Na corrida pelas 492 mil assinaturas necessárias para a criação do partido, idealizadores da Aliança Pelo Brasil realizaram, na tarde deste sábado (15), um mutirão na Assembleia Legislativa, em Porto Alegre. Em evento no Teatro Dante Barone, deputados estaduais e federais de diversos estados — quase todos ainda vinculados ao PSL —, discursaram para centenas de apoiadores sobre os planos da nova legenda, que deverá ser presidida por Jair Bolsonaro. Tabeliães auxiliaram no recolhimento de assinaturas para apoiar a criação do partido.

— O Aliança Pelo Brasil não tem nada a ver com o PSL. Ninguém vai se filiar direto na internet. Vai ter que passar por uma seleção rigorosa — disse o deputado federal Bibo Nunes, organizador do evento.

As críticas ao PSL e ao PT — por vezes citados indiretamente — e o reforço aos valores conservadores marcaram boa parte das falas, que se estenderam por quase duas horas e meia. Ex-ministro do TSE e secretário-geral do pretenso partido, Admar Gonzaga destacou que a legenda irá buscar candidatos “bem vistos na sociedade por pessoas que têm valores cristãos”. Criticou a produção cultural, que, no seu entendimento, confronta esses valores e insulta os militares.

— Estavam fazendo filmes e seriados com o nosso dinheiro, para insultar os nossos heróis. Vê se algum americano faz um filme falando mal de soldado que lutou na guerra. Aqui até mulher de criminoso está virando estrela de novela. É esse o Brasil que a gente quer? Não — disse, sem citar nomes nem obras específicas.

Expulsa do PSL no fim do ano passado, a deputada federal Bia Kicis, do Distrito Federal, descreveu a atual conjuntura social como uma “guerra cultural e espiritual”.

— Numa guerra existe uma coisa chamada lado. Hoje a opção que nós temos é ficar pelo Brasil ou contra o Brasil — disse a advogada e youtuber, que sugeriu aos apoiadores gaúchos que liderassem um movimento pela criminalização do comunismo:

— Essa terra é bonita, abençoada, mas também amaldiçoada pelo PT. O comunismo tem que ser crime. Por que o nazismo é considerado criminoso e comunismo não, se matou muita gente e é muito mais cruel? Vocês têm que sair na frente — disse, entre aplausos entusiasmados.

O evento contou com um público engajado. Boa parte dos participantes vestia camisetas do partido — vendidas a R$ 40 em uma banca montada na frente da Assembleia — ou carregava estampada a imagem do presidente Jair Bolsonaro. Alguns levavam bandeiras com o logotipo da legenda — também exibido à entrada do Dante Barone, em uma escultura feita com balas de revólver.

O interesse pelo novo partido mobilizou simpatizantes de diferentes partes do Estado. Morador de Canoas, o aposentado Carlos Dantas, 59 anos, dirigiu de Passo Fundo a Porto Alegre apenas para saber mais sobre a legenda de Jair Bolsonaro.

— Eu já tinha apoiado faz tempo, mas vim para ver se era como eu penso, e é. Está procurando uma nova mentalidade política, que resgata os valores de respeito, dignidade e família, e principalmente, a defesa e o amor que a gente tem pela nossa pátria — avaliou.

Nem todos, porém, saíram completamente satisfeitos. Previsto como ponto alto da tarde, uma live de Jair Bolsonaro foi cancelada — segundo Admar Gonzaga, o presidente estava em um evento com evangélicos, o que impossibilitou sua participação no ato gaúcho.

— Era o Bolsonaro que devia estar ali — reclamou uma senhora durante a transmissão de um vídeo do deputado federal Eliéser Girão (PSL-RN).

Antes do simpósio deste sábado, foram realizados três mutirões para acelerar o recolhimento de assinaturas no tabelionato da Rua Siqueira Campos, na Capital. A estratégia também está sendo adotada em outras cidades do Brasil. Representantes da Aliança têm convocado coletas em tabelionatos, assegurando o envio de fichas autenticadas à Justiça Eleitoral. As lideranças da nova legenda não divulgam o número de apoios angariados até o momento.