Vape, pod, cigarro eletrônico, “pen drive”… Nomes e apelidos não faltam para este dispositivo que tem ganhado muito espaço atualmente, em especial entre os jovens. Uma pesquisa do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica) mostrou que o consumo de cigarro eletrônico cresceu 600% em 6 anos no Brasil.

Em 2018, havia 500 mil fumantes de cigarros eletrônicos no Brasil que haviam utilizado o aparelho nos últimos 30 dias. Em 2023, o número passou para 2,9 milhões, o que ajuda a entender porque é tão comum encontrá-lo nas ruas, praças e outros ambientes por aí – mesmo que seja proibido pela RDC nº 46, de 28 de agosto de 2009.

Os estados brasileiros com maior incidência do cigarro eletrônico são Paraná (4,5%), Mato Grosso do Sul (4,0%) e Distrito Federal (3,7%). Em 2019, 52% da população conhecia este dispositivo, percentual que passou para 87% em 2023. Entre os fumantes de cigarros industrializados, a experimentação passou de 16% em 2019 para 29% em 2023.

Pequenos e portáteis, além de terem sabores agradáveis, esses dispositivos atraem tanto quem já fuma cigarros tradicionais quanto quem não tem este hábito. Porém, vários são os males que podem ser causados à saúde – toxicidade por inalação, vício e lesão pulmonar, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde do Sergipe.

Esses potenciais problemas à saúde já são muito preocupantes, mas dados de um estudo publicado em 2022 no periódico American Journal of Preventive Medicine (AJPM) apontam outra informação muito importante: usuários de cigarro eletrônico tinham 2,4× mais chances de apresentar disfunção erétil do que quem nunca fumou o dispositivo.

Em entrevista, Dr. Paulo Egydio, médico brasileiro PhD em Urologia, explicou que o uso de cigarros eletrônicos (vapes) pode estar associado ao desenvolvimento de disfunção erétil, especialmente devido à presença de nicotina, que é um vasoconstritor. Ele destacou que “de acordo com estudos científicos, os homens que fazem uso de vapes têm 2,25 vezes mais chances de desenvolver disfunção erétil comparados aos não fumantes.” O urologista também mencionou que sinais de alerta incluem dificuldades em obter ou manter uma ereção do início ao fim da relação. “Danos aos vasos sanguíneos e impactos negativos na saúde cardiovascular também são fatores contribuintes para esse problema,” acrescentou.

Quando questionado sobre histórias de homens cujo fumo impactou a saúde sexual, Dr. Paulo relatou: “O cigarro pode causar vários prejuízos à vida reprodutiva, além da disfunção erétil. Os componentes tóxicos do cigarro podem reduzir a contagem de espermatozoides, danificar o DNA espermático e aumentar o risco de infertilidade.” Ele também alertou para os riscos que o tabagismo representa para as mulheres, como complicações na gravidez, maior risco de aborto espontâneo, parto prematuro e baixo peso ao nascer, além de interferências na ovulação e na qualidade dos óvulos. “Fumar também pode prejudicar a saúde hormonal em ambos os sexos, afetando adversamente as chances de concepção,” explicou.

O urologista destacou ainda que o uso de vapes pode estar relacionado ao desenvolvimento da Doença de Peyronie, uma condição que leva à formação de tecido fibroso no pênis. “Isso pode causar tortuosidade, afinamento e diminuição do tamanho do pênis, afetando significativamente a função sexual e a qualidade de vida,” afirmou ele. Esses efeitos se somam às alterações vasculares e hormonais causadas pelo tabagismo, impactando negativamente a fertilidade masculina e feminina.

Sobre a possibilidade do cigarro ser a única causa de disfunção erétil, Dr. Paulo esclareceu que “além do uso de vapes, várias condições podem levar ao desenvolvimento de disfunção erétil. O diabetes, por exemplo, prejudica a circulação e os nervos, afetando a capacidade de manter ereções.” Ele citou também prostatectomias ou cirurgias pélvicas, o avanço da idade, obesidade, colesterol alto, Doença de Peyronie, consumo excessivo de álcool, uso de certas drogas e sedentarismo como outros fatores que contribuem para problemas de ereção.

Confira mais dados deste estudo, entenda quais outros fatores podem levar à disfunção erétil e como esta condição pode ser tratada.

Cigarros com tabaco podem aumentar as chances de disfunção erétil, mas cigarros eletrônicos não são diferentes

A relação entre o consumo de cigarros “tradicionais” e a disfunção erétil não é novidade. Prova disso são os anúncios que demonstram os malefícios causados pelo produto, estampados nas caixas de cigarros já há muito tempo.

