Perfeita contradição! Enquanto a Prefeitura do Rio de Janeiro desembolsa cifras milionárias para bancar shows de artistas internacionais, como o recente megashow de Lady Gaga que custou cerca de R$ 30 milhões aos cofres públicos, o prefeito Eduardo Paes fecha as portas para músicos locais que se apresentam nos quiosques da orla carioca. A nova determinação da prefeitura proíbe música ao vivo e até mesmo som ambiente nos quiosques, afetando diretamente centenas de trabalhadores que vivem da arte e da cultura local.

O discurso de que a medida visa organizar a cidade, coibir o excesso de barulho e manter a ordem na orla não convence, principalmente diante dos investimentos milionários em eventos internacionais. Para megaeventos, dinheiro não falta. Mas quando se trata de valorizar quem leva cultura para as praias todos os dias, a ordem é calar.

A revolta ganhou força. Na manhã desta terça-feira, trabalhadores da orla  entre eles músicos, barraqueiros e comerciantes  ocuparam a Câmara de Vereadores do Rio para protestar contra o decreto que sufoca a cultura de rua carioca. Vestidos de preto, em sinal de luto pela cultura, eles cantaram sambas de resistência e pediram respeito à história e ao direito de trabalhar. A mobilização aconteceu durante uma audiência pública que debateu as mudanças impostas pela prefeitura. Parlamentares, tanto da base quanto da oposição, se posicionaram contra os excessos das novas regras e se comprometeram a criar uma comissão para tentar rever as medidas.

A incoerência da gestão municipal escancara uma política que privilegia o que vem de fora e despreza quem movimenta a economia local todos os dias — seja com sua arte, seja com sua música, seja com sua história. Enquanto a prefeitura celebra os milhões que eventos estrangeiros trazem, sufoca quem luta diariamente para sobreviver com dignidade e levar alegria aos frequentadores das praias do Rio.

 

Cris Oliveira