O vice-presidente da CPI da Covid no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apresentou um requerimento para que o ministro da Justiça, Anderson Torres, seja convocado para ser ouvido pelo colegiado.

O objetivo do pedido é que ele explique sua declaração à revista Veja em que defendeu uma CPI ampla e afirmou que vai solicitar à Polícia Federal informações sobre os inquéritos que envolvem governadores em desvios de dinheiro na área da saúde.

Na ocasião, Torres afirmou que “a gente tem de ter muito cuidado com os rumos que essa CPI vai tomar” e que “é bom ressaltar que a maioria das ações de combate à pandemia foi executada com recursos federais”. “Pergunto: a investigação vai se limitar ao governo federal? É preciso seguir o dinheiro”, disse.

Ele acrescentou que “há muitos casos sob investigação nos estados desde o início da pandemia” e que “o problema é que isso não está sendo falado”.

“Eu vou pedir esses dados à Polícia Federal, tudo o que já foi feito. Há várias operações em andamento. Isso precisa ser mostrado. As pessoas têm de tomar conhecimento disso também”, afirmou o ministro à revista.

Em seu requerimento, Randolfe também fez referência à Operação Grabato, do Ministério Público do Distrito Federal, que apurou irregularidades em contratação emergencial, via dispensa de licitação, firmada pela Secretaria da Saúde do Distrito Federal, na época em que o ministro ocupava cargo no governo de Ibaneis Rocha (MDB).

“É necessário entender se essas acusações [citadas por Torres] se estendem ao Governo do Distrito Federal, uma vez que até recentemente o ministro era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, órgão competente para investigação de eventuais condutas ou desvios”, justificou Randolfe.

As irregularidades da operação estão relacionadas a processo iniciado durante o período de emergência sanitária em razão da pandemia para contratação de empresa para gerenciamento de aproximadamente 200 leitos no hospital de campanha construído no estádio Mané Garrincha, por R$ 79 milhões.

Além do requerimento apresentado na comissão, Randolfe também mandou um ofício ao ministro, nesta segunda-feira (3), solicitando as mesmas explicações.

“O senhor pretende utilizar a estrutura da Polícia Federal para investigar desvios ou atacar somente os opositores ao governo?”, disse. “Como secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, quais foram as providências tomadas pelo senhor, uma vez que afirma que ‘as pessoas têm de tomar conhecimento disso também’?”, questiona o senador.

O requerimento de Randolfe ainda precisa ser aprovado pela maioria dos senadores da comissão. A expectativa é que ele seja analisado no próximo dia 11.

O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), sinalizou que vai apoiar a iniciativa.

“Além de falar mal de todo mundo, ele [Anderson Torres] insinuou que vai usar a Polícia Federal como polícia política. Isso é inconcebível no Estado democrático de Direito. Eu não acredito que a Polícia Federal se submeta a isso.”

Procurada, a assessoria de imprensa da Polícia Federal não se pronunciou sobre o caso. O Ministério da Justiça também foi questionado sobre a possível convocação de Torres e não quis responder.

O ex-juiz Sergio Moro deixou o Ministério da Justiça em abril do ano passado acusando o presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir na autonomia da PF para proteger familiares e aliados.

A suspeita de interferência na corporação levou o presidente a ser investigado em inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal), sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes.

A PF é responsável por investigações sensíveis ao Planalto. Na mais recente, instaurou inquérito para apurar a conduta de Jair Renan Bolsonaro, o filho 04, sob a suspeita de tráfico de influência no governo. A defesa de Jair Renan nega o envolvimento do empresário em irregularidades.

Com apenas duas sessões realizadas, a CPI da Covid virou palco de uma guerra declarada entre governistas e senadores do chamado G7, bloco composto por independentes e opositores do Planalto.

Além de protagonizar disputas judiciais e bate-boca até o momento, os congressistas dos dois grupos preparam uma batalha de requerimentos para retaliar os adversários. Os governistas contam com apenas 4 dos 11 membros titulares da comissão.

Uma das apostas dos governistas para as próximas semanas é apresentar uma avalanche de requerimentos com pedidos a estados e municípios de documentos relativos a repasses do governo federal.

 

Constança Rezende/Folhapress