Quando se trata dos cigarros eletrônicos, o mesmo efeito pode acontecer. Porém, como um vape pode ter ingredientes diferentes do outro, fica difícil ter um padrão nas formulações que permita identificar essas correlações, já que alguns possuem nicotina e outros não, por exemplo.

A nicotina é um ingrediente bastante problemático, também presente em cigarros convencionais. Vários fluidos de cigarros eletrônicos ou vapes possuem níveis mais baixos de substâncias cancerígenas, o que, por consequência, reduziria os riscos de disfunção erétil, mas os riscos não param na nicotina.

Porém, o uso de vapes pode danificar o revestimento dos vasos sanguíneos, e um estudo publicado no periódico Central European Journal of Urology relaciona este dano à disfunção erétil, o que significa que não é apenas a nicotina presente na formulação dos fluidos de alguns vapes que pode causar este problema.

É fato que ainda há muito o que pesquisar nesta área, mas o estudo de 2022 citado no início do artigo mostrou que os relatos de disfunção entre os usuários de vape eram 2,4× maiores que dos não-usuários. Aparentemente, fatores de risco como idade e doenças cardíacas não tinham relação com o dado.

Ainda que os vapes tenham menores níveis de químicos que contribuem para a disfunção erétil quando comparados com os cigarros tradicionais, tanto eles quanto os cigarros tradicionais podem danificar as células endoteliais, responsáveis pelo revestimento dos vasos sanguíneos, causando estresse oxidativo.

Como consequência, isso pode afetar os níveis de óxido nítrico (NO) e sua sinalização para o corpo, o que pode ser um problema, já que o NO é necessário para produzir uma ereção.

Outro fator de risco presente nos vapes que contêm nicotina é que eles podem contrair os vasos sanguíneos, limitando o fluxo sanguíneo para o pênis, podendo assim levar a episódios de disfunção erétil.

Parar de fumar vape pode não reverter a disfunção erétil

Usuários de vape que já tenham percebido algum sinal de disfunção erétil, como atingir uma ereção apenas em algumas relações sexuais, não conseguir mantê-las ao longo do intercurso ou mesmo nunca conseguir chegar à ereção, podem se preocupar ao verificar essa relação.

Os estudos mostraram que fumar vape pode resultar na disfunção erétil, mas isso não significa que parar de usar o dispositivo automaticamente corrigirá esta situação – que pode também não ser causada por conta do vape, mas sim por outros motivos.

Há uma série de causas que podem levar à disfunção erétil, como:

  • Doenças cardíacas
  • DIabetes
  • Obesidade
  • Colesterol alto
  • Pressão alta
  • Aterosclerose
  • Mal de Parkinson
  • Uso de determinados medicamentos
  • Alcoolismo e abuso de outras substâncias
  • Problemas de sono
  • Baixa testosterona
  • Tratamentos para câncer de próstata ou próstata aumentada
  • Doença de Peyronie

O que fazer ao perceber algum sinal de disfunção erétil?

Se você acredita estar com disfunção erétil, a primeira coisa a se fazer é procurar por um urologista. Mesmo que você não tenha certeza, o profissional de saúde poderá lhe orientar e entender o caso.

Às vezes, durante a conversa com o paciente, o urologista já consegue identificar se o paciente pode ter disfunção erétil ou não. A confirmação se dá especialmente mediante o doppler peniano, ou ultrassonografia peniana com doppler, capaz de diagnosticar a impotência vascular.

Seja como for, para começar, mantenha a calma. A disfunção erétil pode ser causada por fatores psicológicos, por exemplo, o que significa que a condição pode ser transitória e voltar ao normal depois de algum tempo.

Ao visitar um urologista de sua confiança, com uma boa conversa e, se necessário, o encaminhamento para alguns exames, será possível identificar a causa da disfunção erétil e, então, proceder com o tratamento para que você tenha uma vida sexual saudável.

A Doença de Peyronie, por exemplo, é uma condição caracterizada por uma curvatura anormal do pênis devido à formação de tecidos fibrosos em seu interior. Por vezes, a curvatura é leve e não causa problemas durante a relação sexual, mas há casos que impossibilitam o intercurso.

Felizmente, este é um problema tratável com a Técnica Egydio, que recorre a princípios geométricos para melhorar a precisão e o local das incisões durante o procedimento cirúrgico, permitindo que o paciente volte a ter uma vida normal.

Em resumo, se você consome cigarros eletrônicos de qualquer tipo, a sugestão é abandonar o uso, já que isso pode causar problemas de saúde, entre eles a disfunção erétil. Se tem alguma dúvida, não hesite em procurar um urologista para receber as melhores orientações e, assim, ter uma vida mais saudável e prazerosa – inclusive sexual!