Escola bilíngue de Libras do DF atende cerca de 90 alunos

Marcus Vinícius, 16 anos, nasceu surdo. Por conta dessa impossibilidade auditiva, tinha problemas de relacionamento com os colegas na rua, o diálogo em casa era escasso. Enfim, era um jovem de poucos amigos e conversa. Uma realidade que mudou quando passou a frequentar a Escola Bilíngue Libras e Português Escrito de Taguatinga. Criada em 2014, a instituição de ensino especializada é uma referência na educação de surdos do DF e, até o momento, a única com esse perfil entre as 33 regiões administrativas.

A diretora Clissineide Caixeta com alunos da Escola Bilíngue Libras e Português Escrito, em Taguatinga | Fotos: Lúcio Bernardo Jr/Agência Brasília

“Tendo em vista a necessidade de descentralização dos atendimentos aos estudantes com deficiência auditiva, bem como a oferta dos diversos tipos de atendimento, a existência da Escola Bilíngue Libras e Português Escrito para surdos é de suma importância”, destaca a subsecretária de Educação Inclusiva e Integral da Secretaria de Educação do DF, Vera Lúcia Ribeiro de Barros.

“Quando eles chegam aqui e veem que todos falam a mesma língua, a dos sinais, o desenvolvimento individual é grande, melhorando a autoestima, o rendimento nas disciplinas. Tudo isso faz diferença na vida de cada um e os prepara para a sociedade”, reforça a diretora do espaço, Clissineide Caixeta.

Atualmente, há 87 alunos nos três períodos escolares na Escola Bilíngue Libras e Português Escrito de Taguatinga – ensino fundamental e médio, além de turmas noturnas de Educação de Jovens e Adultos nos três segmentos. “Aqui tem muitas pessoas como eu e a comunicação é maior, me sinto mais feliz aqui”, confessa o jovem Marcus Vinícius, que cursa o 8º ano na instituição.

Ao todo, 44 professores dão aulas no espaço, todos sinalizantes, ou seja, ministram aulas em Libras para uma média de dez alunos por sala. Trata-se de uma regra básica que se aplica aos profissionais da secretaria e até da limpeza, ainda que sem tanta fluidez.

São alunos da escola bilíngue também quatro CODAs (abreviação da expressão Children of Deaf Adults), filhos não surdos de pais surdos, uma realidade que ficou bastante conhecida do grande público graças ao filme vencedor do Oscar, No Ritmo do Coração (2021).

Com 44 professores, a escola tem uma média de dez alunos por sala

Embora o currículo escolar seja o mesmo das escolas convencionais da rede pública do DF, a metodologia de ensino na escola bilíngue de Taguatinga é diferente, apostando mais na educação visual. “Nossos alunos não escutam, então toda a informação chega até eles de forma visual, seja em Libras ou na forma de mostrar o conteúdo com imagens”, explica a diretora, que trabalha com esse perfil de aluno desde 2003.

“Entrei por acaso, não me vejo fazendo outra coisa. Fui conhecendo a realidade e a necessidade deles e a gente acaba mesmo fazendo por amor, porque é uma área difícil”, confessa.

“Cada um traz da sua família as suas dificuldades, daí a gente tem que tentar ajudá-los a interagir e a serem participativos”, diz a professora Fabiana Lima

Professora de Educação Física há um ano no espaço, Fabiana Lima fala dos desafios de ensinar uma criança com algum tipo de deficiência, sobretudo os surdos. “O primeiro desafio é a comunicação, cada um traz da sua família as suas dificuldades, daí a gente tem que tentar ajudá-los a interagir e a serem participativos”, revela. “No meu caso, por exemplo, não quero treinar atletas. Quero que eles consigam ter mobilidade, sejam desafiados a fazer as atividades físicas”, detalha.

A Escola Bilíngue Libras e Português Escrito de Taguatinga recebe alunos de todo o DF e de cidades do Entorno como Valparaíso e Cidade Ocidental, de onde é a dona de casa Laurinete Alves Folha, 39 anos, mãe de uma garota de dez anos que estuda na instituição. “Eu estava procurando escola para ela no Gama e, dentro do ônibus, alguém me falou que tinha esse local em Taguatinga”, recorda. “Matriculamos quando ela tinha dois anos de idade. É um lugar muito bom, aqui ela conhece o mundo dela”, agradece.

Nova unidade no Plano Piloto

A rede pública do DF tem mais de 20 mil estudantes atendidos com algum tipo de deficiência. Dentro desse cenário, cerca de 1.000 são deficientes auditivos. A Secretaria de Educação do Distrito Federal tem o projeto de uma segunda escola bilíngue no DF que será montada na Quadra SGAS 912, no local do antigo clube da Associação de Assistência aos Trabalhadores em Educação do Distrito Federal (Asefe).

O valor estimado da reforma do prédio é de pouco mais de R$ 4,8 milhões. Ao todo, serão reformados dois módulos. Um deles terá seis salas de aula, com capacidade para 59 alunos, uma cozinha e a parte administrativa da unidade. O outro módulo terá uma sala multiuso, um estúdio de gravação, sala de leitura e um laboratório de informática. O prazo para conclusão das reformas é de seis meses após o início das obras.

A subsecretária Vera Lúcia Ribeiro de Barros não descarta a possibilidade de construção de novas escolas bilíngues no DF. “Compreende-se que uma escola no Plano Piloto poderá atender estudantes de várias regiões administrativas e ampliar os tipos de atendimentos já existentes nesta localidade”, observa a gestora. “Havendo demanda, não há óbice para a criação de outras escolas bilíngues, lembrando que a modalidade de educação inclusiva para surdos também deve ser ofertada”, destaca.

Há vagas para todas as turmas da Escola Bilíngue Libras e Português Escrito de Taguatinga. Quem tiver interesse, basta procurar a secretaria da escola para efetuar a matrícula portando documentos pessoais, comprovante de residência, histórico escolar, audiometria e cartão de vacina.

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Fonte: Agência Brasília

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