tempo de transformar o Julho Amarelo em atitude, não apenas em campanha. O Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais, celebrado em 28 de julho, é um alerta para algo que avança em silêncio. Essas infecções comprometem o fígado e, em muitos casos, só são diagnosticadas quando os danos já são graves e, por vezes, irreversíveis. As hepatites B e C são as mais preocupantes. Ambas podem evoluir de forma crônica, levando à cirrose e até câncer hepático.

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil registrou centenas de milhares de casos nas últimas décadas, com a hepatite C se consolidando como a principal causa de morte entre as hepatites virais. O mais alarmante é que grande parte das pessoas sequer sabe que está infectada.

As formas de transmissão dessas doenças são conhecidas e evitáveis. A hepatite B pode ser transmitida por relações sexuais desprotegidas, contato com sangue contaminado, agulhas compartilhadas e da mãe para o bebê durante o parto. Já a hepatite C é, principalmente, transmitida pelo contato com sangue infectado, seja por transfusões antigas, compartilhamento de objetos cortantes, procedimentos estéticos sem esterilização ou uso de drogas injetáveis. Nenhuma delas se pega por beijo, abraço ou compartilhamento de talheres, mas o estigma ainda fala mais alto do que a informação.

Como profissional da saúde, vejo o peso desse silêncio. São pessoas comuns: homens, mulheres, idosos e jovens que chegam ao diagnóstico já em estágios avançados, com o fígado comprometido, aguardando transplante ou tentando lidar com o impacto do diagnóstico. E o mais lamentável é saber que tudo isso poderia ser evitado com vacina, informação e acesso ao teste. A hepatite C tem tratamento com taxa de cura superior a 95%, oferecido pelo SUS. Já a hepatite B tem vacina gratuita e eficaz, disponível desde a infância. Ou seja, temos ferramentas poderosas, mas que ainda não chegam para todos.

Além disso, existem o medo, o preconceito e a desinformação. Muitos evitam o teste por vergonha, por não saberem que estão em risco ou por acreditarem que “isso não é comigo”. Quando o cuidado é substituído pela culpa, o resultado é o abandono. Por isso, Julho Amarelo deve ser um chamado à responsabilidade coletiva.

Ampliar a testagem nas unidades básicas, promover campanhas que falem com a população em sua linguagem e garantir acolhimento e tratamento imediato é tão importante quanto qualquer protocolo clínico.

A hepatite não faz distinção: pode atingir qualquer pessoa, em qualquer fase da vida. Mas quanto antes for descoberta, maiores são as chances de tratamento, cura e qualidade de vida. O perigo real não é saber que se tem o vírus, é não saber a tempo de agir.

*Vaniele Pailczuk é enfermeira, especialista em UTI/ Urgência e Emergência, professora e tutora de cursos de pós-graduação na área da saúde no Centro Universitário Internacional Uninter