Com os olhos brilhando e um sorriso de ponta a ponta no rosto, o professor municipal Jackson Santos, de 42 anos, contemplou, pela primeira vez, nessa terça-feira (17), o museu a céu aberto que é Brasília. Junto com a esposa, a auxiliar de serviços gerais Sueide Ferreira, de 37 anos, ele aproveitou as férias para conhecer a Esplanada dos Ministérios, que vê com frequência pela televisão, e um pouco da própria história por meio dos museus da capital federal.
O casal mora em Porto Velho (RO) e passou a tarde visitando os corredores do Museu Nacional da República, administrado pelo Governo do Distrito Federal (GDF). “É nossa primeira vez aqui. Alguns parentes vieram durante a pandemia, mas não conseguiram entrar. Estamos bem animados. Vamos conhecer as obras, tirar fotos e depois mostrar para família em casa”, conta Jackson.
Nesta quarta-feira (18), é comemorado o Dia Internacional dos Museus, criado em 1977 pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM) para valorização dos equipamentos culturais por todo o mundo. No Distrito Federal, há cerca de 90 museus cadastrados no Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), autarquia vinculada ao Ministério do Turismo. O GDF, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), é responsável pela gestão de cinco destes espaços que reúnem diferentes facetas da história. Além do Museu Nacional da República, há o Memorial dos Povos Indígenas, Museu Vivo da Memória Candanga, Museu de Arte de Brasília e Catetinho.
Para manter os espaços adequados para visitação e preservar os acervos, a Secec investe em manutenções e reformas. Em 2019, foram implementados R$ 1,486 milhão. Em 2020, o montante foi de R$ 363,8 mil, e em 2021, de R$ 1,405 milhão. No total, os três anos somam R$ 3,255 milhões. Há também aportes de captações e realizadas diretamente pelo GDF.
Atualmente, os cinco estão funcionando conforme a programação e com entrada gratuita. “Os museus, sob a tutela da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, estão em plena atividade artística, de portas abertas para a comunidade e cumprindo sua missão de preservar a memória e criar experiências de conhecimento e transformação para a população”, afirma o secretário da pasta, Bartolomeu Rodrigues.
O subsecretário do Patrimônio Público do DF e coordenador dos museus, Aquiles Alencar Brayner, explica que os espaços exercem uma função social patrimonialista, de preservar o passado da sociedade para guiar o futuro. “Uma característica do museu é a identidade própria, formada pelo acervo museológico que se dedica a representar uma cultura. E isso se relaciona com a educação patrimonial, em que o museu ensina ao cidadão que a história é coletiva, e aí ele começa a se preocupar em documentar e guardar o presente, porque aquilo um dia será passado, memória. É uma experiência inenarrável que deve ser incentivada o máximo possível”, informa Brayner.
Roteiro
Em 21 de abril deste ano, no aniversário de 62 anos de Brasília, foi reaberto o Museu do Catetinho. O espaço, que foi a primeira residência oficial de Juscelino Kubitschek, estava fechado há dois anos. O acervo conta a história brasiliense e trechos da permanência de JK. Visitantes podem conhecer a suíte presidencial, o quarto de hóspedes, a cozinha, entre outros espaços, além de observar objetos, roupas e imagens que mantêm viva a memória do DF. Antes da reabertura, houve manutenção do telhado e do piso, pintura, limpeza de forros, troca de peças, renovação do estacionamento, melhoria na acessibilidade e mais.
Outro espaço com as portas abertas para o público é o Memorial dos Povos Indígenas, que reabriu em novembro de 2021. O espaço foi construído em 1987 com projeto de Oscar Niemeyer em forma de maloca redonda dos índios Yanomami. Para recepcionar os novos visitantes, passou por reforma na fachada, pisos e sistema de combate a incêndio. Agora, conta com a exposição Mais de 12 Mil Anos Nesta Terra, que traz peças de 15 nações dos povos originários.
A professora da Secretaria de Educação Karine Rocha trabalha na unidade como responsável pelo projeto educacional Territórios Culturais, que promove visitas de alunos do ensino fundamental e médio. As escolas interessadas em participar podem se inscrever pelo site da pasta, que oferece também a lista completa de lugares aptos à participação escolar.
“Muitos estudantes que, apesar de serem nascidos aqui no Distrito Federal, nunca visitaram o Memorial. E quando eles vêm, se surpreendem. Antes de verem as peças, explico a história e isso renova o interesse deles, dá um novo sentido. É uma forma de aumentar a sensação de pertencimento, porque isso também é deles, faz parte do passado de todos nós”, frisa Karine.
O Museu de Arte de Brasília foi reinaugurado em 21 de abril de 2021, após 14 anos interditado. O edifício recebeu melhorias no sistema de ar-condicionado, de prevenção contra incêndio e de iluminação, além de expansão do espaço útil e novos elevadores. Cada uma das benfeitorias prevê a preservação do acervo do espaço, composto por obras de arte moderna e contemporânea. Os itens viajam entre a década de 1950 ao ano de 2001, com diversidade de pinturas, gravuras, desenhos, fotografias, esculturas, objetos e instalações.
Há ainda o Museu Vivo da Memória Candanga, que reúne peças sobre a história da construção da capital, e o Museu Nacional da República, que, de forma ampla, conta a trajetória do Brasil.
Importância
Devido a pandemia da covid-19, o número de frequentadores nos equipamentos culturais diminuiu drasticamente. No Museu Nacional da República, em 2019, mais de 573 mil pessoas passaram pelas exposições, enquanto em 2021, o total de visitantes foi de 53,6 mil. Por sua vez, no Memorial dos Povos Indígenas, a visitação chegou a atingir 52,9 mil pessoas e, dois anos depois, passou para 3,8 mil.
O subsecretário do Patrimônio Público do DF alega que, no momento, a proposta é recuperar o movimento anterior à pandemia do novo coronavírus. “Podemos dizer que nossos museus nunca estiveram em tão boas condições de preservação e de recepção ao público. Então, a grande preocupação desta gestão é fazer com que o cidadão se sinta parte dessas instituições”, diz Brayner.
O secretário de Turismo, Gustavo Assis, acrescenta que os museus são vetores do fluxo turístico. “Brasília é referência em arquitetura moderna e isso move tanto a curiosidade dos turistas, quanto o interesse de universidades e acadêmicos, que vêm até aqui para ver os acervos históricos e a parte externa dos monumentos”, explana.
É o caso do aposentado Hebert Harms, de 79 anos, que veio ao DF para visitar a filha e a neta e não desperdiçou a oportunidade de fazer turismo. Morador de Pelotas, no Rio Grande do Sul, ele passou algumas horas apreciando as obras do Memorial dos Povos Indígenas. “Fomos ao Congresso, ao Palácio [do Planalto], ao Museu da República. Estamos aproveitando. Não é sempre que dá para vir”, conta ele, que passeou com a família.
Há quase sete meses morando no Distrito Federal, o casal pernambucano de aposentados Carlos Queiroz, de 56 anos, e Solange Queiroz, de 62 anos, são frequentadores assíduos de museus e espaços culturais. A última visita foi ao Museu da República, com a presença da mãe de Carlos, a aposentada Genedite Queiroz, de 76 anos. “Quando a gente vem, nem se planeja, só vem. Dessa vez trouxe minha mãe, é a primeira vez dela aqui em Brasília. Mas, desde que a gente se mudou, eu e ela [Solange] aproveitamos para conhecer as obras. É bom para a gente ficar por dentro da nossa própria história”, afirma Sérgio.
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Fonte: Agência Brasília