Em 1968, a situação da segurança pública era caótica. O governador Cristovam Buarque, apesar de ter dado grande impulso à educação, foi prejudicado pela pressão que sofria dos professores e, sem apoio dos companheiros, ficou sem autoridade perante os serviços de segurança pública.

Seu adversário nas eleições, Joaquim Roriz, fez promessas aos professores e obteve o apoio para derrotar Cristovam. Quanto à segurança pública, o experiente político goiano prometeu tolerância zero contra os criminosos. Ganhou as eleições, implantou o programa “Segurança sem Tolerância”, o manteve por um ano, e não cumpriu as promessas feitas aos professores.

Em um evento no Teatro Nacional, Ruth Cardoso não gostou da marca “tolerância zero” do governo, considerando-a uma proposta muito forte que poderia levar a polícia a se utilizar de métodos violentos para assegurar o controle da criminalidade no Distrito Federal. Foi-lhe explicado que a marca foi criada para a campanha e que, na verdade, com o programa pretendia-se que a lei fosse aplicada a todos os cidadãos, sem distinção de qualquer espécie.

Enquanto o “Tolerância Zero” ficou só no combate ao crime, os resultados foram imediatos, e regiões com altos índices de violência foram apaziguados. Em convênio com o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios foi criada uma delegacia 24 horas no centro da cidade. Ali, com o apoio das polícias, o autor de pequenas infrações era submetido a julgamento logo após o cometimento do ato. Com esta simples ação, a inibição de jovens na prática de crime foi contundente.

A implantação de programas sociais voltados para adolescentes agregou famílias e tirou das madrugadas milhares de jovens que passaram a ter diversão, alimentação, esporte e proteção policial, no período de 23hs às 2 da madrugada. ônibus colocados à disposição dos programas por empresários recolhiam os interessados nas ruas e os levavam para as escolas em funcionamento após as aulas.

A receita é simples: polícia nas ruas, programas sociais, investimentos na investigação criminal e valorização dos policiais. À época, não era difícil encontrar a cúpula da segurança pública coesa, circulando dia e noite por todo o Distrito Federal. É verdade que, como previa Ruth Cardoso, o programa acabou com excesso em desastrada ação policial contra um movimento grevista, e que resultou na morte de um trabalhador, e ferimentos graves em outros.

Daqueles tempos, restaram poucos políticos que não queriam tolerância zero para todos; isto é, aplicação da lei aos que cometessem crimes ou infrações.

Nesses nossos tempos de ineficiência de muitos governantes, o que se vê é o desrespeito à lei e às autoridades. O caso mais gritante é o deboche com que marginais condenados pela Justiça se comportam publicamente. A ocupação, por simpatizantes de condenados, de área nas proximidades do Supremo Tribunal Federal é o cúmulo da leniência das autoridades policiais. Os acampados não são pessoas de classes sociais discriminadas, ao contrário, são contribuintes de “vaquinhas” que juntam milhares de reais para pagar multas impostas pela Justiça.

Os acampados criaram uma nova classe social que são os “sem-vergonha”. Eles expõem as suas caras como se o seus líderes fossem santos enviados ao purgatório.
O desrespeito é tão forte, que líderes políticos como o vice-presidente da Câmara dos deputados, na presença do presidente da Suprema Corte, repete o gesto debochado que serve de marca à quadrilha que dominava a nação brasileira.

A continuarmos nesse caminho, daqui a pouco tempo, precisaremos não de um líder político, mas, como acontece na Ucrânia, de um boxer para espancar as mazelas que nos sufocam.

Como os partidos políticos buscam ídolos do esporte para exercer a função pública, como Popó, Romário e tantos outros que viveram dentro de sistemas organizados, é de se estranhar que o pugilista Anderson Silva, mestre do vale-tudo, mesmo contundido, não seja convidado a sair candidato e, vitorioso, golpeie a corrupção e a violência que nos massacra.

Se políticos tradicionais fracassam em seus governos, melhor seria que os cidadãos de bem participassem, como candidatos, da disputa por mandatos, pois, senão o fizerem, nas próximas eleições teremos não só antigos repudiados como candidatos, mas também outros indicados por vozes do além que ultrapassam os muros das penitenciárias.

Brasília, 05 de fevereiro de 2014.
Paulo Castelo Branco.
Publicado na revista Brasília em Dia de 07.02.2014 –www.brasiliaemdia.com.br – autorizadas a publicação com indicação da fonte – www.blogpaulocastelobranco.com.br