A bancada do DF no Congresso Nacional uniu forças para pedir explicações sobre a licitação do transporte público, marcada por denúncias de fraudes e supostos favorecimentos a empresas – como tem mostrado o Jornal de Brasília. Os parlamentares cobraram providências para que o processo resulte, realmente, na melhoria no serviço oferecido, com   transparência.

Dois ofícios, enviados ao governador Agnelo Queiroz, e ao secretário de Transportes, José Walter Vazquez Filho, questionavam o fato de as viações Pioneira e Piracicabana, que pertencem à mesma família, estarem envolvidas no processo. Além disso, os parlamentares demonstraram preocupação com a presença de nomes próximos a Durval Barbosa, delator do escândalo Caixa de Pandora, ligados à licitação.

À procuradora-geral de Justiça do Ministério Público do DF, Eunice Pereira Carvalhido, e ao presidente do Tribunal de Contas, Inácio Magalhães Filho, foram solicitados esclarecimentos sobre medidas adotadas e informações já levantadas sobre as possíveis irregularidades.

Todos os documentos foram assinados pelos senadores Cristovam Buarque (PDT) e Rodrigo Rollemberg (PSB), e pelos deputados Luiz Pitiman (PMDB), Izalci (PSDB), Jaqueline Roriz (PMN), Reguffe (PDT), Érika Kokay (PT) e Ronaldo Fonseca (PR).

PRIORIDADES

Com pesadas críticas às prioridades do GDF, Pitiman acredita que investimentos em áreas prioritárias estão sendo deixados de lado. “Essa cidade parece que virou uma festa de pão e circo. Me causa surpresa que nesse fim de semana que se gastará R$ 5 milhões em festa, sendo que o maior evento não está ocorrendo na Esplanada e sim no estádio”, disparou.

E para Cristovam, a aposta nos ônibus para solucionar o transporte público do DF é uma escolha questionável. “Estamos evoluindo no mundo inteiro, para sair do transporte de ônibus, para o VLTs, metrôs e outros sistemas de linha,  inclusive elétricos. Está se fazendo um acordo longo baseado em ônibus. Isso não vai resistir. Antes disso, deveria ser feita a continuação do metrô para Sobradinho e Planaltina, fazer a segunda linha, para Santa Maria, por exemplo”, defendeu.

A maneira como está sendo conduzido o processo também é uma preocupação do senador. “Cadê a transparência plena do processo de algo que vai durar 20 anos?  Isso exige uma licitação   cuidadosa”.

O auxiliar administrativo Leirton de Vasconcelos utiliza o transporte público diariamente e reclama do estado de conservação dos ônibus. Para ele, a licitação não será suficiente para resolver o problema. “Não tenho fé. Eles sempre dão um jeito de tirar vantagem com isso. Podem até conseguir uma melhora, mas não vai ser algo satisfatório”, desabafou. “Hoje mesmo peguei um ônibus que estava tão velho que as portas balançavam, fazendo um barulho ensurdecedor”, contou.

Foram mais de 40 minutos de espera para a atendente Cristiane Araújo, que precisava ir do Palácio do Buriti até a Rodoviária do Plano Piloto, um trajeto de cerca de 4 km. Quando o ônibus chegou, lotado, a passageira teve dificuldade de embarcar. “Nem os horários que o site do DFTrans mostra são cumpridos. Além disso, os ônibus estão em péssimas condições”, reclamou.

“Já perdi esperanças de que o transporte vai melhorar. Se continuarem as mesmas empresas, essa máfia, não vai mudar nada”, criticou.

De acordo com a restauradora Maria Inês Souza, falta planejamento de longo prazo  para evitar que mais pessoas precisem recorrer ao carro para se locomover. “É um ciclo vicioso. Enquanto não tiver planejamento, algo concreto, não vai adiantar nada. Frota nova de ônibus é só um paliativo, que não soluciona quase nada”, disse.

A moradora do Núcleo Bandeirante tem dificuldade para voltar para casa, já que a única linha que a atenderia  é inconstante. “No fim da tarde  é muito ruim”, relatou.

Consultoria suspeita

Conforme   o Jornal de Brasília mostrou, as supostas irregularidades começaram logo na elaboração do edital, que teve participação do   Consórcio Logit/Logitrans, integrado por uma empresa que tem Garrone Reck como um dos diretores.  O escritório Guilherme Gonçalves & Sacha Reck Advogados, que tem Sacha Reck, filho de Garrone Reck, como sócio, deu consultoria jurídica para a Comissão Permanente de Licitação da Setrans.

O mesmo escritório presta serviços   para a Transporte Coletivo Grande Bauru, do Grupo Constantino, e para a Viação Cidade Sorriso e a Auto Viação Marechal, do Grupo Gulin. A   Marechal ganhou a licitação para a bacia 4. A Viação Pioneira, do Grupo Constantino, foi a vencedora da bacia 2 e a Viação Piracicabana, ligada ao mesmo grupo, venceu a bacia 1.

A vencedora da bacia 4 também conseguiu participar do certame, mesmo após ter descumprido o regulamento. A Comissão de Licitação concedeu um estranho prazo extra para corrigir os erros.