No último domingo (13), câmeras de segurança de uma clínica veterinária em Nova Fátima, no norte do Paraná, registraram uma cena perturbadora: um menino de 9 anos pulou a cerca e invadiu a fazendinha do local, que havia sido inaugurada no dia anterior. Durante cerca de 40 minutos, a criança, acompanhada de um cachorro, atacou e matou 23 animais de pequeno porte. Entre as vítimas, estavam principalmente coelhos, que foram brutalmente esquartejados, jogados contra a parede e mutilados. O caso causou indignação na comunidade e trouxe à tona discussões sobre a necessidade de atenção a comportamentos violentos em crianças.

Entendendo o Comportamento

Para entender as possíveis causas e implicações desse tipo de comportamento, conversamos com o psicólogo infantil Dr. Carlos Nogueira. Segundo ele, a crueldade contra animais na infância pode ser um dos indicadores de psicopatia infantil, comumente relacionada à chamada “Tríade Macabra” – a prática de crueldade contra animais, enurese (xixi na cama) e incêndios. Dr. Carlos ressalta, entretanto, que tais comportamentos isolados não confirmam, por si só, um diagnóstico de psicopatia, mas merecem avaliação profissional.

“A violência extrema contra animais pode estar associada a distúrbios emocionais e comportamentais graves. No entanto, não significa necessariamente que a criança seja psicopata. Muitas vezes, crianças podem apresentar esses comportamentos devido a múltiplos fatores, como traumas, exposição à violência ou falta de supervisão e orientação,” explica o psicólogo.

Sinais de Alerta

De acordo com Dr. Carlos, quando uma criança se envolve em atos de violência extrema, isso deve servir como um sinal de alerta para que pais e cuidadores busquem ajuda especializada. “Os primeiros sinais de distúrbios emocionais graves costumam aparecer na infância, e a violência contra animais é um desses sinais. Os pais devem estar atentos também a outros comportamentos, como agressividade excessiva, falta de empatia e manipulação frequente,” orienta.

Ele salienta que, em casos como o ocorrido em Nova Fátima, é fundamental que se investigue o contexto em que a criança está inserida e se busque compreender as raízes desse comportamento. “É possível que o menino tenha passado por algum tipo de sofrimento psicológico ou esteja vivendo em um ambiente de abuso ou negligência. Por isso, a melhor abordagem é tratar a situação com empatia, buscando entender as causas subjacentes,” observa Dr. Carlos.

Intervenção e Tratamento

A intervenção precoce é essencial para evitar que esses comportamentos evoluam para padrões mais graves de violência. Dr. Carlos sugere que a terapia cognitivo-comportamental e o acompanhamento psicológico são fundamentais no tratamento de crianças com tendências violentas. Ele recomenda que os pais procurem um psicólogo especializado em comportamento infantil para uma avaliação detalhada e criação de um plano de tratamento.

“O objetivo do tratamento é ajudar a criança a desenvolver empatia, entender o impacto de suas ações e aprender formas saudáveis de expressar suas emoções. Com o acompanhamento adequado, muitas crianças podem apresentar uma evolução positiva, e seu comportamento pode melhorar significativamente. Elas precisam de estrutura, orientação e apoio para lidar com suas emoções e interagir de maneira saudável com os outros,” afirma o especialista.

Prevenindo Casos Futuros

Para prevenir casos como o ocorrido na fazendinha de Nova Fátima, o psicólogo recomenda o fortalecimento da educação emocional nas escolas. “Programas de educação emocional podem ajudar as crianças a aprender a lidar com suas emoções de forma construtiva, desenvolvendo empatia e respeito pelos outros seres vivos. As escolas podem desempenhar um papel importante ao incluir essas lições em seus currículos e trabalhar em conjunto com os pais e a comunidade para criar um ambiente saudável e seguro para todos,” sugere Dr. Carlos.