Pacientes sentem dores conforme cultura e etnia

Tratamento de dores e comunicação alinhada com o paciente pediátrico foi um dos temas trazidos pelo Congresso Internacional da Criança com Condições Complexas de Saúde, no seu terceiro dia (26). A palestra envolveu reflexões das dimensões não verbais do cuidado com as crianças e considerações da multidimensionalidade da dor total durante o tratamento de doenças.

O médico Marcos André Nogueira, especialista em dor do Hospital da Criança de Brasília (HCB), tocou sua apresentação no auditório da CICCS com o caráter multifacetário das dores que afetam os pacientes; o especialista explica que elementos externos colocam a criança em uma sensibilidade mais aguçada da dor. Questões sociais, familiares e até mesmo espirituais – considerando crenças – podem afetar aquele indivíduo durante o tratamento.

Nogueira deu exemplos das questões que podem afetar o paciente, como o bullying, instabilidade familiar, inseguranças alimentares e financeiras e, no caso de crianças que vivem em países com risco de guerras, o temor das questões bélicas. Tudo isso, concluiu o médico, “resulta na dor total enfrentada pela criança, demonstrando que vai além da dor física causada pela doença”.

Considerando o fato de o Brasil ser um foco de imigrantes de outros países e de, por isso, atender essas pessoas também em seu sistema de saúde, o médico trouxe nesta conferência um olhar multicultural, pautando que existem diferentes escalas de dor para cada população. Ele afirma que crianças de diferentes lugares do mundo podem perceber e expressar a intensidade de uma dor de formas distintas. O médico explicou que pacientes com influências étnicas de países com baixo desenvolvimento econômico, em situação de carência, tendem a ser mais tolerantes a dores, e a deixar de expressá-las, apesar de senti-las. Isso por uma característica cultural de passar por determinados sofrimentos e não os externalizar, caso não estejam no seu limite extremo.

O médico explica que é necessário haver um carinho, e até mesmo tato, para lidar com esses pacientes que, em alguns casos, mesmo não estando em condições graves de saúde, são complexos de tratar no âmbito da dor.

Além disso, o especialista trouxe terapias integrativas como uma alternativa ao uso farmacológico, a exemplo da fisioterapia, no lugar de analgésicos, terapia ocupacional em substituição a antinflamatórios, psicoterapia em vez dos opióides, entre outros.

Maria Júlia Paes da Silva, professora da USP, contribuiu com o tema Comunicação tem remédio, como conciliar disciplina e afetividade no ambiente de saúde. A pesquisadora explica: “é preciso alinhar o toque instrumental ao toque afetivo. Ser capaz de alinhar a dimensão verbal da não verbal é fundamental”. Afim de melhorar o ambiente com uma abordagem leve e trazer o que há de melhor no atendimento, Paes afirma a importância também da linguagem não verbal, das expressões faciais e do corpo ao lidar e dialogar com as crianças e familiares. Tudo isso, em busca de uma maior consideração do paciente, levando em conta uma perspectiva humanizada de atendimento.

*Com informações do HCB

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Fonte: Agência Brasília

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