Antes da pandemia, a ex-bordadeira de richelieu Dirce de Souza Rodrigues, de 64 anos, ia toda semana dançar no forró do Clube da Terceira Idade, na cidade de Muriaé, interior de Minas Gerais. Ela diz que gosta muito de dançar e se manter ativa, por isso também frequenta os passeios, as atividades do clube e ainda as aulas de ginástica cerebral em uma escola especializada em cursos para melhorar as habilidades como concentração, raciocínio e memória.

“Também faço hidroginástica e caminhada, procuro evitar carboidratos, gordura e açúcar, vou aos médicos, sempre meço minha pressão. Acho que estou sabendo administrar minha vida nessa minha idade, estou achando uma etapa maravilhosa, porque eu levo uma vida ativa. Minha expectativa de vida é que, aos 90 anos, eu quero estar bem e lúcida, se Deus quiser me dar vida e oportunidade de estar nesta terra”, disse Dirce, que é viúva, mãe de um filho e avó de três netos.

Assim como Dirce, a aposentada Neusa Pereira de Souza, de 80 anos, diz que a vida mudou muito depois dos 60 anos, mas que ela tenta se manter ativa. “Vou muito na igreja, faço caminhada todo dia de manhã, e o serviço da casa, não paro, vou fazendo devagar e acho melhor. A gente tem que ter uma coisa para fazer, se você parar acho que aí fica doente, velho não pode parar não!”, brinca.

Ela disse que, se chegar aos 90 anos, quer estar bem esperta. “Minha mãe morreu com 100 anos, e ela sempre foi esperta, não quero viver 100 anos. Mas, até os 90 anos, acho que vai dar!”, acredita a aposentada, que também é viúva, mãe de dois filhos e avó de três netos.

Dirce e Neusa fazem parte dos 28 milhões de brasileiros com mais de 60 anos, número que representa 13% da população do país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o IBGE, esse percentual tende a dobrar nas próximas décadas, segundo a Projeção da População, divulgada em 2018 pelo órgão.

Neste domingo, 27 de setembro, é comemorado no Brasil o Dia do Idoso, data criada para valorizar a vida depois dos 60 anos, uma fase em que é cada vez mais comum manter uma rotina ativa, com atividades físicas, intelectuais e de diversão, como fazem Neusa e Dirce.

Mas, é também nesse período da vida que surge uma das principais preocupações dos idosos e de seus parentes: como fica a capacidade de raciocínio, a memória e a clareza mental de quem já passou dos 60 anos.

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Doença de Alzheimer

Aos primeiros sinais de lapso de memória ou de falha nas capacidades cognitivas, muitas pessoas passam a temer o diagnóstico da Doença de Alzheimer, um transtorno neurodegenerativo progressivo que se manifesta pela deterioração cognitiva e da memória, comprometimento progressivo das atividades diárias e alterações comportamentais.

No entanto, a confusão mental pode ter outras causas, explica o professor da disciplina de gerontologia da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná, o médico geriatra Rubens de Fraga Júnior. “Efeitos colaterais de medicamentos podem causar sintomas semelhantes à Doença de Alzheimer. Doenças como depressão e hipotireoidismo podem também causar confusão mental em idosos”.

O neurologista do Hospital 9 de Julho, Diogo Haddad completa que sempre é importante diferenciar entre quadros confusionais agudos ou lentos e progressivos. “Quadros agudos muitas vezes são associados ao que chamamos de delirium e as principais causas são infecciosas e metabólicas. Já quadros como déficits cognitivos, que se instalam lentamente, devem ser investigados para doenças neurodegenerativas, mas, sempre excluindo causas como déficits de vitaminas (b12 principalmente), hipotireoidismo e mesmo infecções tardias como sífilis”.

Fraga Junior explica que, para a Doença de Alzheimer, um novo exame de sangue mostra grande promessa no diagnóstico da doença. “Em pessoas com risco genético conhecido podem ser capazes de detectar a doença 20 anos antes do início da deficiência cognitiva, de acordo com um grande estudo internacional publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA)”.

“Estamos vivendo um novo boom de pesquisas em medicações para tratamento de Alzheimer”, completa Haddad. “A perspectiva é que nos próximos dez anos teremos inúmeros tratamentos voltados a própria fisiopatologia da doença, como drogas que agem nas proteínas beta amiloides e proteína tau”.

Por enquanto, a Doença de Alzheimer não tem uma forma de prevenção específica, mas um bom estilo de vida, iniciada durante a juventude, pode ajudar no tratamento desta doença e de outras comuns para os idosos. “O jovem pode cuidar de si, assumindo um estilo de vida saudável: alimentação sadia, atividade física regular, controlar o estresse, não fumar e não beber. E, durante o confinamento procurar ter uma rotina no seu dia a dia”, aconselha o professor.

