Por Cris Oliveira

Em clima de euforia, demonstração de força política e foco no futuro, o MDB do Distrito Federal realizou no sábado (2) sua Convenção Estadual Ordinária, no auditório da Câmara Legislativa do DF (CLDF). Com casa cheia  estima-se a presença de mais de mil pessoas  o evento reconduziu o deputado distrital e presidente da CLDF, Wellington Luiz, à presidência regional do partido. O gesto simboliza a coesão interna da legenda e o fortalecimento das lideranças distritais rumo às eleições de 2026.

Além da aclamação de Wellington Luiz, a convenção formalizou a nova composição da Executiva Estadual do MDB-DF, que contará com nomes estratégicos da política local. Entre eles estão o deputado Iolando Almeida, que assume a liderança da bancada do partido na CLDF, e o também distrital Hermeto, que ocupará a função de secretário-geral. A tesouraria ficará sob responsabilidade do secretário de Governo, José Humberto Pires, uma das principais vozes do núcleo político do GDF.

Celina em campo e Ibaneis mirando o Senado

A convenção também serviu como palco para a consolidação da vice-governadora Celina Leão (PP) como pré-candidata ao Palácio do Buriti em 2026. Em discurso inflamado, o governador Ibaneis Rocha (MDB) reafirmou seu total apoio à sucessora. Recebido aos gritos de “Uh, papai chegou”, ele emocionou a plateia ao relembrar sua própria escolha como candidato ao governo durante a convenção de 2018.

Ibaneis conclamou a militância a trabalhar pela construção da maior bancada de deputados distritais e federais da história do MDB-DF, e também lançou uma sinalização clara sobre seu futuro político: deve deixar o cargo para disputar uma vaga no Senado em 2026.

“Vamos eleger a maior bancada de deputados distritais, os nossos federais e a nossa vice, Celina Leão, como governadora do Distrito Federal. E também vamos eleger o senador mais votado da história da capital”, afirmou o governador, em tom de despedida calculada.

Apesar do entusiasmo, lideranças internas ponderam que o cenário de 2026 ainda está em aberto, especialmente no que diz respeito à formação da chapa majoritária. Caso o MDB não seja contemplado com espaço de protagonismo, a legenda pode optar por apresentar candidatura própria ao GDF ou ao Senado, o que reconfiguraria a atual costura entre partidos aliados. O próprio Wellington Luiz, reconduzido à presidência regional, é visto como possível alternativa viável para a disputa.

Bastidores: cautela com Celina e desconfiança bolsonarista

 

Nos bastidores, comenta-se que embora o apoio de Ibaneis a Celina seja nítido, há Emdbistas com os pés atrás. A proximidade de Celina com a família Bolsonaro não se estende da mesma forma a Ibaneis Rocha, o que gera desconforto em setores mais independentes da legenda. Há quem tema que o grupo bolsonarista tente ocupar as duas vagas majoritárias em 2026  ao governo e ao Senado, deslocando aliados com títulos simbólicos para o Distrito Federal apenas para compor o jogo.

Nos bastidores, uma fonte ligada à cúpula emedebista foi categórica: “Se fechar com Celina e não fechar com Ibaneis, o acordo será desfeito”. A fala evidencia o grau de exigência do MDB para garantir protagonismo na aliança majoritária. O partido não aceita que o apoio à vice-governadora venha desvinculado do projeto de Ibaneis Rocha ao Senado. A leitura interna é clara: ou a chapa representa um pacto político completo  GDF e Senado  ou o MDB buscará alternativas próprias para 2026.

Outro ponto que tem movimentado os bastidores da sucessão no DF é a transferência do domicílio eleitoral da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que deixou o Rio de Janeiro para se tornar eleitora no Distrito Federal. A mudança, vista como indicativo claro de que ela disputará uma das duas vagas majoritárias em 2026  provavelmente o Senado, gerou críticas nas redes sociais, especialmente por parte de eleitores que consideraram o gesto oportunista e artificial. Embora lideranças bolsonaristas tratem sua candidatura como “certa e imbatível”, analistas políticos e até aliados mais cautelosos alertam que não há favoritismo garantido nas urnas  e que a derrota de Jair Bolsonaro em 2022 foi uma prova concreta de que projeção nacional não se converte, automaticamente, em vitória eleitoral. A movimentação também aumentou o grau de tensão com partidos locais, como o MDB, que defendem protagonismo de lideranças genuinamente radicadas no DF.

Além disso, operadores políticos locais avaliam que Michelle pode ser surpreendida pela reação negativa do eleitorado brasiliense diante da associação direta da família ao recente “tarifaço” anunciado por Donald Trump, que impacta exportações brasileiras. O tema tem ganhado tração nos bastidores do setor produtivo e pode respingar nos candidatos que ecoam o bolsonarismo puro.

A força da “Onda Amarela”

 

Um dos destaques visuais e políticos do evento foi a expressiva mobilização da chamada “Onda Amarela”, movimento de base liderado pelo deputado distrital Iolando Almeida. Com faixas, camisetas e balões amarelos, o grupo lotou as galerias do auditório em apoio ao parlamentar, que vem ampliando sua projeção além da tradicional base em Brazlândia. O gesto foi entendido como uma possível sinalização de novos voos políticos para Iolando em 2026.

“Nosso compromisso é com as pessoas, principalmente com as que mais precisam de inclusão e representatividade. A política é ferramenta de transformação e o MDB tem mostrado isso na prática”, afirmou o distrital em discurso ovacionado.

Presenças e articulações

A convenção contou com a presença de diversas autoridades, como os deputados Jaqueline Silva (MDB), Jorge Vianna (PSD) e o ex-vice-governador Tadeu Filippelli, além de suplentes e lideranças comunitárias de várias regiões administrativas. O evento também serviu para reforçar o compromisso do partido com as bandeiras sociais, a governabilidade e a articulação nacional para o fortalecimento da legenda.

Nos bastidores, a avaliação é de que o MDB sai da convenção mais fortalecido, mas com autonomia preservada para decidir seus rumos em 2026  seja como apoiador de Celina Leão ou como protagonista em candidatura própria.