Um pacote de alterações para o novo Centro Administrativo vai encarecer a obra e distanciar o Poder Executivo do povo

12.dez.2013 12:29:07 | por Lilian Tahan

Vidros blindados, área cercada com grades, paredes em vez de divisórias baixas, salas mais espaçosas  para os secretários de Estado — todas com banheiro — e uma suíte privativa para o governador e a primeira-dama. Essas são algumas das mudanças em curso no contrato original de construção do novo Centro Administrativo do Distrito Federal, erguido entre Taguatinga, Ceilândia e Samambaia. A partir das alterações propostas, o plano de transferência da sede do GDF dará mais conforto e segurança aos burocratas. Em contrapartida, ficará menos acessível ao público e mais caro para a sociedade.

 

Quando foi concebida, em 2007, a ideia de levar a administração do Palácio do Buriti para a periferia se apoiou na promessa de tornar a gestão pública mais moderna e eficiente. Entre os benefícios, apontou-se, na época, a inversão do fluxo de deslocamento da maioria dos funcionários, que hoje sai de pontos distantes para trabalhar na região central de Brasília. Além disso, o governo ficaria mais próximo da população, pois naquela área vive quase 1 milhão de pessoas. Segundo o projeto original, a nova estrutura, orçada em 2,4 bilhões de reais (valor que inclui 22 anos de manutenção), acabaria com as divisórias entre repartições, uma forma de derrubar algumas das barreiras da burocracia. Cinco anos depois, muitas dessas justificativas perderam o sentido.

 

VEJA BRASÍLIA teve acesso a um documento que lista as medidas em negociação entre o governo e as empresas responsáveis pela obra — a Via Engenharia e a Odebrecht. A relação de mudanças inclui a blindagem dos vidros das salas onde despacham o governador e o vice-governador. Essa providência foi sugerida pela Casa Militar do GDF, que alega questão de segurança. A conta desse extra foi apresentada pelo consórcio: 8,9 milhões de reais. No Palácio do Buriti, a fachada não é à prova de bala.

 

 

Com o pacote de novidades, também se pretende instalar grades nos 97 000 metros quadrados do complexo. Essa providência dificulta o acesso ao público e não constava no contrato inicial. Custará outros 955 671 reais.

 

No projeto de 2007, a área onde ficariam instalados os secretários de Estado seria de uso comum, com divisórias baixas. A opção, defendiam os autores da ideia, favorece o intercâmbio entre gestores e diminui a burocracia. Testado na gestão de José Roberto Arruda em um propótipo do novo Centro Administrativo, improvisado no quartel-general da Polícia Militar, em Taguatinga, o sistema não ganhou adeptos de peso. A perda de privacidade causou grande incômodo aos integrantes do primeiro escalão. Sem apoio do atual governo, o tradicional estilo de despachar deve perpetuar-se. Os secretários não só voltam a ter salas com paredes como recebem gabinetes dotados de banheiro privativo e generosas áreas úteis: entre 45 e 57 metros quadrados. Dois milhões de reais será o custo do upgrade no projeto.

 

A maioria dos pedidos de alterações partiu do GDF, embora o consórcio responsável pela construção também tenha sugerido adendos. Se todas as modificações forem aprovadas pelo Executivo, haverá um acréscimo de 34 milhões de reais na obra. Na recente planilha estão previstas ainda melhorias como a construção de uma suíte de 60 metros quadrados para uso exclusivo do governador e da primeira-dama, mais catracas de acesso ao complexo — com detectores de metal —, uma sala de armas, duas salas para motoristas, alojamentos e duas cozinhas.

 

Por um lado, a inclusão de alguns itens no projeto demonstra que as modificações no complexo vão tornar o dia a dia de burocratas e políticos mais aprazível. Por outro, nota-se que a população perderá em conforto. Isso ocorrerá com a desistência de construir na sede do GDF uma unidade do Na Hora. Trata-se de um posto que atende os cidadãos interessados em serviços como retirada de documentos, segunda via de contas, “nada consta” e emissão de passaporte.

 

Responsável pela manutenção e conservação do Centro Administrativo, a Secretaria de Planejamento informa que as alterações ainda estão em fase de análise. Para serem confirmadas, dependem de aprovação. De acordo com o secretário da pasta, Paulo Antenor, as mexidas são parte das necessidades detectadas pela atual gestão, que não é a autora do projeto original. “Não são alterações nababescas, mas envolvem medidas estritamente voltadas para a segurança e para o melhor aproveitamento do espaço”, afirma Antenor. Ele diz que a exclusão do posto do Na Hora se deve ao fato de em Taguatinga já existir um serviço desse tipo.

 

O processo de emendas parece não ter chegado ao fim. Na terça (10), foi enviado à Secretaria de Planejamento um novo aditamento proposto pelo consórcio: a inclusão da compra de móveis como mesas, cadeiras, divisórias e armários para o complexo no valor de 91 milhões de reais. O chefe da Casa Militar, coronel Rogério Leão, defende a ideia de que as intervenções de agora são para corrigir erros cometidos no passado. “Trata-se de um projeto com equívocos grosseiros. Ou parece razoável a construção de um heliponto sem conexão com a garagem?”, questionou Leão, referindo-se ao elevador privativo incluído na obra.

 

 

 

 

Benfeitorias para as autoridades

 

Os adendos ao contrato do novo endereço que tornam o dia a dia dos gestores mais seguro e confortável

 

 

(Foto: Roberto Castro)

 

Está prevista a blindagem de 1 053 metros quadrados da fachada da governadoria. Em 2008, o Palácio do Planalto entrou em reforma e o gabinete do então presidente Lula seria transferido para o Buriti. A mudança não ocorreu porque o prédio do GDF não tinha vidro à prova de bala.

 

 

(Foto: Roberto Castro)

 

Secretários e assessores terão 116 salas de, pelo menos, 45 metros quadrados, com banheiro. Em Brasília, uma quitinete-padrão possui 30 metros quadrados.

 

 

 

(Foto: Roberto Castro)

 

Foi incluída no contrato original a construção de uma sala privativa e de um elevador exclusivo que ligará a garagem do complexo ao heliponto. Essas intervenções, segundo o consórcio, não terão ônus.

Fonte: Veja Brasil