O engajamento de profissionais de saúde atualizados e bem capacitados é uma das principais ferramentas que a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) destaca para reverter a queda nas coberturas vacinais durante a pandemia de covid-19. O tema foi discutido na tarde de hoje (15) na abertura da Jornada Nacional de Imunizações, que ocorre neste ano em formato online por causa das medidas de prevenção ao novo coronavÃrus.
A presidente da comissão cientÃfica do evento e vice-presidente da SBIm, Isabela Balalai, afirmou que o mundo vive não apenas uma pandemia de covid-19, mas muitas “pandemias” relacionadas à desinformação que ameaçam a saúde coletiva.
“Vivemos uma pandemia da covid-19, uma pandemia de desinformação, uma pandemia da politização da ciência, uma pandemia de baixas coberturas vacinais. Não vivemos apenas uma pandemia, vivemos várias”, afirmou. “Diante desse cenário de tantas pandemias, o empoderamento de nós, profissionais de saúde, se faz mais do que necessário. É isso que faz a população se vacinar, e é isso que faz a população acreditar na ciência.”
O presidente da SBIm, Juarez Cunha, também aproveitou o evento para destacar o protagonismo dos profissionais de saúde na missão de combater a queda das coberturas vacinais. “O brasileiro, historicamente, confia e acredita não só nas vacinas, mas em nós, profissionais de saúde. Podemos e devemos reverter esse quadro. Para isso, precisamos estar cada vez mais preparados, capacitados e atualizados”.
Cunha manifestou preocupação com o crescimento da hesitação à s vacinas, termo que se refere ao atraso ou recusa em se vacinar quando a imunização está disponÃvel gratuitamente. “Se já tÃnhamos coberturas vacinais baixas antes da pandemia, por vários motivos, elas pioraram, e muito, em 2020. Como consequência, aumentaram os riscos que a nossa população desprotegida está correndo, principalmente as crianças”, alertou.
No mês passado, a SBIm já havia lançado um alerta sobre a baixas taxas de vacinação no paÃs (https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-09/cobertura-vacinal-na-pandemia-esta-abaixo-de-esta-abaixo-de-60), destacando que nenhuma das vacinas recomendadas para menores de 2 anos havia atingido 60% do público-alvo até agosto. Para enfrentar o problema, o Ministério da Saúde lançou a Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e de Multivacinação, com o objetivo de imunizar mais de 11,2 milhões de pessoas e conscientizar a população sobre a importância das vacinas para a proteção contra diversas doenças.
A campanha começou no dia 5 e vai até 30 de outubro, com o Dia D de vacinação marcado para o próximo sábado (17). A coordenadora-geral do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Francieli Fontana, enviou uma mensagem de vÃdeo ao evento em que destacou a importância de aproveitar a campanha para atualizar a caderneta de vacinação de crianças e adolescentes.
“Nós, profissionais de saúde, temos um papel fundamental na ampliação das coberturas vacinais das nossas crianças e adolescentes, para que estejam protegidos e que não haja o recrudescimento de doenças já eliminadas e sob controle”, disse. “É muito importante que a gente se engaje e participe ativamente dessa campanha orientando a população que está na ponta.”
Vacinas contra covid-19
As pesquisas em andamento para desenvolver uma vacina contra o coronavÃrus SARS-CoV-2 foram tema de uma apresentação do pediatra e infectologista Renato Kfouri, que é diretor da SBIm e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Apesar de destacar os avanços, Kfouri ponderou que ainda “há mais perguntas do que respostas neste momento”.
Segundo Kfouri, há 190 projetos de vacina em desenvolvimento, sendo 42 já em testes em seres humanos. Neste último grupo, 10 chegaram à Fase 3, em que a eficácia e a segurança são testadas em milhares de voluntários.
Entre as que estão na Fase 3, há vacinas de diferentes tipos, incluindo algumas estratégias consideradas por ele inovadoras. O infectologista citou duas pesquisas com vacinas de ácidos nucleicos, conduzidas pela farmacêutica Moderna e pela colaboração entre a Biontech, Pfizer e Fosun Pharma. Sua ação consiste na inserção do material genético do vÃrus no organismo para que as células humanas sejam estimuladas a produzir os antÃgenos de forma inofensiva. Esse processo faria as defesas do corpo reagirem, produzindo os anticorpos. “São vacinas absolutamente modernas”, disse ele, destacando que os materiais genéticos utilizados podem ser mais facilmente produzidos em larga escala em laboratório.
Outra novidade destacada pelo infectologista está no projeto da vacina russa do Gamaleya Research Institute, que prevê duas doses com a utilização de dois tipos diferentes de adenovÃrus (vÃrus do resfriado) como vetores virais. Nesse tipo de vacina, um vÃrus diferente do coronavÃrus é usado para transportar genes do SARS-CoV-2 para o corpo da pessoa vacinada, desencadeando a produção de defesas.
Para que as vacinas que forem comprovadas cheguem a todos, o infectologista defendeu a iniciativa da Organização Mundial da Saúde para abastecer os paÃses mais pobres. Chamado de Covax Facility, o projeto consiste em um fundo que será apoiado por paÃses com mais recursos, como o Brasil. “Muitos paÃses não têm laboratórios para receber transferência de tecnologia e não têm condições econômicas para comprar a vacina. Só estaremos livres da pandemia quando controlarmos globalmente a circulação da covid-19.”
Fonte: Agência Brasil