O voto evangélico e a hipocrisia

Já tem algum tempo me sinto incomodado em escrever sobre esse tema que é delicado de se falar. Nos últimos anos tem crescido substancialmente a quantidade de evangélicos no Brasil, eleitoralmente falando já chegam em 27% em todo país, de acordo com pesquisas recentes.

Muitos de nós ouvimos frases como: política, futebol e religião não se discute. Com o passar do tempo e nos avanços da sociedade acabamos percebendo que tudo isso se discute sim.  Nasci em lar evangélico, sou evangélico, convivi e convivo diariamente com evangélicos e entendo perfeitamente tudo que cerceia a religião, desde partes administrativas até as mais vergonhosas, infelizmente.

Já na época de Jesus a política interferia diretamente dentro dos templos, reis e sacerdotes tinham linha direta, de outra forma, Cristo deixou grandes ensinamentos, dentre eles, um nos chama atenção, o fato de que por culpa de uns, outros serão assemelhados, ou no popular, me diga com quem tu andas e eu te direi quem tu és.

Tal como o voto de cabresto existe há bastante tempo o voto do cajado, que significa, os líderes das grandes denominações e pequenas também, induzirem os membros a votarem em seus candidatos preferenciais, cujos interesses podem ser em prol da própria igreja ou em próprio benefício, leia-se cargos para familiares.

Minha inquietação sobre esse assunto se dá porque é insuportável ver a hipocrisia dentro de inúmeras igrejas em período eleitoral. As igrejas ou seus líderes são uma pedra no sapato dos governantes quando o assunto é polêmico e atinge principalmente o tema família.

No ano passado um tema me chamou a atenção, estava prestes a ser aprovado na calada, um projeto de Lei complementar (PLC) que em seu texto deixava brechas para aprovação do aborto no Brasil. Conheci pessoas engajadas que doaram seu tempo para ir para frente do palácio do planalto pedir para a presidente Dilma não sancionar o PLC.

Muitos evangélicos se mobilizaram na internet, juntamente com outras religiões para fazer chegar aos ouvidos da presidente que não estávamos concordando com a decisão, alguns líderes evangélicos se uniram ao grito, deram depoimentos contrários a aprovação do aborto, criticaram o governo, pediram orações em seus templos para que Deus tirasse do pensamento de quem legisla, a intenção de aprovar o projeto.

A hipocrisia está em usar a ingenuidade dos membros e conduzi-los a uma política de troca de benefícios pessoais do que da própria igreja. Como explicar o fato de em um ano ser contra o aborto, mobilizar e orar e no ano seguinte estar aliado no mesmo palanque de quem estava e ainda está determinado a aprovar leis que atingem as famílias.

Não há justificativas para tais alianças, senão a de fisiologismo religioso, ou seja, tenho 400 membros e para te dar o meu apoio preciso disso ou daquilo. O que está por detrás destas alianças e por que os membros não podem ter o direito de escolher um representante que ele tenha mais simpatia?

Minha recomendação a todos os evangélicos é que avaliem quem são os indicados do seu pastor, avaliem o histórico e não votem porque o pastor ou pastora está pedindo para votar. Mais do que evangélico você é um cidadão que precisa ver sua cidade com o padrão de qualidade de vida exemplar, seja governado por um cristão ou não.

Tenho propriedade para escrever isso, porque fui, protestei, participei da mobilização e hoje não tenho do que me esconder porque não estou aliançado com àqueles que fui contra no ano passado.

Esdras Messias

contra aborto