Uma manifestação com gritos revolucionários. Foi assim que jovens e adultos saíram do Museu da República, na Esplanada dos Ministérios, em direção ao Congresso Nacional. Ali, no centro do poder, integrantes de pelo menos três grupos – Marcha do Vinagre, Marcha da Maconha e Apoio às manifestações de São Paulo e Copa pra Quem? – fariam, no final da tarde, um minuto de silêncio pedindo melhorias no transporte, educação e saúde e na gestão do dinheiro público.

No início da noite, os ânimos, já exaltados, deram lugar às ações rápidas e organizadas. Cerca de sete mil manifestantes – 5,2 mil segundo a Polícia Militar – driblaram o cordão de isolamento da polícia pelo espelho d’água e chegaram à marquise do poder.

Em frente às duas cúpulas – da Câmara dos Deputados e do Senado Federal – eles protestavam com cartazes, gritos e cantos do hino nacional. A bandeira do Brasil foi afixada no meio da marquise como símbolo do ato da marcha que apoiava, ainda, às manifestações realizadas em São Paulo e outros estados. No embalo, os gritos também reivindicavam uma melhor gestão do dinheiro público em razão dos investimentos na Copa das Confederações e Copa do Mundo 2014. E, ainda, em relação ao Projeto de Emenda Constitucional (PEC) 37, que limita o poder de investigação do Ministério Público.

No Poder Legislativo, além da marquise, a rampa de acesso ao Congresso Nacional foi tomada pela multidão. Acuados, as polícias Militar e Legislativa não retiraram a multidão da marquise quando o local já havia sido ocupado. No entanto, cerca de 500 policiais fizeram um cordão de isolamento para impedir a invasão do Congresso. Spray de pimenta e gás lacrimogêneo foram utilizados pela PM. Também chegou a se ouvir barulho de arma taser (que provoca choques), mas o uso do equipamento por parte da corporação não foi confirmado.

Por outro lado, os militares foram alvos de água atirada pelos manifestantes que estavam no espelho d’água. A Polícia Legislativa estacionou viaturas em frente à rampa do Congresso para tentar evitar a ocupação. Não teve jeito. A invasão ocorreu pela lateral.

No início da noite a aproximação ao Congresso se tornou mais intensa.  Eles chegar até a chapelaria, a poucos metros da entrada. Lá, a ação da polícia se tornou repressiva para impedir o acesso dos manifestantes ao interior do Congresso. Dentro, policiais legislativos ficaram a postos. Mesmo assim, os manifestantes jogaram um martelo dentro do Congresso e um vidro ficou rachado.

Políticos

E, apesar de um reforço na segurança, as vozes dos milhares de manifestantes não foram contidas. Os gritos eram direcionados aos PMs e a políticos – os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e José Sarney (PMDB-AP), o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) e a presidenta da República, Dilma Rousseff. Os senadores Inácio Arruda (PCdoB-CE), Eduardo Suplicy (PT-SP) e Paulo Paim (PT-RS) fizeram uma reunião, mas não desceram para negociar com os manifestantes uma vez que o grupo não tinha quem se colocasse como liderança.

Negociação no Congresso
 Dentro do Congresso, três líderes do movimento se reuniram com o policial legislativo Paulo de Tarso. O militar chegou a combinar com os jovens um encontro com alguns parlamentares, mas antes discutiu as pautas de reivindicações. Os manifestantes pediram prazos para uma possível reunião e solução por parte de senadores e deputados.
 No fim da noite, o diretor-geral da Câmara Federal, Sérgio Sampaio, e o chefe da Casa Militar do GDF, Rogério Leão, se reuniram para discutir a ação da PMDF em caso de tentativa de invasão no interior do Congresso. Um dos líderes do movimento, Wellington Fontenelli, 18 anos, destaca que a ocupação na casa legislativa não foi premeditada. O estudante classificou o ato como espontâneo.
“Agora, o povo está manifestando pelo simples fato de ser brasileiro. Foi um ato de orgulho, amor e paixão pela pátria. Esses são gritos de gol para mudar nosso País. Fora ditadura. Chega de pão e circo!”, disse. Horas antes, assim quando os manifestantes ocuparam o congresso, Fontenelli chegou a relatar que houve tumulto entre os próprios jovens, mas a ação começou por parte de poucos.
 “Alguns começam a puxar a briga e os demais foram atrás. O tempo todo tentamos evitar confronto. Agora, queremos identificar os que incitaram briga e retirar essas pessoas do grupo”, contou.
Pelo menos dois homens foram detidos pela polícia por tentar, inicialmente, ocupar o Congresso. Alguns jovens chegaram a acender  tochas,  e  assim que foram percebidas, policiais   apagaram as chamas.
Demonstração de insatisfação generalizada
 André Vargas, vice-presidente da Câmara, se reuniu com as autoridades do batalhão de choque   para decidir como agir. “Confiamos plenamente na polícia, mas que isso fique como aprendizado para garantir a integridade dos servidores que ainda estão aqui no trabalho, dos próprios manifestantes e da comunidade. Temos que parabenizar a operação, que mostrou que havendo contenção não há necessidade de impor força”, afirmou.
 Vargas entendeu também que a falta de uma pauta especifica dificulta a comunicação e uma possível resolução   do problema. “A melhor prevenção é o diálogo, mas não houve unidade no discurso. Eles mostraram uma insatisfação generalizada. São movimentos legítimos, mas sem uma pauta especifica fica difícil sentar com essas pessoas e conversar”.
O grupo saiu do Museu Nacional em direção ao Poder Legislativo às 17h. O acordo com a polícia  era que fossem ocupadas apenas duas faixas para o protesto. Contudo, depois de alguns minutos, jovens e adultos tomaram todo o Eixo Monumental, que ficou bloqueado para o tráfego de veículos a partir da Catedral. O objetivo era promover uma manifestação   pacífica, e estava entre os planos   fazer um minuto de silêncio em frente ao Congresso.  Dentre os manifestantes estava a aposentada Rosalba Nunes, 65 anos. “Vim pela paz. Luto por um Brasil melhor, por um país de harmonia”, destacou. (Colaborou Júlia Carneiro) sobre os protestos nas páginas 6, 16 e 20

Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.br