Washington (EUA) – A comitiva de senadores brasileiros iniciou, nesta segunda-feira (28), a primeira rodada oficial de reuniões nos Estados Unidos com o objetivo de barrar a taxação de 50% anunciada pelo governo de Donald Trump sobre produtos brasileiros. O encontro aconteceu na residência oficial da embaixadora do Brasil em Washington, Maria Luiza Viotti, e contou com a presença de representantes da Câmara de Comércio dos EUA, empresários norte-americanos e membros do Brazil-U.S. Business Council.
A missão, que ocorre a menos de uma semana da entrada em vigor das novas tarifas (previstas para 1º de agosto), tem caráter institucional e suprapartidário. Apesar de não ter prerrogativa legal para negociar acordos comerciais, o grupo busca exercer pressão política e diplomática para evitar prejuízos econômicos bilionários ao Brasil.
Comitiva plural e estratégica
O grupo é liderado pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho Trad (PSD-MS), e reúne senadores de diferentes partidos e espectros ideológicos: Jaques Wagner (PT-BA), Tereza Cristina (PP-MS), Marcos Pontes (PL-SP), Esperidião Amin (PP-SC), Rogério Carvalho (PT-SE), Fernando Farias (MDB-AL) e Carlos Viana (Podemos-MG).
O cronograma prevê reuniões com parlamentares do Congresso norte-americano, entidades empresariais e representantes de think tanks. Entre os temas em pauta, estão os impactos econômicos do “tarifaço” nas cadeias produtivas e a manutenção de relações comerciais equilibradas entre Brasil e Estados Unidos.
Impacto bilionário e risco a empregos
Segundo dados apresentados pela Comissão de Relações Exteriores, a taxação proposta pode atingir em cheio setores estratégicos da economia brasileira, como o agronegócio, a metalurgia, a indústria química e a de transformação. A estimativa é que até 1,9 milhão de empregos estejam em risco, com forte impacto nos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina.
“Essa missão não é apenas simbólica. Viemos com informações concretas e argumentos sólidos. O Brasil pode perder bilhões, mas os Estados Unidos também, especialmente em estados que dependem de insumos brasileiros”, alertou o senador Nelsinho Trad.
Articulação com o Itamaraty
Antes da viagem, os senadores se reuniram com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e com representantes da vice-presidência da República e do Ministério do Desenvolvimento. A orientação foi clara: manter o caráter institucional da missão, sem atropelar negociações já em curso pelo Executivo.
A embaixadora Maria Luiza Viotti destacou a importância do gesto político brasileiro. “O papel do Senado é essencial para mostrar aos americanos que o Brasil está unido, atento e disposto a defender seus interesses com maturidade diplomática”, afirmou.
A fala dos senadores
A senadora Tereza Cristina, ex-ministra da Agricultura, defendeu uma atuação mais firme do Brasil: “Temos que parar de enviar apenas ofícios e notas técnicas. Precisamos estar aqui, cara a cara, mostrando que o Brasil é parceiro comercial leal e estratégico.”
Já Marcos Pontes, ex-ministro da Ciência e Tecnologia, ressaltou que o prejuízo será mútuo. “Os EUA dependem de produtos brasileiros para várias cadeias produtivas. O tarifaço é um tiro no pé.”
Repercussão internacional
A agenda dos senadores despertou atenção de representantes do governo americano, que devem se reunir com o grupo ao longo da semana. A iniciativa também vem sendo acompanhada por entidades como a Americas Society/Council of the Americas e por veículos da imprensa internacional.
A expectativa é que, com a pressão política e o apoio de setores empresariais dos dois países, seja possível ao menos adiar a entrada em vigor das tarifas ou abrir uma nova rodada de negociações comerciais.