O 21º Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília – vem aí. A despeito da pandemia, o Cena emplaca sua 21ª edição com dois módulos; um entre 1º e 11 de dezembro, no formato on-line, e outro no ano que vem, de maio a junho, misturando espetáculos que podem acontecer ao vivo, em espaços abertos, e outros criados para o ambiente virtual.
O festival conta com aporte de R$ 400 mil do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), na linha Áreas Culturais, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec).
O primeiro módulo do Cena, que completa 25 anos em 2020, vem com exibições gratuitas no site e no canal do YouTube do Festival. Cada espetáculo poderá ser visto por três dias depois de sua estreia. Apresenta trabalhos de vários países – França, Espanha, Estados Unidos, Moçambique, Inglaterra, Alemanha e México –, que dividem a programação com obras de diferentes partes do Brasil, incluindo artistas e grupos do DF.
“Nós estamos pensando em realizar o segundo módulo ainda no primeiro semestre de 2021. Espero que já possamos ter algumas experiências presenciais, nem que elas sejam realizadas fora das salas de espetáculo, em ambientes abertos, como parques, praças etc. Certamente, ainda, teremos a participação desses trabalhos transmídia, que passeiam pelas diferentes linguagens”, conta a atriz, curadora e jornalista Carmem Moretzsohn.
Nós estamos pensando em realizar o segundo módulo ainda no primeiro semestre de 2021. Espero que já possamos ter algumas experiências presenciais, nem que elas sejam realizadas fora das salas de espetáculo, em ambientes abertos, como parques, praças etc
Carmem Moretzsohn
Memórias e celebrações
O diretor Francis Wilder, do DF, que assina o trabalho “Aquilo que Não Podem Demolir Enquanto Eu Puder Falar” em parceria com o diretor de cinema Marcelo Díaz e a dramaturga Lígia Souza, diz que está “muito feliz” com a realização do festival.
“Tenho um carinho imenso pelo Cena. É um evento muito importante para as trocas de experiências no teatro e tem um papel formativo”, afirma. Na peça, ele trabalha o conceito de memória como “dispositivo central” da criação.
Fernando Yamamoto, na direção e dramaturgia de “Clã_destina@: uma viagem cênico-cibernética”, comemora a realização do festival ao mesmo tempo que seu grupo Clowns de Shakespeare, celebra 27 anos. “É um encontro feliz de aniversários”, define.
A peça traz reflexões sobre a América Latina, abordando o teatro e o momento atual de pandemia. O grupo desenvolve uma investigação com foco na construção da presença cênica do ator, na musicalidade da cena e do corpo, teatro popular e comédia, sempre sob uma perspectiva colaborativa.
“Tem sido um momento de novas descobertas nesse teatro possível durante a pandemia, muito aprendizado”, diz Fernando entre os ensaios. “Apesar da tristeza de não podermos estar presencialmente no Cena, também há muita felicidade. É um marco na história do festival, que sempre proporciona encontros bonitos com o público candango”, complementa.
Atividades paralelas
Estão programados, ainda, encontros e oficinas nesta edição. O artista multidisciplinar argentino Matías Umpierrez vai ministrar a oficina “Clínica de Obsessão”, que propõe a reflexão sobre a obra dos artistas participantes e sua passagem para outros dispositivos. E na oficina “Uploading the Rhythm”, Idio Chichava promete trabalhar a fisicalidade e a imaginação até o limite, mantendo contato com influências das danças tradicionais moçambicanas. Por se tratarem de processos imersivos, as oficinas possuem vagas limitadas e inscrição prévia para a participação.
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Encontros do cena
Espaço Internacional de Intercâmbio e Cooperação Cultural, atividade regular do festival, em sua 10ª edição, propõem uma reflexão aprofundada sobre a criação artística, estimulando o diálogo entre criadores, redes, festivais e instituições, em tempos de incertezas e insegurança para todo o setor das artes cênicas. Serão discutidos temas como a criação em tempos de virtualidade, o desafio que se apresenta para a curadoria dos festivais, o papel da arte como espaço de reflexão no futuro pós-pandêmico e as expressões poéticas do corpo negro e sua representação na arte contemporânea.
CONFIRA AQUI A PROGRAMAÇÃO E A CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA DO FESTIVAL
Cinco perguntas – Carmem Moretzsohn
Qual sua expectativa com o formato on-line do Cena?
Gostaríamos de oferecer um festival de teatro calcado no encontro e na celebração. Mas é o que podemos fazer na situação atual, que exige distanciamento social. O primeiro trabalho que vamos exibir faz uma reflexão exatamente sobre esse questionamento que temos visto muito: o teatro híbrido. Esse teatro virtual é teatro? O teatro não exigiria a presença física? Não é essa uma distinção do teatro, o fato de estarmos todos, artistas e público, juntos no mesmo espaço?
“Teatro virtual é teatro!
Um teatro diferente,
adaptado a esses
tempos pandêmicos,
mas é teatro!”
Que parcerias você destaca nessa edição?
O formato virtual do festival está nos possibilitando algumas parcerias impensáveis. Por exemplo, com a Akram Khan Company. Essa é uma das mais importantes companhias de dança contemporânea do mundo hoje. Nós fizemos um convite e eles fizeram especialmente pra nós uma edição do vídeo que celebra os 20 anos da companhia, explicando o processo de trabalho, o conceito por trás de cada decisão. Isso seria impensável numa situação normal, sem pandemia!
“Akram Khan
Company
apresenta-se nos
maiores teatros,
para milhares
de pessoas”
Pode destacar outros diálogos internacionais?
Começamos uma parceria com produtores norte-americanos que nos proporcionou trazer um trabalho como “Cage Shuffle: a digital duet”, que tem três importantes figuras dos palcos dos EUA. Exibiremos um recorte dessa obra também especialmente feito para nós.
“Há um sentimento
de solidariedade
que perpassa
a classe artística
no mundo”
Como fica a questão da dança confinada ao ambiente virtual?
Tudo no ambiente virtual significa distanciamento. Por mais que a gente tente se aproximar por meio das telas, falta o contato humano. Mas eu tenho visto vários trabalhos de dança realizados durante esse período, com os bailarinos isolados, cada um em seu espaço, mas dançando em “conjunto”. Eu não gosto dessa noção de que estamos vivendo “o novo normal”. Não acredito nisso. O teatro e a dança já passaram por muitos revezes, já tiveram que se adaptar muitas vezes.
“Quando nasceu
o cinema,
decretaram
que o teatro
morreria.
vai ser assim
depois da
Covid-19″
Qual é o aprendizado desse momento?
Estamos transformando os obstáculos em oportunidades, navegando bem nesse formato. Com muita esperança de tempos melhores, quando teremos novamente o prazer de estar num teatro, de nos confraternizarmos, mas nos adaptando ao que temos hoje.
*Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa
Fonte: Agência Brasília