Carla Rodrigues
Especial para o Jornal de Brasília

O que seria a solução para o Lixão da Estrutural pode acabar virando outro problema na vida dos moradores do Distrito Federal. Por conta do vergonhoso atraso no Plano de Resíduos Sólidos, que prevê locais adequados para a coleta de lixo, hoje a ideia é fazer um aterro sanitário em Samambaia, com custo previsto de R$ 13 milhões.

A proposta incomoda residentes da região e a situação está em pé de guerra. Próximo do local onde seria instalado o aterro há quase 200 famílias que teriam de ser removidas, a Escola Classe Guariroba e uma nascente de água límpida. Além disso, eles temem o impacto que a obra teria no Parque Gatumé. Mesmo assim, segundo a assessoria da Secretaria de Meio Ambiente (Semarh), a remoção do antigo Lixão já é uma realidade.

Com cerca de 300 mil moradores, Samambaia deve receber, se o projeto sair do papel, mais de 60 mil toneladas de lixo do DF inteiro.

Para a comunidade, cada região administrativa deveria ter o seu próprio miniaterro, diminuindo o impacto ambiental.

Cheiro

“Quando viemos para cá, não havia Lixão. Já nos basta conviver com a estação de tratamento de esgoto da Caesb, cujo cheiro é insuportável. E, também, temos várias nascentes ao redor do local escolhido para o aterro”, argumenta, indignado, o prefeito comunitário da quadra 1.029 de Samambaia, Deílson Pereira.

A situação, que já era grave, está pior. Depois de muitas tentativas de instalação do aterro na área, o GDF finalmente segue com as obras de acesso ao futuro Lixão. “Há 12 anos vivo aqui. Tenho três filhos, mulher e uma casa nessa terra. Sabe o que o GDF me prometeu? Retirar a gente para nos colocar em um albergue”, diz o caseiro Anderson Cabral, 29.

 

Na Estrutural, só lamentações

Na outra ponta, os catadores e moradores da Estrutural também não gostam da ideia de perder o Lixão. Acostumados a terem o local como fonte de renda, muitos relatam que centenas de famílias ficarão sem sustento caso a área seja removida para Samambaia.

 

“Se deslocarem para lá, muito pai de família vai ficar desempregado. Essa é a verdade da situação”, advertiu a catadora Maria Odete Sousa, 54 anos. “Vivo disso há mais de 20 anos, não saberia fazer outra coisa. E sabemos que não podemos contar com o governo para nos ajudar”, disse ainda.

 

Esforço

Adão de Oliveira, também catador do Lixão da Estrutural, acorda todos os dias às 5h30 para trabalhar no local. Segundo ele, são mais de 12 horas de esforço, pois ele só sai da área após as 22h.

“Faço isso pelos meus três filhos. Consigo até tirar um dinheiro bom, mas, sem esse lugar, vou perder minha renda e as poucas oportunidades que tenho”, afirma. Em geral, a comunidade da Estrutural, aponta que “não é a favor da remoção do Lixão, de jeito nenhum”.

Problemas com o TCDF

Após analisar o edital, em janeiro deste ano, lançado pelo Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal, para contratação de serviços de operação e manutenção do Aterro Sanitário Oeste, localizado em Samambaia, o Tribunal de Contas do DF (TCDF) embargou a obra.

Em nota, o Tribunal informou que encontrou falhas relacionadas ao projeto básico, restrição da competitividade e preços bem acima daqueles praticados pelo próprio SLU. O custo unitário de R$ 45,77 por tonelada de resíduo está bem acima do valor de R$ 16,90 pagos na operação e manutenção do Aterro do Jóquei (Concorrência nº 01/2011). E há divergência entre a quantidade mensal estimada para o recebimento de resíduos estabelecido no Projeto Básico (68 mil toneladas) e a apontada no Projeto Executivo (55 mil toneladas).

 

Irregularidades

 

Na sessão, o TCDF encontrou indícios de irregularidades na Concorrência de Serviços 03/2012 – SLU/DF (Processo 30.798/12), cujo objeto é a coleta, transporte e descarga de resíduos sólidos domiciliares, institucionais e comerciais recicláveis nas áreas urbanas e rurais do Distrito Federal.

 

“A análise do processo é normal. Mas esperávamos mais agilidade do órgão para que as obras não ficassem paradas. Agora, só deve voltar após o processo dentro do TCDF”, informou a assessoria da Secretaria de Meio Ambiente.

 

Estudantes com medo do mau cheiro

O drama é enfrentado pelos mais de 250 alunos da Escola Classe Guariroba, também ameaçados com a construção do aterro. Sem conversas concretas com o GDF, os professores reclamam da falta de destino da escola.

“Vivemos uma situação ultrapassada na escola. Até hoje não temos ideia de quando, de fato, vamos mudar para outro local. Essas crianças não podem sofrer com essa mudança”, adverte o vice-diretor do colégio, Fernando Travassos.

Para o GDF, até o final de 2014, o local será realidade. Isso se o Tribunal de Contas do Distrito Federal não embargar de vez a obra.

“Nosso medo é de que daqui em diante os interesses políticos fiquem acima das nossas necessidades de cidadãos. Eles prometem muita coisa, mas nunca fazem nada. Tenho filhos e netos que trabalham aqui como catador. O que a gente vai fazer?”, questiona a catadora Francisca Rodrigues, 68 anos, que trabalha há 30 anos, no local.

 

 

Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.br