Depois de protagonizar uma cena que beira o absurdo dirigindo em zigue-zague, com cerveja no carro, se recusando a fazer o bafômetro e tentando dar carteirada na PMDF o deputado distrital Daniel Donizet resolveu pedir desculpas públicas e anunciou que vai retomar seu tratamento de saúde mental.
O gesto, ainda que revestido de arrependimento, acende uma questão incômoda (e urgente): por que não exigimos avaliação psicológica e psiquiátrica de quem quer ocupar cargo público eletivo?
Se para ser policial, motorista de ônibus ou até mesmo vigilante patrimonial é necessário passar por avaliação psicológica, por que isso não é obrigatório para quem vai comandar orçamentos milionários, tomar decisões que afetam milhões de vidas e criar leis?
Donizet, que já coleciona polêmicas, agora busca empatia ao declarar que enfrenta problemas de ordem emocional. Mas é justamente aí que mora o perigo: o sistema político brasileiro não prevê nenhum filtro mínimo de equilíbrio mental ou emocional para seus candidatos. O cidadão precisa apresentar certidões criminais, mas não precisa provar que está minimamente preparado para lidar com pressão, poder e responsabilidade.
A cena do último dia 26, em que o deputado foi parado pela Polícia Militar no Riacho Fundo I após conduzir o carro de forma perigosa, é apenas o desfecho visível de um problema maior. Ao ser abordado, Donizet tentou se valer do cargo para impedir a fiscalização e, depois, ameaçou ligar para autoridades para tentar resolver “no jeitinho”. Nada deu certo. A PM seguiu o protocolo, e agora o escândalo está aí, exposto como uma ferida aberta nos bastidores da política brasiliense.
O governador Ibaneis Rocha já convocou a cúpula do MDB para avaliar a expulsão do deputado.
Nos bastidores, aliados querem distância do desgaste.
E enquanto Donizet publica cartas e fala em reabilitação, a sociedade assiste a mais um episódio de despreparo emocional que escancara a falência do sistema de triagem de candidatos no Brasil.
Fica o alerta: será que já não passou da hora de exigir laudo psicológico como pré-requisito para quem quer assumir cargo político? Ou vamos continuar esperando que surtos, desvios e carteiradas se repitam sempre com pedido de desculpas depois?