A Avenida Paulista, em São Paulo, foi palco neste domingo (29) de um ato intitulado “Justiça Já”, organizado por apoiadores do ex-presidente da República Jair Bolsonaro. A manifestação teve como principais motes a contestação ao julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) e o pedido de anistia aos condenados pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas por manifestantes.
O evento, que concentrou o público principalmente no quarteirão entre o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e o Parque Trianon, contou com a presença de diversas autoridades públicas. Além do ex-presidente, participaram o pastor evangélico Silas Malafaia, principal articulador da mobilização, e os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo), Romeu Zema (Minas Gerais) e Jorginho Mello (Santa Catarina), que discursaram de um caminhão posicionado ao lado do Trianon.
Segundo levantamento realizado pelo Monitor do Debate Político do Cebrap e pela organização More in Common, a manifestação reuniu cerca de 12,4 mil pessoas no pico de concentração. A estimativa foi feita por meio de imagens captadas por drones e analisadas por softwares de inteligência artificial. Para efeito de comparação, o último ato de mesmo perfil realizado em 6 de abril registrou presença de aproximadamente 44,9 mil participantes.
Durante os discursos, Bolsonaro voltou a se declarar vítima de perseguição política e defendeu que seus apoiadores concentrem esforços para eleger uma maioria no Congresso Nacional em 2026. Também reiterou o pedido de anistia aos envolvidos no episódio de 8 de janeiro, classificando a medida como um “remédio constitucional para pacificar o país”.
O pastor Silas Malafaia criticou duramente o ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal que investiga Bolsonaro por suposta tentativa de golpe de Estado. Malafaia questionou a credibilidade da delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, e disse que o processo judicial se apoia em elementos frágeis.
Já o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, foi ovacionado pelo público ao defender a anistia e criticar a condução do atual governo federal. Segundo ele, o país enfrenta dificuldades diante do que classificou como “gastos desenfreados, juros altos e corrupção”. O governador também declarou que a missão política de Bolsonaro “ainda não acabou”.
Além dos temas centrais ligados ao processo judicial e ao cenário político nacional, os manifestantes também se posicionaram contra o recente decreto do governo federal que altera as regras do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e denunciaram fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) investigadas pela Polícia Federal.
A manifestação ocorre dois dias após o ministro Alexandre de Moraes ter aberto oficialmente o prazo para as alegações finais na ação penal que investiga o ex-presidente e outros sete réus. O despacho estabelece que a Procuradoria-Geral da República (PGR), o delator Mauro Cid e os advogados de defesa apresentem suas manifestações no prazo de 15 dias consecutivos, cada qual em seu momento processual.
Os denunciados respondem por cinco crimes: organização criminosa armada, tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado por violência e ameaça, e deterioração de patrimônio tombado. Somadas, as penas podem ultrapassar 40 anos de reclusão, segundo a denúncia oferecida pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.
O julgamento será conduzido pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, composta pelos ministros Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Cristiano Zanin, Luiz Fux e Flávio Dino. A expectativa é de que a análise da ação penal ocorra ainda no segundo semestre de 2025.