável”, complementa Azevedo.


Filantropia e financiamento climático

A experiência também chama atenção para os mecanismos de financiamento. A Rede Comuá reúne organizações que atuam há décadas na chamada filantropia de justiça socioambiental, que se diferencia por desburocratizar o acesso a recursos e atuar diretamente com grupos locais.

Esse modelo tem se mostrado estratégico para apoiar a ação comunitária no enfrentamento às mudanças climáticas, contribuindo para que comunidades e territórios se adaptem e fortaleçam sua resiliência. A plataforma é também um chamado à filantropia e a outros mecanismos de financiamento climático, incentivando a criação de arranjos que garantam que os recursos cheguem aos territórios e apoiem soluções que promovam adaptação, mitigação e proteção da biodiversidade.


Comuá pelo Clima e a COP30

A plataforma Comuá pelo Clima está em constante atualização, reunindo histórias e informações sobre as iniciativas apoiadas pelas organizações da Rede. A cada novo ciclo, novos projetos e experiências são incorporados, revelando a força das soluções locais e a necessidade de ampliar o apoio e o financiamento.

Com a COP30 se aproximando — faltam apenas 18 dias para o início do evento em Belém (PA) —, a Rede Comuá reforça a importância de dar visibilidade a essas experiências que mantêm vivos os biomas e a biodiversidade do país. A rede estará presente na conferência com A Casa Sul Global, espaço de articulação de redes do Sul Global, reforçando a urgência de ampliar o financiamento climático para comunidades que já vivem os efeitos da crise.


Sobre a Rede Comuá

A Rede Comuá reúne organizações doadoras independentes que atuam nas áreas de justiça socioambiental, direitos humanos e desenvolvimento comunitário, mobilizando recursos para apoiar grupos de base, movimentos e organizações da sociedade civil na defesa de direitos.

📍 Saiba mais em: redecomua.org.br