Pandemia e terceira idade

A pandemia impôs um confinamento bem rigoroso aos idosos, já que a faixa etária após os 60 anos é classificada como grupo de risco para a covid-19, doença do novo coronavírus.  Por isso, muitos idosos deixaram de procurar os atendimentos médicos, disse o neurologista do Hospital 9 de Julho, Diogo Haddad. “Idosos são um grupo de risco para a covid-19, e por isso necessitam de maiores cuidados, principalmente voltados ao isolamento, porém muitos deixaram de acompanhar doenças crônicas por medo e, neste momento, estão procurando atendimento de urgências por descontrole de suas doenças crônicas”.

Ele ainda destaca que, o isolamento aumentou os sintomas de ansiedade nesta faixa etária. “É um grupo que tende a ter poucas atividades externas e nesse momento o isolamento não permite essas interações e atividades sociais, o que também tem provocado um aumento importante de sintomas ansiosos nesta população”.

Apesar das inseguranças, a Dirce confia que logo uma vacina virá. “A pandemia ainda está ameaçando. Enquanto a gente não tiver uma vacina, não vamos ficar tranquilos. Tomara que venha a vacina logo e em grande quantidade para todo mundo”, disse. Ela conta ainda que a pandemia tem sido uma lição de vida para todos.

“O isolamento social foi preciso, então eu, na idade de risco, fiquei muito preocupada, me isolei em casa; e como moro sozinha, só saio se necessário, com máscara e álcool em gel. Por este lado, a pandemia foi boa porque mudamos os costumes de higiene e porque ajudamos muitas pessoas. Então o incentivo da solidariedade falou mais alto ainda nessa hora da pandemia”.

Ao falar ainda um pouco mais de si, disse que gostou da própria companhia durante o isolamento. “Eu descobri uma coisa muito importante, que eu sou uma ótima companhia para mim mesma, faço minhas tarefas e até me acostumei a ficar em casa. Está sendo uma lição de vida essa pandemia, a gente está aprendendo a ter mais higiene, quantos micróbios a gente mata com este álcool gel, com a limpeza da casa”.

Para a Dona Neusa, a pandemia está sendo horrível. “A gente fica dentro de casa. Se você não morre da doença, morre de tédio, pois não pode estar em qualquer lugar…apesar que eu vou ao médico, no mercado, mas eu me cuido, com a máscara, não fico batendo papo no meio das pessoas, mas parou né, a gente fica muito triste, não vejo a hora disso aí ir embora!”, disse se referindo à covid-19.

Saúde mental

Uma pesquisa da American Association of Geriatric Psychiatry indicou que 20% da população, acima dos 55 anos, têm algum tipo de problema de sua saúde mental. Os mais frequentes são comprometimento cognitivo severo e transtornos de humor, como depressão, ansiedade e bipolaridade.

Mas, segundo Fraga Junior, é possível tratá-las e preveni-las. “O médico geriatra, o psiquiatra e o psicólogo são profissionais aptos a tratar as doenças mentais em idosos. A prevenção está na adoção de um estilo de vida saudável, mantendo contato social (durante a pandemia através de meios digitais como Zoom e WhatsApp) e realizando atividades ocupacionais que estimulem um propósito de vida”.

Suicídio na terceira idade

O Setembro Amarelo é uma campanha de prevenção ao suicídio e pretende conscientizar sobre a importância de discutir o tema. Dados do Ministério da Saúde, divulgados em 2018, apontam para a alta taxa de suicídio entre idosos com mais de 70 anos. Nessa faixa etária, foi registrada a taxa média de 8,9 mortes por 100 mil nos últimos seis anos. A taxa média nacional é 5,5 por 100 mil.

“Devemos analisar que esses valores têm relação direta com o aumento de doenças como ansiedade e depressão nessa idade e que muitas vezes são negligenciadas por familiares e pelos próprios pacientes, que apresentam muita resistência em procurar ajuda. Fica o alerta para que alterações comportamentais e dificuldades cognitivas novas devam ser encaminhadas para a avaliação de um profissional competente e não encarnadas como parte de um envelhecimento normal”, alerta Haddad, que concorda com seu colega Fraga Junior no que diz respeito a hábitos a juventude para um envelhecimento saudável.

“Um estilo de vida saudável para que se tenha um envelhecimento saudável deve compreender boa alimentação (com menor consumo de produtos industrializados), atividade física regular (em média 30 a 60 minutos todos os dias), boa qualidade de sono,  ter momentos de relaxamento assim como objetivos e metas, além de evitar cigarro e consumo excessivo de álcool”, disse.

Fonte: Agência Brasil